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Mesmo pressionado por China e Rússia, os EUA de Obama dizem apoiar as ações do Tribunal Penal Internacional | Kevin Lamarque/Reuters
Mesmo pressionado por China e Rússia, os EUA de Obama dizem apoiar as ações do Tribunal Penal Internacional| Foto: Kevin Lamarque/Reuters

Entrevista com Serena Brawer

Qual a situação dos direitos humanos no Sudão, depois da decisão de Al-Bashir de expulsar 13 ONGs humanitárias?

É incrivelmente precária. As pessoas são extremamente vulneráveis e não têm opção, a não ser confiar nas doações de alimentos, água e material medico básico. As operações humanitárias sempre enfrentaram enormes desafios, mas até aqui haviam sido capazes de contornar problemas e evitar uma catástrofe de grandes proporções, em função da fome e de epidemias. Agora, estas operações estão sob ameaça e, com elas, as vidas de milhões de pessoas.

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Nova Iorque - O primeiro grande teste para a política externa de Barack Obama veio de onde menos se esperava: dos conflitos na África.

A próxima reunião do Conselho de Segurança da ONU — que decidirá sobre a suspensão da ordem de prisão emitida pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) contra o presidente do Sudão, Omar al-Bashir, por crimes contra a Humanidade — vai afinal revelar ao mundo se a defesa dos direitos humanos é mesmo a pedra angular da nova política externa norte-americana, ou esta é uma prioridade menor na longa lista de problemas a serem enfrentados por Obama.

China e Rússia apoiam a suspensão da ordem de prisão, o que deixa as democracias com direito a veto no conselho — França, Reino Unido e EUA — em posição delicada.

A nova embaixadora norte-americana na ONU, Susan Rice, fez carreira acadêmica com estudos sobre África e ações humanitárias em países como Sudão, Congo e Ruanda, mas até agora tem evitado oficialmente posições de confronto com a China, para não abrir novas fontes de tensão internacional num momento de crise financeira mundial.

Em nota oficial, ela declarou que "os EUA apoiam as ações do TPI para levar ao banco dos réus os responsáveis pelos crimes odiosos ocorridos em Darfur, mas o governo americano também está engajado em construir e fortalecer um processo de paz duradoura na região".

Some-se a isso a expulsão de 13 organizações humanitárias do Sudão, ordenada pelo presidente Al-Bashir, e os 2,7 milhões de pessoas que tiveram de fugir de suas casas — muitas delas para campos de refugiados — às voltas com a escassez de comida, água e remédios. E está armada a bomba-relógio que pode em breve fazer voltar ao noticiário imagens de milhões de vítimas de uma tragédia humanitária de proporções catastróficas.

"Há um conflito evidente entre paz e justiça no caso do Sudão. A ordem de prisão do TPI caiu num vácuo global. E se o Conselho de Segurança reforçar a ordem do tribunal e apoiar ações para a prisão imediata de al-Bashir, o conflito interno no Sudão vai agravar-se ainda mais", avalia Dirk Salomons, diretor do Programa de Assuntos Humanitários da Escola de Assuntos Públicos e Internacionais da Universidade de Columbia, em Nova Iorque.

Segundo ele, há um justificado clamor por justiça diante dos crimes cometidos pelo governo do Sudão e uma eventual impunidade de Al-Bashir seria um sinal altamente negativo para todas as ditaduras africanas e uma tragédia para milhões que vivem em Darfur.

Salomons acha que a divisão vai paralisar o Conselho de Segurança e que a crise humanitária em Darfur vai elevar a pressão para que Obama tome decisões unilaterais.

Às voltas com a queda do preço do petróleo, o governo sudanês não terá condições de suprir milhões de desabrigados com água, alimentos e remédios para evitar uma tragédia. Em poucas semanas, os resultados podem começar a aparecer, como aconteceu nas tragédias da Etiópia e em Ruanda.

Para Salomons, isso poderia levar a opinião pública nos países ocidentais a pedir uma intervenção internacional. A forma mais eficiente de pressão para que haja uma mudança no Sudão é radicalizar o isolamento da economia do país. O Sudão é governado por 11 famílias e seria preciso fazer essa elite perceber que não é bom para os negócios ter imagem tão negativa na comunidade internacional.

O caminho mais eficiente seria declarar um bloqueio internacional de armas e negócios ao Sudão, minar o apoio interno a Al-Bashir e isolar seu regime, sobretudo no que se refere às exportações de petróleo.* * * * * *

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Qual é a melhor saída para o governo Obama em relação aos conflitos no Sudão?

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