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Estado atual das ruínas da antiga Babilônia, cidade legendária ao sul de Bagdá, no Iraque: restauradores trabalham para deixar o sítio arqueológico em condições de receber visitantes novamente | Wikimedia Commons
Estado atual das ruínas da antiga Babilônia, cidade legendária ao sul de Bagdá, no Iraque: restauradores trabalham para deixar o sítio arqueológico em condições de receber visitantes novamente| Foto: Wikimedia Commons
  • Jardins Suspensos, em ilustração do século 16: maravilha do mundo antigo
  • Ruínas da Torre de Babel: tijolos esfarelando com a ação da água
  • Veja onde fica a Babilônia

A ameaça mais imediata para a preservação das ruínas da Ba­­bilônia, no Iraque moderno, é a água que encharca o solo e mi­­na o que restou de uma grande cidade da época do rei Nabu­­codonosor II, que abrigou uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo.

A água também é uma das ameaças mais antigas. O próprio rei enfrentou problemas com ela 2.600 anos atrás. Ne­­gligência, reconstrução mal planejada e saques durante as guerras também causaram da­­nos recentemente, mas arqueólogos e especialistas em preservação de relíquias culturais dizem que nada substancial deve ser feito até que o problema da água esteja sob controle.

Um recente estudo, conhecido como projeto Futuro da Ba­­bilônia, documenta os estragos feitos pelas águas, associadas principalmente ao Rio Eufrates e aos sistemas de irrigação próximos. Logo abaixo da superfície, o solo é saturado em locais como o do Portão de Ishtar e dos Jardins Suspensos, há muito desaparecidos e uma das sete maravilhas. Tijolos estão esfarelando, templos estão ruindo. A Torre de Babel, há séculos re­­duzida a escombros, está cercada de água.

Os líderes do projeto internacional, falando sobre suas descobertas em entrevistas e em um encontro neste mês em Nova Iorque, disseram que qual­­quer plano para resgatar a Babilônia como atração turística e local para pesquisa ar­­que­­ológica deve incluir o controle da água como "a mais alta prioridade".

O estudo, destinado a desenvolver um plano mestre para a cidade antiga, foi iniciado no ano passado pelo Fundo Mun­­dial para os Monumentos, e con­­ta com o apoio da Junta do Pa­­trimônio e Antiguidades do Ira­­que. Uma verba de US$ 700 mil destinada pelo Departa­­men­­to de Estado dos Estados Uni­­dos está financiando o estudo inicial de dois anos e o plano preliminar de gerência. Um funcionário do fundo para os monumentos disse que todo o esforço pode durar de cinco a seis anos.

"Este é, sem dúvida, o programa mais complexo que já tivemos de organizar", disse Bon­­nie Burnham, a presidente do fundo.

Demora

Alguns arqueólogos expressaram preocupação com o que alegaram ser um início lento do projeto. Os membros do projeto afirmam ter tido sérios problemas para persuadir peritos es­­trangeiros a ir para o Iraque e conseguir liberações para que trabalhassem lá com seus instrumentos.

Além do desgaste do tempo, que vitima todas as ruínas da Antiguidade, também é relevante as depredações que a Ba­­bilônia sofreu na história re­­cente. Os arqueólogos alemães que realizaram o primeiro estudo cuidadoso do local, antes da Primeira Guerra Mun­­dial, reconheceram os males causados pelas águas de irrigação provindas de um afluente do Rio Eufrates, a 80 quilômetros ao sul da moderna Bagdá.

McGuire Gibson, um especialista em arqueologia mesopotâmica da Universidade de Chicago que não está envolvido com o projeto, concordou que a água é o "maior problema" da Babilônia, que ele diz ter sido agravado nos últimos anos, quando um lago e um canal foram escavados como parte de uma campanha para atrair turistas. O próprio Nabucodo­­nosor, notou Gibson, lidou com a invasão das águas erguendo novos prédios em locais cada vez mais elevados, sobre montes de velhas ruínas.

Os primeiros pesquisadores alemães, liderados por Robert Koldewey, informaram ter en­­contrado extensos danos causados pela água nas estruturas de tijolos de argila e pela intrusão de campos agrícolas e vilarejos dentro das fronteiras da cidade original. As pessoas já tinham carregado tijolos e pedras, deixando quase nada do Zigurate, conhecido pelo historiador Heródoto e pela Bíblia como a Torre de Babel. Os próprios alemães levaram consigo o elaborado Portão de Ishtar para um museu em Berlim.

Então, nos anos 70 e 80, Sad­­dam Hussein, então presidente do Iraque, se considerou herdeiro da grandeza de Nabucodo­­nosor e fez com que seu próprio palácio imponente fosse construído na Babilônia, seguindo as linhas da obra de seu antecessor real. Ele até mesmo adotou a prática do rei de gravar seu próprio no­­me nos tijolos de reconstrução. Os arqueólogos ficaram es­­tu­­pefatos. O novo pa­­lácio e al­­gu­­mas poucas restaurações, eles dizem, não são au­­tênticos, mas dominam o sítio.

Intruso

O que fazer com o palácio de Sad­­dam é outro problema, disse o codiretor do projeto, Jeff Al­­len. "Como equilibrar a integridade do sítio com seu uso como atração turística é o problema principal", explicou, notando que o Iraque conta com a Ba­­bi­­lônia como fu­­tura fonte de re­­ceita através do turismo.

Allen, consultor americano em preservação cultural que vive no Cairo, disse que seriam gastos milhões de dólares pa­­ra demolir o palácio ou convertê-lo em um centro de vi­­sitantes para os turistas. "Is­­to ainda pre­­cisa ser estudado por outros especialistas", disse Al­­len, brincando que uma su­­ges­­tão é de que o palácio se­­ria per­­feito para a construção de um cassino.

"Eu deixaria o palácio em paz", disse Gibson, ressaltando que ele foi baseado em desenhos deixados pelos arqueólogos alemães.

"Desta forma, você caminharia ao redor de algo parecido com a arquitetura antiga. Caso contrário, você não teria nada para ver, exceto entulhos", disse.

Elizabeth C. Stone, uma arqueóloga da Universidade Stony Brook, em Nova Iorque, revelou apoiar os esforços para reabertura do local para turistas, especialmente para os próprios iraquianos. "Fica perto de Bagdá e é único lugar onde os iraquianos costumavam ir para ter um senso de seu passado", disse ela.

Outros danos foram causados durante a guerra no Iraque, iniciada em 2003. Ocorreram muitos saques no local assim como em outros sítios arqueológicos. O exército americano ocupou a Babilônia por vários anos, protegendo o local de sa­­ques, mas deixando outras cicatrizes.

Cerca de 1 quilômetro quadrado de solo da superfície, em parte com artefatos, "foi removido, de um jeito ou de outro", revelou Stone.

"Os militares certamente não fizeram nenhum bem ao local. Eles movimentaram muita terra, mas esse dano certamente pode ser revertido", disse Lisa Ackerman, vice-presidente executiva do fundo para os monumentos.

O local voltou ao controle iraquiano há mais de um ano. Ackerman e Allen disseram que o projeto já fez um levantamento das ruínas, construção por construção, e começou a restaurar dois museus. Apesar de o Iraque possuir um grande corpo de arqueólogos treinados, disseram os pesquisadores, há uma necessidade imediata de instruir outros na conservação das ruínas e trazer engenheiros estruturais e hidrólogos para lidar com o problema da água.

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