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Barracas montadas por jovens em Tel-Aviv para protestar contra o aumento dos preços das moradias | Menahem Kahana/AFP
Barracas montadas por jovens em Tel-Aviv para protestar contra o aumento dos preços das moradias| Foto: Menahem Kahana/AFP

Economia

Gastos com Defesa elevam impostos

Gastos elevados com a Defesa israelense e com o bem-estar social levaram a impostos altos. Outro fator significativo da economia local é que ela está concentrada em poucas corporações, o que encoraja o tipo de cartel que levou a revoltas dos consumidores como a do mês passado, contra a alta nos preços dos laticínios e do queijo. Os protestos acabaram quando os principais produtores, pressionados por uma campanha no Facebook, reduziram os preços em 25%.

Propostas para aumentar a concorrência em setores como a produção de energia elétrica ficaram em cima da mesa durante anos. Esses esforços ou foram paralisados ou significaram a transferência de empresas estatais para mãos privadas.

Primeiro aconteceu uma revolta dos consumidores contra o preço dos queijos, o que forçou os maiores produtores de laticínios de Israel a reduzirem seus preços. Agora, com a raiva dos consumidores se voltando para o que é amplamente visto como um es­­pantoso aumento no custo de vi­­da, acampamentos de tendas foram montados ao redor de Is­­rael para protestar contra os preços dos aluguéis, que subiram muito, enquanto na maioria dos outros países do mundo os aluguéis caíram em meio à crise financeira mundial.

Os acampamentos de protesto em Israel encontraram inspiração nos levantes populares do mundo árabe e ilustram o paradoxo de Israel: enquanto sua economia floresce, grande parte dos israelenses não está aproveitando os benefícios. O país é um dos que têm maior índice de pobreza e disparidade de renda no mundo desenvolvido. Os preços dos alimentos subiram nos últimos meses, bem como dos combustíveis, enquanto greves de trabalhadores dos serviços sociais e médicos colocaram em evidência como a frustração cresce ao redor de todos os estratos da sociedade.

Mas com o preço de um modesto apartamento bem acima de US$ 500 mil, é o esmagamento do custo de moradia que deixou israelenses como Lital Yitazhak e o marido dela, gerente de um depósito, furiosos.

Há oito meses, o casal foi forçado a se mudar, com a mãe de Lital, porque os US$ 900 que pagavam de aluguel mensal por um pequeno apartamento de dois dormitórios, em um dos bairros mais pobres de Jerusalém, endividou pesadamente os dois. "Eu não sei o que um casal jovem deveria fazer", disse Lital, uma professora de escola substituta de escola maternal, que ganha, junto com o marido, um salário equivalente a US$ 1.800 mensais - no extremo salarial do que é considerado a classe trabalhadora de Israel. Contudo, o arroxo que muitos como eles sentem não se reflete nos principais indicadores econômicos do país.

Crescimento econômico

Há um mês, o Banco Central de Is­­rael aumentou sua projeção de crescimento econômico para 2011 para 5,2%, mais que o dobro da estimativa do Fundo Monetário Inter­­nacional (FMI), liberada em junho para expansão do Produto Interno Bruto (PIB) das economias avançadas. O desemprego em Israel caiu para 5,8% da força de trabalho, no nível mais baixo em décadas.

Na aparência, os ganhos são impressionantes. Condomínios de apartamentos de luxo estão em construção, carros novos enchem as ruas e restaurantes caros estão lotados. Mas muitos israelenses reclamam que os principais sinais da economia são distorções: eles refletem os benefícios desfrutados por uma minoria rica, en­­quan­­to a maioria batalha para sobreviver.

Devido aos impostos pesados, um galão de gasolina custa o equivalente a US$ 8 em média e um automóvel sedã zero-quilômetro é vendido a US$ 35 mil em preço de tabela ou mais. Um apartamento padrão, com 100 metros quadrados de área útil, pode al­­cançar facilmente o preço de US$ 600 mil em um centro metropolitano como Tel-Aviv e Jerusalém, e entre US$ 200 mil e US$ 300 mil em áreas menos valorizadas.

Enquanto isso, a média salarial israelense está em torno de US$ 2.500 mensais, com profissões importantes como professores, funcionários públicos e trabalhadores sociais recebendo menos de US$ 2.000 mensais.

Muitos empregos estão disponíveis apenas em meio período ou oferecem salários baixos com poucos benefícios, dizem os especialistas, enquanto os críticos do governo apontam que um sistema de transporte público subdesenvolvido prejudica o acesso da força de trabalho a empregos mais bem pagos. "O problema é que existem poucos incentivos amplos e muito fica nas mãos de uma proporção bem pequena da população, que certamente ficou ainda mais rica nos últimos anos", disse John Gal, especialista na es­­cola de estudos sociais e bem-estar social na Universidade Hebraica de Jerusa­­lém.

O estouro dos preços dos aluguéis e imóveis ocorreu em grande parte porque a oferta é muito menor que a demanda. Entre dezembro de 2007 e agosto de 2010, os preços dos aluguéis pularam, descontada a inflação no período, em 35%.

Revolta

A alta nos preços espalhou um protesto muito bem enraizado, com o epicentro em Tel-Aviv, onde dezenas de tendas ocupadas em grande parte por jovens estão alinhadas ao longo de uma elegante avenida. Em Jerusalém, dezenas de tendas com manfiestantes foram alinhadas em cima da grama na frente dos muros da Cidade Velha.

As imagens dos acampamentos de tendas, exibidas nos telejornais e nas primeiras páginas dos diários, atraíram a atenção do primeiro-ministro Benjamin Ne­­tanyahu – em parte porque elas apareceram no mesmo momento em que imagens semelhantes de tendas no centro do Cairo mostraram a revolução popular que abalou o vizinho Egito. Em Israel, grande parte do protesto também deriva de anos de iniquidade econômica e de um aprofundamento entre ricos e pobres.

Netanyahu prometeu resolver a crise habitacional ao liberar mais terras do governo para a construção e também oferecendo isenções fiscais para investimentos no mercado imobiliário, o que pode levar a um aumento na oferta de apartamentos.

Os críticos, contudo, questionam se mais apartamentos e casas no mercado significarão preços menores dos imóveis ou aluguéis mais baixos.

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