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Ao convencer o Irã a aceitar o intercâmbio de material nuclear, eventualmente reduzindo os temores de que o país possa desenvolver armas nucleares, Brasil e Turquia se colocavam de maneira praticamente inédita no centro de uma disputa global.

Os dois países podem ter obtido uma grande conquista diplomática com o acordo assinado nesta segunda-feira em Teerã. Ou podem ver o fato ser minimizado por grandes potências, temerosas de que as concessões sejam poucas e tardias demais para afastar as preocupações relativas ao programa nuclear iraniano.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro da Turquia, Tayyip Erdogan, fizeram uma aposta com o seu prestígio internacional, condicionando-o ao cumprimento dos compromissos assumidos pelo Irã.

Brasil e Turquia ocupam vagas temporárias no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), e cobiçam um papel maior na arena internacional. Mas críticos dizem que Lula e Erdogan podem ter superestimado suas capacidades na abordagem ao Irã.

"A Turquia assumiu um grande risco porque isso pode se revelar muito constrangedor", disse Faruk Logoglu, ex-embaixador turco em Washington. "O Irã é um jogador muito astuto neste jogo."

Os Estados Unidos acham que o Irã tentará se aproveitar das incertezas e divisões que opõem, de um lado, as potências ocidentais, e, de outro, a Rússia e a China, que relutam em aceitar novas sanções. Os céticos de Washington podem ver o acordo com o Irã como mais uma manobra, na qual Turquia e Brasil seriam ingenuamente instrumentalizados.

O desespero de Erdogan para superar o impasse entre o Ocidente e o Irã e para impedir mais sanções da ONU ao país vizinho, no entanto, é compreensível.

A Turquia está se recuperando vigorosamente da recessão, e Erdogan, um líder islâmico moderado, aposta nisso para tentar conquistar um terceiro mandato no ano que vem.

As sanções ao Irã afetariam duramente a Turquia. O país tem um comércio de 11 bilhões de dólares com a República Islâmica, de onde compra quase 30 por cento de seu gás.

A rivalidade histórica entre Turquia e Irã teria deixado o Irã relutante em ceder a Erdogan todo o crédito por um eventual acordo. O envolvimento de Lula eliminou tais restrições.

Agenda de Lula

Como líder de um país distante e economicamente blindado dos impactos de uma crise no Irã, e já no fim de seu segundo mandato, Lula tem bem menos a perder do que Erdogan.

Seu governo costuma ser criticado pela política externa tímida em certos aspectos, que evita o confronto em questões de direitos humanos.

Em 2009, Lula disse que o tumulto pós-eleitoral no Irã era parte de uma disputa política rotineira, ao contrário de outras potências mundiais, que criticaram duramente o governo iraniano.

Mediar um acordo com o Irã pode ajudar o Brasil a demonstrar sua musculatura diplomática como líder do mundo em desenvolvimento, além de ajudar Lula a se tornar um ativista global contra a pobreza depois que deixar a Presidência, em janeiro.

Mas Lula também corre o risco de se distanciar do governo dos Estados Unidos, já descontente com sua posição a respeito do Irã. Caso a aposta dele fracasse, ele pode ser criticado por sua inexperiência em grandes questões internacionais.

O ministro das relações exteriores do Brasil, Celso Amorim, informou que o presidente Lula conversou com a secretária de Estado norte-Americana, Hillary Clinton, e com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, e deu detalhes sobre o acordo.

Lula também conversou por telefone com o presidente russo, Dmitry Medvedev, que o cumprimentou, dizendo que o acordo era fruto de uma vitória pessoal do presidente brasileiro. Lula teria retrucado, dizendo que a vitória é de todos os países envolvidos no processo.

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