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 | Ilustração/ Robson Vilalba
| Foto: Ilustração/ Robson Vilalba

História

Pesquisa segue com filantropia

A história da busca sobre vida extraterrestre começa com um jovem radioastrônomo chamado Frank Drake, que apontou uma antena do Observatório Nacional de Radioastronomia, em Green Bank, na Virgínia Ocidental, para um par de estrelas em 1960 e perguntou a si mesmo se conseguiria fazer contato com alguém ou alguma coisa. Tudo que ele recebeu foi estática, mas foi o começo de tudo.

Em 1971, a NASA organizou um workshop com Barney Oliver, chefe de pesquisa da Hewlett-Packard, que concluiu que a melhor maneira de se encontrar extraterrestres seria com um conjunto de US$10 bilhões de radiotelescópios gigantes chamados Cyclops. O preço – bem como a temática – disparou alguns alarmes que ainda reverberam. Em 1993, a procura por sinais patrocinada pela NASA foi cancelada pelo Congresso.

Com a ajuda de amigos como o Dr. Oliver no Vale do Silício a astrônoma Jill Tarter, e seus colegas levaram o projeto para a iniciativa privada.

"Você não precisa perguntar a um padre ou filósofo sobre a vida no universo", disse a Dra. Tarter. Meio século e cerca de 2 mil estrelas mais tarde, a humanidade ainda está oficialmente só.

O Dr. Drake não se intimida e comenta que há 100 bilhões de estrelas na galáxia com condições favoráveis. Sua estimativa pessoal, com base numa equação que ele inventou em 1961, é que haja 10 mil civilizações tecnológicas na galáxia, uma a cada milhão de estrelas.

"Eu sabia desde o começo que precisávamos verificar um milhão de estrelas", disse ele.

O Conjunto Allen, que foi projetado para encontrar o milhão de estrelas do Dr. Drake, deriva seu nome de Paul G. Allen, o fundador da Microsoft e filantropo que investiu US$25 milhões para iniciar o projeto. De propriedade conjunta e operado pela Universidade da Califórnia, em Berkeley, e pelo Instituto SETI, ele deveria consistir de 350 antenas, de 6 metros de diâmetro, que seriam produzidas em série como parabólicas.

O conjunto completo seria capaz de mapear uma porção do céu de várias luas de diâmetro em apenas 10 minutos, ou o céu inteiro em uma noite – o que seria de grande interesse para astrônomos.

Mas a contribuição do Sr. Allen só foi o suficiente para construir 42 antenas, que começaram a operar em 2007. Os astrônomos dizem que outros US$55 milhões completariam o conjunto, mas ainda não surgiram voluntários.

The New York Times

Um grupo de astrônomos recomeçou recentemente uma das buscas icônicas da ciência moderna, a procura por inteligência ex­­traterrestre – o SETI, na sigla em inglês – que havia sido interrompida no ano passado por falta de financiamento. Eles trabalham à base de sobras de dinheiro e equipamento, tanto públicos como de milionários do Vale do Silício.

No começo de dezembro, 42 radiotelescópios, conhecidos co­­mo o Conjunto de Telescópios Al­­len voltou ao trabalho de pular de estrela em estrela da constelação de Cisne, procurando por emissões de rádio de civilizações alienígenas. As linhas agora estão abertas, mas com os problemas financeiros prolongados, permanece o mistério de por quanto tempo elas continuarão assim.

Os astrônomos agora sabem que a galáxia tem pelo menos tantos planetas – lugares em que se presume que haja vida – quanto estrelas. "Vida e tecnologia avançada podem ser raras no cosmos", diz Geoffrey W. Marcy, professor que ocupa a cadeira Watson and Marilyn Alberts no SETI da Uni­­versidade da Califórnia, em Ber­­keley, "mas com certeza eles estão lá fora, porque o número de planetas semelhantes à Terra na galáxia da Via Láctea é simplesmente grande demais".

Um simples "alô" ou grasnido, ou um fluxo incompreensível de números capturado por uma das antenas no Observatório de Rádio de Hat Creek da Universidade da Califórnia seria o suficiente para acabar com nossa solidão cósmica, mudar a história e responder a uma das mais profundas perguntas feitas pelos seres humanos: Estamos sozinhos no universo?

Apesar de décadas de sondas espaciais e bilhões de dólares da NASA investidos na procura de vi­­da lá fora, ainda há um único exem­­plo de vida no universo: a cadeia biológica, ba­­seada em DNA, da Ter­­ra. "Neste cam­­po", disse Jill Tar­­ter, astrônoma no Instituto SETI em Mountain View, Cali­­fór­­nia, o "número dois é o nú­­mero mais importante. Nós contamos um, dois, infinito. Esta­­mos procurando pelo número dois".

Os astrônomos chamam de "pa­­lheiro cósmico" as 100 bilhões de estrelas na galáxia e 9 bilhões de canais de banda estreita nos quais os alienígenas, se existirem, po­­dem estar tentando nos chamar.

Crise

A recessão acabou com os fundos da universidade para gerenciar o observatório de Hat Creek. Um apelo para financiamento no site do instituto trouxe cerca de US$220.000 – o que dá para quase dois meses de despesas de operação. Um acordo, ainda em negociação, com a Força Aérea pagará cerca de US$ 1,5 milhão (mais outro US$ 1 milhão por ano para pagar os as­­trônomos). O dinheiro le­­vantado até agora duraria, no máximo, mais alguns meses.

Em dezembro, a Dra. Tarter as­­sistia com um olho descon­­fiado pipocar no monitor do computador uma fileira de números indicativos da detecção de um sinal de banda estreita – a assinatura de uma fonte artificial. Ela fez um gesto de aprovação com a cabeça enquanto o telescópio e os computadores terminavam o processo de eliminar o novo sinal de suas considerações.

"Nós já ficamos seis horas nisso umas quatro vezes", disse a as­­trônoma. Um momento dramático foi em 1998, quando a Dra. Tar­­ter e seus colegas estavam trabalhando em um observatório e re­­ceberam um sinal que eles simplesmente não conseguiam eliminar.

Por fim, descobriram que estavam, na verdade, recebendo trans­­missões do satélite europeu SOHO. "Fomos dormir, então", disse a Dra. Tarter.

"Aquela vez foi um verdadeiro surto de adrenalina", ela acrescentou. "Não consigo imaginar como será quando encontrarmos um sinal de verdade."

Tradução: Adriano Scandolara.

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