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Franceses formaram filas para comprar a nova edição do semanário, esgotada em poucas horas | Eric Gaillard/Reuters
Franceses formaram filas para comprar a nova edição do semanário, esgotada em poucas horas| Foto: Eric Gaillard/Reuters

Reação

Islâmicos apontam ‘insulto’ em nova edição do semanário

Líderes religiosos muçulmanos condenaram a nova edição do Charlie Hebdo. A imagem de Maomé, profeta islâmico, na capa foi considerada um "insulto" pelo Irã. "O desenho fere o sentimento dos muçulmanos. O abuso da liberdade de expressão, estendido hoje no Ocidente, não é aceitável e deve ser impedido", disse um porta-voz da Chancelaria do país.

Na Turquia, o vice-premiê, Yalcin Akdogan, afirmou que a edição do Charlie Hebdo é uma "difamação". "Da mesma maneira que condenamos os ataques em Paris, condenamos provocações contra símbolos islâmicos."

Um tribunal turco chegou a proibir que sites reproduzissem a capa. No país, só o jornal Cumhuriyet, de Istambul e que faz oposição ao governo muçulmano, publicou algumas das charges desta edição do Charlie Hebdo. Para evitar ataques, o jornal recebeu proteção da polícia. O jornal Yeni Akit, que apoia o governo, criticou o semanário francês pela imagem de Maomé.

Por meio de uma rádio, a facção radical Estado Islâmico acusou o Charlie de tentar "lucrar" após os ataques com uma edição que, para o o grupo, "insulta" o profeta.

Em nota, a União Mundial dos Ulemás, sediada no Qatar e presidida pelo pregador Yussef Al Qaradaoui, ligado à Irmandade Muçulmana, disse que o jornal não "é sensato".

Os integrantes do Charlie têm evitado polemizar. Na terça-feira, quando questionado sobre a escolha de Maomé para a capa, o cartunista Renald Luzier, o Luz, afirmou que a charge é apenas a de um "homem que chora".

2,8 mil euros era o preço cobrado ontem na internet por um exemplar da nova edição do Charlie Hebdo. Oferecida por alguns usuários a partir de 19 euros em sites como o eBay, o valor se multiplicou e foi muito além do preço oficial de três euros pedidos pela revista.

  • Líder ideológico da Al Qaeda no Iêmen assumiu autoria em vídeo

A rede Al Qaeda no Iêmen assumiu a responsabilidade pelo ataque ao jornal de sátiras francês Charlie Hebdo, dizendo que a ação foi ordenada pela liderança do grupo militante islâmico em resposta a insultos ao profeta Maomé, de acordo com um vídeo publicado no YouTube.

"Quanto à abençoada Batalha de Paris, nós, a Organização da Al Qaeda Al Jihad na Península Arábica, assumimos a responsabilidade por essa operação como vingança ao mensageiro de Deus", disse na gravação Nasser bin Ali al-Anesi, líder do braço da Al Qaeda no Iêmen.

Homens armados mataram um total de 17 pessoas em três dias de violência que começou quando abriram fogo contra a sede do semanário Charlie Hebdo em vingança pela publicação de imagens satíricas do profeta Maomé.

Anesi, o principal líder ideológico da Al Qaeda no Iêmen, disse que foi a liderança da organização "que escolheu o alvo, colocou o plano em ação e financiou a operação", sem citar um nome específico.

Ele acrescentou, sem dar mais detalhes, que o ataque foi realizado para "pôr em prática" a ordem do líder geral da Al Qaeda, Ayman al-Zawahri, que fez um chamado por ataques de muçulmanos ao Ocidente, utilizando quaisquer meios que possam encontrar.

A Al Qaeda no Iêmen é liderada por Nasser al-Wuhayshi, que também é o número 2 de Zawahri na hierarquia mundial da rede.

"Nós fizemos isso em conformidade com o comando de Deus e em apoio a seu mensageiro, que a paz esteja com ele", acrescentou Anesi.

Não foi possível verificar a autenticidade da gravação, que trazia o logo do grupo de mídia da Al Qaeda, al-Malahem.

Esgotada

A primeira edição do Charlie Hebdo publicada depois dos ataque de militantes islâmicos se esgotou em minutos nas bancas de jornais de toda a França ontem, com pessoas fazendo fila para comprar exemplares em apoio ao semanário satírico.

Uma tiragem de cerca de 3 milhões de cópias foi programada para a chamada "edição dos sobreviventes", superando em muito os habituais 60 mil exemplares.

A capa da nova edição mostra uma caricatura de Maomé triste, segurando um cartaz com os dizeres "Je suis Charlie" (Eu sou Charlie) sob a manchete "Tudo está perdoado".

Dentro da edição, vê-se o humor irreverente habitual do semanário e o tom intencionalmente ofensivo que fez o jornal famoso.

O principal editorial faz uma defesa vigorosa do secularismo e do direito do jornal de ridicularizar as religiões e fazer seus líderes prestarem contas.

"O que nos faz rir mais é que os sinos de Notre-Dame tocaram em nossa homenagem", diz o editorial do semanário, que surgiu do movimento de libertação de 1968 e há muito zomba de todas as religiões e dos pilares do poder.

Toda a receita da venda da edição desta semana irá diretamente para o Charlie Hebdo, o que dará novo fôlego para uma publicação que vinha lutando com dificuldades financeiras. Um pedido de doações também foi ao ar na mídia nacional.

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