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Militantes do Estado Islâmico desfilam nas ruas de Raqqa, no norte da Síria; mais de 1 mil franceses estão ligados ao grupo radical | Reuters
Militantes do Estado Islâmico desfilam nas ruas de Raqqa, no norte da Síria; mais de 1 mil franceses estão ligados ao grupo radical| Foto: Reuters

Centenas

Não há números exatos, mas em diversos países da Europa centenas de jovens estão indo para a Síria e para o Iraque, e outros tantos voltando. Na Holanda, cerca 130 pessoas já deixaram o país, das quais quase 30 já retornaram e 14 morreram. Para a França, 200 já voltaram decepcionados.

Tribunal

A jovem que foi resgatada pela mãe na Síria foi detida após chegar à Holanda sob a suspeita de delitos que ameaçam a segurança do Estado. O juiz prolongou sua detenção por três dias para que ela fosse interrogada .

  • Jovem de origem portuguesa Michaël dos Santos virou radical
  • Nasse muthana, 20 anos
  • Aseel Muthana, 17 anos

A forte presença do jihadismo radical dentro das fronteiras da França está gerando inquietação no país. A mais recente expressão desse radicalismo se deu na presença do jovem normando Maxime Hauchard e do francês de origem portuguesa Michaël dos Santos, identificados na última quarta-feira nas fileiras do Estado Islâmico (EI).

Os casos de Hauchard e Santos, que aparecem no vídeo em que os carrascos do EI decapitam o refém americano Peter Kassig, estão longe de ser isolados, afirmou o procurador-geral de Paris, François Molins, e exemplificam "uma disputa de amplitude inédita na França".

O Ministério do Interior contabilizou 1.132 cidadãos franceses vinculados às redes jihadistas que operam na Síria e no Iraque, aos quais se devem somar os 99 com procedimentos abertos e os 76 detidos.

Para David Thomson, jornalista e autor de Les Français Jihadistes (Os Franceses Jihadistas, em tradução livre), as razões do fenômeno são várias e devem ser buscadas "no êxito da ‘ciberjihad’ e nas redes sociais, por um lado, e na proximidade geográfica do conflito sírio", por outro.

Alvos prioritários da propaganda terrorista, os jovens se radicalizam através da internet com vídeos de propaganda e o livre acesso à literatura jihadista, "que nunca tinha estado tão acessível", disse.

As redes sociais, relatou o analista, permitem "conexões via Facebook à pessoa que, horas antes, vimos executar alguém".

"Razões pessoais, a frustração social e a insatisfação por se sentir às margens do sistema também influenciam" , avaliou Thomson, antes de ressaltar que a origem étnica dos recrutados "não é tão importante como se acredita".

Insatisfação

Segundo o Ministério do Interior, dois terços dos jihadistas em solo francês possuem passaporte francês, uma população jovem e heterogênea que inclui uma alta porcentagem de convertidos, que chega a 20%, entre os quais Thomson contabiliza indivíduos de origens diversas, como coreana, vietnamita e portuguesa, como o próprio Santos.

Um relatório elaborado para o governo pelo Centro de Prevenção contra as Derivas Sectárias Ligadas ao Islã, ao qual a agência Efe teve acesso, garante que "80% das famílias envolvidas se declaram ateias".

"O Estado Islâmico busca situar os muçulmanos em um pensamento transnacional, pelo qual sua identidade e status deixam de ser vinculados a uma nacionalidade, um estado ou raízes", estabeleceu o estudo.

As conclusões minimizam a importância dos "argumentos migratórios e religiosos" para apontar motivos de exclusão social, e confirmam que a faixa etária que vai de 15 a 21 anos é o alvo predileto das redes do islamismo radical.

O especialista em terrorismo Jean Charles Brisard, professor do Institut d’Études Politiques de Estrasburgo (IEP), acredita que "os convertidos são uma minoria que sofre de conflitos de identidade".

