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Tropas

Afeganistão assumirá controle de combates até metade de 2013

Os militares afegãos vêm adotando posições de liderança em operações, mas algumas unidades sofrem com deficiências que as fazem depender dos americanos para obter até mesmo água potável

Sem deixarem claro como o Afeganistão conseguirá, sozinho, vencer uma guerra que, após uma década, a maior aliança militar do mundo continua a lutar sem perspectivas de fim, os líderes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) formalizaram na segunda-feira a decisão de retirar, até 2014, as tropas estrangeiras do conflito. A França, que já tinha causado desconforto ao anunciar que seus militares só ficam até 2012, também se mostrou reticente em dar mais dinheiro para apoiar as Forças Armadas afegãs.

O cronograma ratificado de segunda-feira na Cúpula de Chicago segue o que já vinha sendo previsto por Obama para as tropas americanas - que constituem 70% do total de 130 mil combatentes estrangeiros no Afeganistão. A transição é qualificada como "irreversível" na declaração final do encontro.

Até a metade de 2013, as Forças Armadas afegãs serão responsáveis por todas as missões de combate no país, apesar de o Taleban - como admitiu o presidente americano, Barack Obama - continuar a ser um inimigo "robusto".

Os militares afegãos vêm adotando posições de liderança em operações, mas algumas unidades sofrem com deficiências que as fazem depender dos americanos para obter até mesmo água potável. Num futuro próximo - cuja data não é mencionada na declaração - a força afegã estará responsável pelo território onde vivem 75% da população. O último militar estrangeiro sairá até 31 de dezembro de 2014.

"Nós conseguiremos chegar a um Afeganistão estável que não será perfeito... e poderemos começar a reconstruir os EUA", disse Obama.

Um oficial britânico considerou "irrealista pensar que o Afeganistão estará completamente seguro e que não há possibilidade de o terrorismo voltar a emergir".

Longa e custosa, a Guerra do Afeganistão, iniciada pouco após os ataques do 11 de Setembro, se tornou impopular num contexto de crise econômica internacional, no qual os eleitores de diversos países da aliança demonstram cada vez mais sua oposição a gastos no conflito. Sair do conflito se tornou tema central de várias campanhas.

Mesmo depois da retirada, a Otan estima que serão necessários US$ 4,1 bilhões por ano para financiar a defesa afegã e tentar evitar um fracasso completo. Os EUA querem obter pelo menos US$ 1,3 bilhão junto aos demais aliados.

O presidente francês, François Hollande, que venceu as eleições prometendo a retirada antecipada em 2012, impôs condições para contribuir. Os EUA cobraram "um pouco menos" de US$ 200 milhões de dólares de Paris, um valor próximo aos US$ 190 milhões prometidos pela Alemanha - o Reino Unido dará US$ 110 milhões.

"Nós vamos estudar o pedido de financiamento. Mas colocamos uma condição, que é saber se essas contribuições estão sendo administradas efetivamente", afirmou Hollande. "Não temos um valor definido, mas não estamos amarrados ao que a Alemanha ou qualquer outro país venha a dar."

Taleban elogia posição de Paris e promete combate

Num comunicado emitido sobre a Cúpula da Otan, o Taleban elogiou a declaração de Hollande sobre a retirada adiantada das tropas e prometeu continuar a combater.

Além da indefinição sobre o resultado final da guerra, os aliados também saíram de Chicago sem conseguir obter do Paquistão um aval para voltar a usar o território do país como rota de suprimento às tropas no Afeganistão. Islamabad suspendeu a cooperação depois que 24 militares paquistaneses foram mortos, por engano, num ataque da Otan no ano passado.

Uma impasse entre os governos dos Estados Unidos e do Paquistão parece estar aumentando durante a cúpula da Otan em Chicago. Barack Obama não agendou um encontro privado com o presidente paquistanês Asif Ali Zardari, em um sinal de que as tensões entre os dois países estão crescendo, podendo comprometer os planos americanos de uma retirada organizada das tropas internacionais do Afeganistão em 2014.

As relações entre os dois países começaram a piorar por causa do fechamento de rotas de abastecimento para o Afeganistão. O Paquistão bloqueou os caminhos estratégicos em resposta a um ataque aéreo americano que matou 24 soldados paquistaneses em novembro. A operação americana que matou o terrorista Osama bin Laden em solo paquistanês também é motivo de controvérsia.

O governo americano tinha esperanças de que Zardari anunciasse a reabertura das rotas essenciais para a Otan quando chegasse aos EUA para a cúpula da Otan. Mas, em conversa com a secretária de Estado Hillary Clinton neste domingo, o paquistanês fez uma série de demandas, como o pedido público de desculpas pelas mortes e o aumento da cobrança de uma taxa por cada veículo que usar o caminho, dobrando a tarifa já existente para US$ 500.

Um porta-voz do presidente paquistanês disse que Zardari disse a Clinton que ele queria "encontrar uma solução permanente para o problema do avião não tripulado, já que o episódio não apenas violou a soberania paquistanesa como também inflamou os sentimentos públicos por causa das vítimas civis inocentes". Os EUA usam aviões não tripulados para atacar suspeitos de pertencer ao Taleban e à Al-Qaeda.

governo americano já se mostrou arrependido pela morte de soldados paquistaneses, mas está relutando em fazer um pedido de desculpas, por medo de que a atitude seja retratada pelos adversários republicanos como um sinal de fraqueza. O vice-conselheiro de segurança nacional dos EUA, Ben Rhodes, afirmou, após o encontro, que os dois lados "estão indo na direção certa".

Com a rota paquistanesa fechada, a Otan é obrigada a usar outros trajetos, que são mais caros e demorados.

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