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Avião israelense, do modelo francês Rafale, faz treinamento. Um eventual ataque ao Irã envolveria uma complexa operação aérea | Jack Guez /AFP
Avião israelense, do modelo francês Rafale, faz treinamento. Um eventual ataque ao Irã envolveria uma complexa operação aérea| Foto: Jack Guez /AFP

O que pensam os líderes

Amanhã, Barack Obama (EUA) e Benjamin Netanyahu (Israel) vão se reunir para falar sobre o Irã. Veja o que os líderes dos três países pensam sobre um ataque militar:

- Benjamin Netanyahu – O primeiro-ministro de Israel pediu aos líderes ocidentais que "não se deixem enganar". Para ele, as negociações devem ser definitivas e exigir a paralisação do enriquecimento de urânio. "O Irã sabe explorar bem as negociações, como já fez no passado, para enganar e atrasar (inspeções nucleares) e assim eles prosseguem adiante com o programa nuclear", disse o premiê.

- Barack Obama – Em entrevista na última semana, o presidente dos EUA disse que vai tentar convencer o primeiro-ministro de Israel que um ataque ao Irã poderia ajudar o país dos aiatolás a se colocar na condição de vítima.

- Mahmoud Ahmadinejad – Em fevereiro, o presidente do Irã declarou que, em breve, seu país revelaria "feitos nucleares novos e muito grandes" e que não desistiria do enriquecimento de urânio. No ano passado, o presidente iraniano se referiu a possíveis ataques como uma tentativa de conter a crescente influência do seu país. "O Irã aumentou suas capacidades e continua progredindo, e, por esta razão, é capaz de rivalizar com o mundo. Agora Israel e o Ocidente, em especial os Estados Unidos, temem as capacidades e o papel do Irã".

Ainda que o Irã seja um dos principais inimigos das potências ocidentais, existe um imenso cuidado para evitar que Israel, com a justificativa de se sentir ameaçado, acabe por se precipitar e ataque o país do presidente Mah­­moud Ahmadinejad. Os Estados Unidos e países da Europa preferem insistir no método das sanções para tentar conter o desenvolvimento iraniano de tecnologia destinada à produção de armas nucleares.

Um dos motivos para a cautela ocidental seria a reação que uma ofensiva militar israelense causaria. A professora de Relações In­­ternacionais Cristina Pece­­quilo, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), afirma que uma ação militar contra o Irã "só pioraria o cenário de grande instabilidade geopolítica" na região. "Ainda há tropas no Afeganistão e a situação continua incerta no Iraque", analisa a professora.

O cientista político Alexsandro Eugenio Pereira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), destaca que um hipotético ataque seria o pretexto que o Irã espera para uma ofensiva contra Israel.

"Esta ofensiva não estaria ba­­seada, ainda, em bombas nucleares, mas seria suficiente para promover uma destruição considerável do Estado israelense", diz o professor.

Pereira, que coordena o Nú­­cleo de Pesquisa em Relações Inter­­nacionais da UFPR, diz acreditar que um conflito entre Israel e Irã colocaria o mundo em circunstâncias parecidas com o da Guerra Fria, em que o Irã recorreria aos aliados Rússia e China, enquanto Israel contaria com apoio do ve­­lho aliado EUA e de países europeus, como a França.

Consequências

O estreito de Ormuz, uma das principais vias de escoamento do petróleo produzido no Golfo Pér­­sico, tem sido outro fator que gera tensões entre os iranianos e seus rivais do Ocidente.

Se o Irã cumprisse as ameaças de fechar o estreito geraria problemas para os países que dependem da produção petrolífera da região.

Diante das tensões já existentes, um ataque de Israel agravaria a condição que já é crítica e levaria ao aumento do preço do petróleo, segundo o professor Expedito Bastos, pesquisador de assuntos militares da Universi­­dade Federal de Juiz de Fora (UFJF). "Isso pode aumentar a crise no continente europeu e mesmo levá-la para outros lu­­gares, que não estão em crise", explica.

Bastos considera que "do ponto de vista militar, o Irã não é uma potência com capacidade de resistência de longo prazo". O professor compara a realidade iraniana com a do Iraque. "O problema é [depois de atacar] ter que ocupar. O Iraque caiu rapidamente, só que desencadeou uma série de contratempos que estão durando até agora".

A retirada das tropas norte-americanas do Iraque não foi sinônimo de paz para o país. Pelo contrário, uma série de conflitos internos tiveram início desde então. Em de­­zembro foi emitida uma ordem de prisão para o vice-presidente Tareq al Hashimi, que é sunita. Ele considera que sofre perseguição política, já que o primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, é xiita.

Síria

Um problema mais próximo geo­­graficamente, mas que tem sido tratado com discrição pelo governo israelense, é a Síria. O país enfrenta a luta de rebeldes para derrubar o ditador Bashar Assad há um ano. O Conselho de Direi­­tos Humanos da Organiza­­ção das Nações Unidas (ONU) já condenou os ataques do governo sí­­rio contra civis, que poderiam ser equivalentes a crimes contra a humanidade.

Israel tem dúvidas se deixa As­­sad cair ou não, segundo Bastos, já que hoje está em uma "situação relativamente cômoda" com a Sí­­ria. "Não se sabe o que vem no pós- Assad. Se houver uma reviravolta muito grande, corre-se o risco de criarem outra República Islâ­­mi­­ca, mais forte que a Arábia Sau­­dita, ou mais xiita do que o Irã."

Por outro lado, o pesquisador da UFJF acredita que se o problema com a Síria for resolvido com a queda de Assad, o Irã ficaria praticamente isolado, já que o país perderia um de seus aliados.

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