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A mina de ouro de Yanacocha, maior investimento do Peru, corre o risco de ser  fechada por ameaçar as reservas de água da região de Cajamarca, no altiplano peruano | AFP
A mina de ouro de Yanacocha, maior investimento do Peru, corre o risco de ser fechada por ameaçar as reservas de água da região de Cajamarca, no altiplano peruano| Foto: AFP

Resistência

Vários projetos são inviabilizados

O governo do presidente anterior, Alan García, que aprovou Conga e respaldou a mineração, interrompeu o projeto Tía María, da companhia mexicana Southern Copper, em abril, após três manifestantes morrerem em choques com a polícia. O governo de García buscou várias vezes a prisão de líderes contrários à mineração, e Humala poderia seguir nesse caminho.

Um importante advogado do Ministério do Interior, Julio Talledo, diz que pediu aos promotores que apresentassem queixas criminais contra Gregorio Santos e outros quatro líderes locais que lideraram protestos contra Conga. Caso condenados, eles podem pegar pelo menos dois anos de prisão. A promotoria ainda não apresentou as acusações.

Os problemas de credibilidade de Conga são em parte fruto da conduta prévia do consórcio de Yanacocha, que inclui a companhia peruana Buenaventura Mining e a International Finance Corporation, segundo analistas.

No ano 2000, um derramamento de 152 quilos de mercúrio por um subcontratado de Yanacocha deixou centenas de pessoas doentes. Líderes comunitários se queixaram também de que fontes de água estavam secando ou ficando contaminadas.

O consórcio posteriormente gerou protestos por perfurações exploratórias no vizinho Cerro Quilish, e teve de abandonar esse projeto após queixas de que afetaria diretamente a água da capital regional.

  • Marcha de camponeses contra o projeto da mina de ouro Yanacocha

O maior investimento mineiro no Peru está ameaçado e com isso também os planos do governo de bem-estar social, no momento em que campesinos do altiplano se mobilizam contra uma mina de ouro e cobre que eles temem que possa contaminar e reduzir suas reservas de água.

O projeto Conga, de US$ 4,8 bilhões, é uma extensão da mina de ouro de Yanacocha, a maior da América Latina. A oposição ao plano representa o primeiro desafio importante ao presidente Ollanta Humala.

Humala assumiu a presidência em julho, após prometer às mesmas pessoas que agora protestam contra Conga que daria prioridade à água potável sobre a extração de minerais. Ele disse em maio aos moradores do departamento (estado) de Cajamarca, no norte peruano, durante sua campanha, que asseguraria as reservas de água. "Porque vocês não tomam ouro, não comem ouro", afirmou então. "Com respeito à mineração, serão respeitadas as atividades da agricultura, da pecuária."

Mas quando os protestos começaram a afetar o projeto Conga, no mês passado, com destruição de equipamento, rotas bloqueadas e o trabalho suspenso temporariamente, Humala começou a mudar sua mensagem. A escolha não tem de ser entre ouro e água, diz agora. Os peruanos podem ter os dois.

Depois que milhares de pessoas se somaram aos protestos em Cajamarca na quinta-feira, levando à paralisação nos negócios e concentrando-se nas praças públicas, Humala disse em uma reunião de organizações campesinas: "O Estado, e nisso está minha palavra, vai garantir a água. Para todos nossos filhos têm de haver água."

Na sexta-feira, uma tentativa dos manifestantes de entrar no acampamento mineiro Conga à força foi repelida pela polícia com um saldo de três feridos, informou o ministro do Interior, Oscar Valdés. O Ministério do Meio Ambiente havia feito objeções ao projeto.

Outrora um apaixonado esquerdista, Humala caminhou para o centro para ganhar a presidência em uma nação que ganha 61% de seus lucros com a exportação no setor de mineração. Com a alta dos preços dos metais, alimentada pelo crescimento anual de 7% na última década, Humala herdou um país com mais de US$ 40 bilhões em investimentos em mineração na espera.

Mas muito pouco das riquezas geradas pela mineração chegou ao altiplano onde está a maioria das minas, e Humala ganhou a presidência com promessas de pensões para idosos pobres, de aumentar o salário mínimo, elevar gastos com educação e saúde, levar energia elétrica e saneamento a zonas rurais.

Para financiar esses programas, Humala conseguiu que a indústria mineira aceitasse um imposto sobre os lucros. O governo considera que arrecadará mais de US$ 1 bilhão ao ano. "É óbvio que nessa negociação as empresas não dão um aporte grátis", afirmou Carlos Monge, diretor para América Latina da organização não governamental Revenue Watch Institute, sediada em Nova York. "É um tubo de ensaio sobre o acordo que chegou ao governo de Humala com os empresários mineiros", afirmou Julia Cuadros, diretora-executiva da Cooperacci­­ón, organização que promove o desenvolvimento sustentável.

Caso o Projeto Conga seja suspenso, a confiança dos investidores poderia se deteriorar, causando o colapso da agenda social de Humala.

Mas a oposição local ao projeto é intensa, e é liderada por funcionários locais.

Críticas

Os críticos dizem que um estudo do impacto ambiental de Conga aprovado no ano passado não responde adequadamente aos danos potenciais que provocaria rio abaixo o ato de cavar minas a céu aberto em ladeiras, no que é um importante aquífero.

"O projeto vai fazer desaparecer as principais lagunas da região, que são as últimas que restam, para poder abastecer nos próximos anos a expansão urbana", afirmou o presidente regional de Cajamarca, Gregorio Santos, em entrevista à Asso­ciated Press.

Não somente serão afetados ao redor de 7 mil moradores das imediações, mas também dezenas de milhares nos vales próximos. Santos acrescentou que também estão em risco "prováveis fontes de abastecimento de água para os programas de reflorestamento, os programas agroecológicos e também para programas de criação de peixes".

Quatro reservas de água artificiais vão substituir quatro pequenos lagos de montanha, que serão deslocados pelo projeto de 2 mil hectares na nascente dos rios. A maior reserva será usada para extrair o metal da rocha triturada e coberta de cianeto de potássio, antes de colocá-lo em barreiras para impedir a contaminação.

As outras três, disse Omar Jabara, o porta-voz da Newmont, companhia norte-americana que tem controle sobre 51% do projeto, vão aumentar a mais que o dobro a água armazenada nas comunidades vizinhas. Jabara diz que a companhia está fazendo todo o possível para que o projeto não prejudique o ambiente.

Mas os ambientalistas dizem que isso é exatamente o que ocorreu com a mina de Yanacocha. As regulamentações de proteção à água no Peru permitiram que a mina contaminasse as vias fluviais, e acrescentam que o processo regulatório favorece os mineiros, porque o Ministério da Mineração tem sempre a última palavra nos estudos de impacto ambiental.

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