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O presidente afegão, Ashraf Ghani, fala durante conferência no Palácio Presidencial, em Cabul | SHAH MARAI/AFP
O presidente afegão, Ashraf Ghani, fala durante conferência no Palácio Presidencial, em Cabul| Foto: SHAH MARAI/AFP

O governo do Afeganistão, pressionado por uma violenta escalada nas atividades terroristas do Taleban, decidiu fazer uma oferta inédita ao grupo extremista para buscar a paz no país -que desde a invasão soviética de 1979 não conhece um ano de paz.  

O presidente afegão, Ashraf Ghani, disse que o Taleban será reconhecido como partido político em negociações, terá prisioneiros soltos e combatentes, anistiados.  

Um processo semelhante ao que promoveu a paz entre o governo da Colômbia e a guerrilha das Farc em 2016.  

"Estamos fazendo essa oferta sem precondições de modo a que leve a um acordo de paz", disse Ghani, que sempre classificou o Taleban como terrorista, em conferência com 25 países em Cabul.  

Não houve resposta do grupo, que até recentemente vinha criticando a reunião na capital. 

Mas houve sinalizações recentes de que o Taleban poderia aceitar negociar com o governo afegão.  

Violência

Isso ocorreu na esteira de ataques mortíferos contra alvos frequentados por ocidentais na capital do país. Segundo a ONU, a violência no país matou 3.438 pessoas no Afeganistão em 2017.  

O Taleban está sob pressão desde que o governo Donald Trump recrudesceu sua retórica e cortou assistência financeira ao Paquistão. Os EUA aumentaram para 14 mil o número de soldados no Afeganistão no ano passado.  

É um segredo de polichinelo que fundos dos serviços de inteligência do país vizinho acabam chegando ao grupo extremista, que ficou no poder de 1996 a 2001 com fomento direto de Islamabad.  

O grupo era parte da guerra civil que tomou o país após a turbulenta retirada soviética, em 1989. Representante da maioria (40% da população) pashtun, o Taleban rapidamente tornou-se a força dominante no país.  

O grupo abrigou a cúpula da Al Qaeda, veterana do combate à ocupação da União Soviética. De lá, Osama bin Laden ordenou os ataques do 11 de setembro de 2001, que atraíram a represália americana que expulsou o Taleban do poder e jogou o país em conflito desde então.  

A reação de Washington ainda é incerta. Além do aumento de tropas, no começo deste ano, o presidente afirmou que não negociaria a paz com o Taleban.  

Resta agora saber se era uma bravata para tentar forçar os lados a conversar ou se haverá algum antagonismo com o governo em Cabul.  

O reconhecimento de combatentes como atores políticos legítimos encontra exemplos na história recente, como no caso das Farc ou do IRA, na Irlanda do Norte.  

Interesses econômicos também falam alto: o próprio Taleban já deu apoio público a um gasoduto que vai ligar o Turcomenistão à Índia, passando por território afegão e deixando aproximados US$ 500 milhões anuais em impostos no país.

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