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Entoando coro de “morte à América”, parlamentares linha-dura do Irã queimaram bandeira dos EUA em sessão parlamentar desta quarta-feira (9) | HOAFP
Entoando coro de “morte à América”, parlamentares linha-dura do Irã queimaram bandeira dos EUA em sessão parlamentar desta quarta-feira (9)| Foto: HOAFP

O ministro do Exterior da França, Jean-Yves Le Drian, afirmou que o acordo nuclear com o Irã “não está morto” apesar da decisão de retirada dos Estados Unidos. Outras lideranças da Europa também continuam comprometidas com o acordo firmado em 2015 e planejam se envolver diretamente com o Irã na esperança de manter vivo o pacto que colocou limites ao programa nuclear do Irã em troca da suspensão das sanções internacionais.  Autoridades de França, Reino Unido, Alemanha e Irã vão se reunir na segunda-feira (14) para tratar do assunto.

Rússia e China, que também são signatárias do acordo, lastimaram a decisão dos EUA.

Federica Mogherini, chefe de política externa da União Europeia, disse que o bloco continuará “comprometido com a implementação total e efetiva do acordo nuclear” enquanto o Irã mantiver o pacto. A agência de vigilância nuclear da ONU (Organização das Nações Unidas) disse que o Irã não violou as disposições acordadas.

Entenda: O que é o acordo nuclear com o Irã e por que ele é criticado?

Além da importante ruptura política com Washington, os interesses econômicos de empresas europeias com negócios no Irã tendem a ser atingidos pelas sanções americanas, uma vez que novos contratos a serem firmados com o governo ou empresas iranianas serão alvo de represálias dos EUA. Washington anunciou uma espécie de período de carência para que as firmas estrangeiras que já têm contratos em vigor se retirem do país.

Segundo o Departamento do Tesouro dos EUA, os contratos firmados entre empresas estrangeiras e o Irã passariam a ser alvo de sanções após um período de transição, que pode ir de 90 a 180 dias. Nesse caso, companhias europeias como Airbus, que tem negócios de € 10 bilhões com os iranianos, seriam afetadas após o prazo de carência, já que firmaram contratos com Teerã a partir de 2015

Os países europeus estudam, pelo menos, duas maneiras de burlar as sanções econômicas e a pressão sobre Teerã.

A primeira seria a reedição de uma medida existente desde 1996 e usada no período de vigência da lei americana Helms-Burton, que previa sanções contra empresas estrangeiras com atividades em Cuba. Pelo mecanismo europeu, empresas que atuam no Irã teriam a garantia de Bruxelas de que não seriam financeiramente penalizadas pelas sanções americanas. 

A segunda é um programa de crédito do Banco Europeu de Investimentos (BEI), que daria linhas de crédito a empresas que têm negócios no Irã e enfrentarão penúria de recursos em razão do impacto das sanções sobre bancos internacionais.

Para analistas, a questão é se as empresas considerarão que o "escudo europeu" dá segurança jurídica suficiente para continuar a negociar contratos no Irã. Para o cientista político alemão Joseph Janning, do Centro Europeu para Relações Internacionais, a estratégia americana de sair do acordo, mas deixando um tempo aos europeus para renegociar com o Irã, pode ser entendida como uma estratégia para arrancar algo mais de Teerã.  "A saída de Trump do acordo contém um elemento temporal. Ele vai tentar aumentar a pressão sobre os países signatários do acordo para que lhe entreguem algo a mais", afirma Janning. "Podemos chamar isso de blefe. Sair do acordo seria contra os interesses dos EUA." 

Ameaças do Irã

O presidente iraniano, Hassan Rouhani, afirmou que, por enquanto, continuará a respeitar o pacto nuclear e ordenou que seus diplomatas negociassem com os signatários restantes - incluindo os países europeus, Rússia e China. O chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarif, disse que "encabeçará um esforço diplomático para verificar se os participantes restantes podem garantir seus benefícios para o Irã".

Mas caso o governo decida que as necessidades do país não estão sendo atendidas, Rouhani alertou que o Irã começará a enriquecer urânio além dos níveis permitidos em “algumas semanas”. “Se, a curto prazo, concluirmos que podemos alcançar o que queremos do acordo nuclear, o acordo sobreviverá”, disse Rouhani em um discurso televisionado. Caso contrário, segundo ele, a Organização de Energia Atômica do Irã estará preparada para o enriquecimento ilimitado de urânio. Rouhani chamou as táticas de Trump de "guerra psicológica" e pediu aos iranianos que resistissem à pressão dos EUA.

O Comitê Nuclear do parlamento iraniano havia publicado três ações que o governo pode tomar com a saída dos EUA do acordo, incluindo a instalação de mais centrífugas e o aumento do enriquecimento de urânio. O urânio enriquecido pode ser usado como combustível para usinas nucleares ou, se enriquecido em níveis muito mais altos, como material físsil para armas nucleares.

Leia também: Três acordos internacionais abandonados por Donald Trump

Política interna

Os recentes acontecimentos suscitaram um crescente debate entre facções políticas no Irã a respeito do que fazer sobre o anúncio dos EUA. Alguns políticos pediram ao governo que continue trabalhando com a Europa para salvar o acordo, enquanto outros comemoraram a saída dos americanos.

"Se os europeus estiverem dispostos a nos dar garantias suficientes, faz sentido que permaneçamos no acordo", disse o vice-presidente do Parlamento iraniano, Ali Motahari, em declaração à Agência Iraniana de Notícias dos Estudantes. O parlamentar defende que o Irã deve esperar vários meses para ver se a Europa planeja resistir à pressão dos EUA para se desvincular da economia iraniana, onde as empresas europeias investiram em setores que vão desde a fabricação de automóveis até a exploração de petróleo e turismo.

Já a ala mais linha dura do parlamento está comemorando a saída dos EUA, pois vê nesta decisão uma oportunidade para consolidar seu poder sobre os reformistas, os quais lideraram o pacto internacional firmado em 2015. “Eu parabenizo a retirada dos EUA do pacto, que não era confiável antes mesmo da retirada... Ficou provado mais uma vez que os EUA não são confiáveis em relação aos seus compromissos”, declarou o comandante da Guarda Revolucionária do Irã, Mohammad Ali Jafari, à agência de notícias semi-estatal iraniana Fars.

Na abertura da sessão do Parlamento iraniano desta quarta-feira (9), um grupo de congressistas linha-dura, queimou uma bandeira dos Estados Unidos representada em papel enquanto puxavam o coro “morte à América”.

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