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Villas turísticas | Adam Dean/The New York Times
Villas turísticas| Foto: Adam Dean/The New York Times
  • Huang Zhengshun, veterano do Exército Nacionalista Kuomintang e sua esposa, em Ban Rak Thai, na Tailândia

À noite, lanternas chinesas vermelhas iluminam os hotéis, lojas e restaurantes da região de Yunnan nesta aldeia serrana de mil habitantes. Em uma noite recente, a voz da cantora taiuanesa Teresa Teng podia ser ouvida em uma loja de chá.

Mas esta sonolenta vila chinesa está aninhada no exuberante noroeste da Tailândia, uma das várias dezenas desse tipo de agrupamento, uma peculiaridade da tumultuada história humana e política da região.

"Posso ter um documentos tailandeses, mas sou chinês. Minha família é chinesa, e não importa aonde vamos, ainda somos chineses", disse Liang Zhengde, de 47 anos e administrador da fazendas de frutas de sua família.

Os Liangs, como outras 200 famílias aqui, são veteranos ou descendentes do Exército Perdido da China, uma unidade do Exército Nacionalista do Kuomintang, derrotado pelo Exército Vermelho de Mao Zedong em 1949. Como a maioria dos soldados nacionalistas fugira para Taiwan em face dos avanços comunistas, a 93a divisão do Kuomintang recuou para Mianmar, conhecido então por Birmânia.

O pai de Liang, Liang Zhongxia, de 84 anos, antigo comandante, é um dos veteranos sobreviventes da divisão.

A história ainda não acabou para esses soldados chineses. No contexto da Guerra Fria , alguns dos que ficaram na região lutaram contra o governo da Birmânia e milícias étnicas e, com a ajuda de Taiwan e dos Estados Unidos, continuaram com suas incursões na China. Nas décadas de 60 e 70, os veteranos do Kuomintang entraram no comércio de drogas ilícitas. Mais tarde, fecharam um acordo com o governo, que permitiu que eles permanecessem na fronteira norte da Tailândia em troca de ajuda para combater os comunistas tailandeses. Em meados da década de 80, os soldados do Kuomintang pararam de lutar, voltando-se para a agricultura, e o governo tailandês começou a lhes conceder a cidadania. Agora existem 64 aldeias Kuomintang, incluindo Ban Rak Thai — ou Mae Aw, como é chamada localmente.

A assimilação ainda continua. Em Ban Rak Thai, muitos moradores ainda preferem conversar em chinês, embora a geração mais jovem fale pelo menos um pouco de tailandês.

As tradicionais bandeiras vermelhas com dísticos chineses tomam sol nas portas de muitas casas da aldeia, e além delas, em muitos casos, os aldeões penduram fotos do rei tailandês, Bhumibol Adulyadej.

A herança chinesa das aldeias tem sido usada nos últimos anos pelos locais para atrair um pequeno mas crescente número de turistas, principalmente tailandeses, que vêm atrás do clima ameno, comida chinesa e chá oolong.

Huang Jiada, de 53 anos, que se juntou ao Kuomintang durante a Guerra Fria depois que sua família fugiu para Mianmar, dedica-se a preservar a história original de Ban Rak Thai. Com fundos do governo tailandês, ele construiu um museu de um ambiente.

"Não podemos nos esquecer da história. Não podemos ignorar nossos antepassados", disse ele.

Para muitos ex-soldados do Kuomintang, os laços com a China são poderosos, apesar das décadas que se passaram.

Liang Zhongxia segue o noticiário da China continental e de Taiwan todos os dias. Em 2013, sua esposa e o filho voltaram para Yunnan pela primeira vez para limpar os túmulos dos ancestrais da família. Mas Liang ficou.

Após mais de meio século no exílio, ele reluta em voltar para casa. "Não quero mais voltar", disse ele.

Muito tempo se passou, ele disse, e citou um verso de um antigo poema chinês: "Meus braços são hoje maiores do que minhas mangas."

Contribuiu Chen Jiehao e Li Peng

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