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A Europa constrói pouco a pouco uma muralha para se preservar do que julga ser um mundo miserável e desqualificado. Nessa empreitada, não foram necessárias pedras ou cimento, mas algo bastante mais eficaz: um entrelaçado de normas que incidem a partir de diferentes ângulos, perseguindo os mesmos fins. A regulamentação das políticas na forma de leis, decretos e decisões administrativas conta com o apoio de parte de uma população assustada com a crise e com o desemprego.

Em matéria de criatividade, a Itália dá exemplos extremos: o Centro de Acolhimento da Ilha de Lampedusa transformou-se em campo de espera para a deportação. As mudanças que serão votadas no Senado italiano incluem um conjunto de 51 medidas para regulamentar os pedidos de permanência. Uma delas estabelece a tipificação do "crime de clandestinidade". Outra, bastante polêmica, cria estímulos à delação por parte dos médicos italianos que assistem pacientes clandestinos. Sem pudores, o partido de Silvio Berlusconi afirma que chegou a hora de mostrar que a Itália não é um paraíso para eles. Tampouco um Eldorado, nas palavras de Nicolas Sarkozy, justificando que a França tem direito de decidir quem é bem-vindo ou não em seu território.

O líder francês foi o inventor da chamada "imigração seletiva", um instrumento que visa a selecionar imigrantes de alta qualificação, à semelhança do green card norte-americano. De acordo com as novas regras européias, válidas a partir desse ano, quem desejar trabalhar na Europa deverá atender aos critérios de qualificação em nível superior, experiência profissional, um contrato de trabalho com salário mínimo superior a 1,5 vez o salário médio do país receptor, deverá conhecer muito bem o idioma e, no caso da França, deverá demonstrar compromisso com os valores da República.

Na Espanha a criatividade é manifestada nas forças de segurança do Estado. O sindicato dos agentes de polícia confirma a existência de cotas de detenção de imigrantes em número de 35 presos por semana, incentivando, sobretudo, a detenção dos marroquinos por serem de mais fácil devolução.

Todas essas medidas, somadas às Diretivas de Retorno, prenunciam tempos dramáticos para uma população de 3 milhões de pessoas. Atos de perseguição, xenofobia e racismo deverão aumentar, assim como a repressão inédita dos países europeus.

Carol Proner é pesquisadora da École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris.

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