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Frank Gonzalez trabalhou silenciosamente em sua oficina de automóveis em Homestead (Flórida, Sul dos EUA) desde 1980. Emprega seu filho e outras 13 pessoas, consertando carros de clientes que os procuram há décadas. "Nunca tivemos problemas", disse ele. Isto é, até semana passada. Nas redes sociais, pessoas que nunca conheceu estão chamando sua família de nazista, comparando-os com as pessoas que traíram Anne Frank durante a Segunda Guerra Mundial. Em telefonemas e e-mails, ameaçaram matar Gonzalez, sua família e botar fogo em seu negócios. 

Gonzalez e vários funcionários da loja agora carregam armas. "Nunca, em minha vida, vi algo assim", disse Gonzalez, com o suor gotejando de sua testa, enquanto descansava de seu trabalho na terça-feira. “Toda esta divisão me deixa tão triste”. Podemos discordar, mas por que ameaçar? 

O início dos problemas

Os problemas começaram na sexta-feira (27), quando uma menina hondurenha de 15 anos entrou no Gonzalez Auto Center, assustada e chorando. Ela fugira de funcionários de um centro de detenção onde estava sendo mantida, o Homestead Temporary Shelter for Unaccompanied Children, enquanto a levavam para uma consulta ao oftalmologista.

Ela se escondeu em um canto, ao lado de uma grande prateleira de ferramentas, e se recusou a se mexer por mais de uma hora. O que Gonzalez e sua equipe fizeram - ou não fizeram - para ajudar a menina se converteu em um tema de debate feroz. 

Gonzalez disse que ofereceram água à menina e tentaram falar com ela. Um dos empregados, Elvis Lopez, ligou para sua irmã Bertha para ver se ela poderia conversar com a garota por telefone e acalmá-la. A menina disse que não tinha família nos Estados Unidos, que esteva no centro de detenção há três semanas e não aguentava mais. Estava assustada e não queria voltar, disse Lopez. 

Bertha Lopez ouvira falar de uma defensora dos direitos dos imigrantes na cidade que poderia ajudar. Nora Sandigo, que dirige a Nora Sandigo Children Foundation, chegou na loja 30 minutos depois, logo que a polícia algemou a garota e a colocou em um carro. 

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"Nós ligamos para a advogada, mas ela não conseguiu chegar a tempo", disse Eric Gonzalez, filho de Frank, que também trabalha no estabelecimento. 

Carros de polícia circulavam pela região próxima à oficina mecânica logo após a garota ter escapado. Eles foram contatados por uma pessoa que contou que a garota estava na oficina. Os policiais entraram na oficina e começaram a procurar. Frank Gonzalez apontou seu esconderijo porque estavam a segundos de encontrá-la de qualquer maneira. 

"As pessoas estão dizendo que deveríamos tê-la colocado em outro lugar ou algo assim", disse Eric Gonzalez. "Mas é um ser humano. Não é como um cachorrinho que você pode colocar em uma caixa e simplesmente deixar em qualquer lugar." 

 Não está claro como a garota entrou nos Estados Unidos ou onde está agora. Mark Weber, vice-secretário adjunto de Assuntos Públicos para Serviços Humanos do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, que supervisiona a custódia de menores desacompanhados, disse na terça-feira (31) que a agência não comenta casos individuais. 

As críticas

Internautas criticaram Gonzalez por permitir que a menina fosse mandada de volta a "um campo de concentração" e ficaram furiosos porque ele apoia orgulhosamente Donald Trump. 

Gonzalez, que emigrou de Cuba com sua família quando tinha 14 anos, geralmente, apoia a forte aplicação de leis de imigração por parte de Trump, mas não a política de separar as crianças de suas famílias na fronteira. 

A família Gonzalez não percebeu o quão sério era o problema até ser contatado pelo FBI na manhã de sábado (30). Eles disseram a Eric Gonzalez que estavam monitorando os comentários feitos na internet sobre o incidente e acreditavam que a família poderia estar em perigo. 

"Eles me mostraram uma foto da casa da minha avó que alguém colocou online. As pessoas estavam dizendo: vá lá, mandemos uma mensagem para esse cara'", disse Gonzalez. "O FBI disse: não recomendamos que ela fique sozinha por lá.” 

Frank Gonzalez afirmou que sua mãe, que tem 93 anos, é uma mulher forte e se opôs a deixar sua casa. "Mas tive de levá-la para um lugar seguro". 

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Eric Gonzalez disse que é apolítico e a loja, também. A sala de espera é decorada com fotos de algumas gerações das crianças da família Gonzalez. Fotos emolduradas de Ronald Reagan e George e Laura Bush estão penduradas na parede, assim como um pôster de Michelle Obama e um desenho de Martin Luther King Jr. 

Frank Gonzalez tem sete filhos e 14 netos. O filho mais velho serviu três vezes no Afeganistão, e vários outros membros da família são veteranos militares. Um de seus sobrinhos morreu enquanto estava no Afeganistão. 

Ele disse que está confiante de que seus problemas atuais irão desaparecer. Mas se preocupa como os Estados Unidos ficaram tão divididos e como essa divisão virou sua vida de cabeça para baixo. "Isto não é fácil. Quando as pessoas ameaçam sua família, dói", disse Gonzalez. "Precisamos nos unir neste país."

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