Sob a promessa de fabricar "pessoas sem limites", as estratégias de sedução mais frequentes são os heroicos, pretextos humanitários e referências a videogames como Call of Duty para atrair jovens fascinados pela ideia de combate.

Famílias descrevem choque de ver filhos associados a terroristas

Reuters

O engenheiro eletricista aposentado do País de Gales Ahmed Muthana não se conforma com o destino dos filhos Nasser, de 20 anos, e Aseel, de 17 anos, "Você sabe o quanto dói criar alguém e ver a pessoa crescer e de repente ela vai embora?", pergunta o pai, de 57 anos. Os dois foram lutar com o Estado Islâmico. Ele divaga facilmente, falando sobre o filho mais velho estudioso, que entrou na faculdade de medicina, e do caçula, mais agitado e atlético. "

"O menor [Aseel] queria ser um nadador olímpico e professor de inglês. Nasser gostava de ciência e queria ser médico", conta o pai. "Nasser sempre estava preocupado, principalmente com os estudos, e Aseel gostava de se divertir."

Então, sem aviso, os dois desapareceram. "Nasser nos disse que ia para Birmingham, e em seguida descobrimos que está na Síria", afirmou. "Aseel disse que tinha uma prova e de repente está no Chipre."

A família foi arrastada para os holofotes nesta semana, quando Ahmed declarou a jornalistas que acreditava que Nasser era um dos combatentes do Estado Islâmico em um vídeo mostrando decapitações.

Equipes de televisão acamparam do lado de fora da casa perto do centro da capital galesa, Cardiff. Agora, o pai diz que se enganou em um primeiro momento: embora seus filhos estejam lutando com o Estado Islâmico, não estavam entre os homens vistos no vídeo da decapitação de soldados sírios. Isso bastou para convencer as equipes a irem embora.

Holandesa viaja e resgata filha que se uniu ao EI

Efe

A história de Monique, uma holandesa que viajou à Síria para resgatar a filha jihadista de 19 anos, comoveu a Holanda, um dos países europeus mais preocupados com o assunto devido às mais de cem pessoas que deixaram o país para se juntar a grupos extremistas.

Monique, que não quis divulgar seu sobrenome, embora suas fotos estejam nos jornais de todo o país, viajou duas vezes à Síria para resgatar a filha, que expressou o desejo de voltar para casa. A mãe viajou mesmo com o alerta da polícia sobre os perigos da cidade de Raqqa, controlada pelas milícias do Estado Islâmico (EI).

Natural de Maastricht, Monique foi para a Síria após falar com a filha pelo Facebook. Foi sua segunda viagem ao país árabe. Antes, tentou chegar à Síria em outubro, mas não conseguiu. Fontes do Ministério de Segurança e Justiça holandês afirmam que ambas estão em casa desde quarta-feira.

"Às vezes você tem de fazer o que é preciso. E acho que fiz bem. Ela queria voltar para casa, mas não podia deixar Raqqa sem ajuda", disse a mãe ao portal de notícias holandês Limburg.

Convertida ao islã com 18 anos, a jovem passou a se chamar Aicha e se casou com um ex-militar holandês de origem turca, que se tornou jihadista e adotou o nome Omar Yilmaz. Ambos se conheceram através das redes sociais. Antes de viajar para a Síria, a jovem foi questionada pela família, que tentou convencê-la a mudar de ideia.

Segundo a advogada da família, Françoise Landerloo, não foi possível impedir a viagem por se tratar de uma maior de idade.

Aicha e Omar viajaram à Síria em fevereiro. No início, a jovem manteve contato com a família, mas "desde maio deixou de responder mensagens e e-mails", contou Landerloo. O casal se separou pouco tempo depois de viajar ao país árabe. Aicha voltou a ligar para a mãe, para voltar ao país.

"Foi um encontro apaixonante. E é extraordinário que a mãe tenha conseguido encontrar e resgatar a filha", disse a advogada.

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