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Esti e Hanan fazem 40 anos nesta semana. É um marco para todos, mas para essas mulheres - uma israelense, a outra palestina - é um momento de reflexão sobre a guerra em meio à qual ambas nasceram e que moldou suas vidas.

Esti Ilan se lembra de sua mãe dizendo como, em 5 de junho de 1967, ela foi tratada como se fosse "realeza" quando chegou para dar à luz em um hospital de Tel Aviv que estava cheio de vítimas do front enquanto os exércitos árabe e israelense se enfrentavam.

Hanan Abu Lateef diz que passou os primeiros dias de sua vida se abrigando num campo de oliveiras nos arredores de Jerusalém enquanto a batalha seguia furiosa nas proximidades do campo de refugiados palestinos em que ela nasceu.

O conflito ficou conhecido como Guerra dos Seis Dias. A guerra terminou com perdas para os aliados árabes e com Israel conquistando os bancos Oeste e Leste da Jordânia, os Golan Heights da Síria, a península de Sinai, do Egito e a faixa de Gaza.

Quarenta nos depois, no entanto, o conflito está longe de terminar e tanto homens quanto mulheres têm uma perspectiva sombria no que diz respeito à paz para seus filhos, apesar de sua própria vontade de ficar em paz com seus vizinhos que mal conhecem, pessoas que vêem apenas como inimigos sem rosto.

Para Hanan, sentada na casa pouco mobiliada onde nasceu cinco dias antes do início da guerra, cada aniversário é obscurecido pela chamada "naksa", ou derrota de 1967, seguida pela "nakba", "desastre", quando sua família fugiu de sua fazenda no que hoje é Israel, ao mesmo tempo em que o estado judeu lutou para nascer.

"Nunca aproveitei meu aniversário", diz ela, vestida de preto, enquanto cuida de sua mãe inválida e de sete crianças no campo de refugiados de Qalandiya, próximo a Ramallah.

Para exemplificar o que está dizendo, ela mostra sua identidade, em que se lê sua data de nascimento oficial como 5 de junho de 1967 –- o dia de naksa, um dia que, desde então, ficou marcado por protestos e manifestações populares mais do que qualquer outro dia.

Para Esti, as emoções têm sido menos constantes. Os medos dos pais, sobreviventes do Holocausto, de que o abrigo seguro dos judeus estava ameaçado, se transformou em euforia. Mas anos de violência tornaram a situação mais amarga para muitos israelenses.

"Eu lembro dos primeiros dez ou quinze anos, era uma data legal, uma coisa engraçadinha ter nascido no primeiro dia da guerra", diz a professora no apartamento que divide com o marido e dois filhos na comunidade suburbana de Raanana, ao norte de Tel Aviv.

"Mas, eu acho que tinha 18 ou 19 anos e a coisa começou a se tornar controversa... Algumas pessoas acham que foi um momento positivo e outras acreditam que foi a ruína do país. Não ficou claro se foi uma boa guerra como era considerada na época", diz ela, citando os homens-bomba, seqüestros e ataques com mísseis que continuaram ameaçando os israelenses até hoje.

Algumas pessoas celebram os anos de liberação - outras se lembram dos anos de conquista e domínio sobre outro povo.

Outro povo

As outras pessoas que Esti encontrou, principalmente durante seus anos de serviço militar obrigatório no banco Oeste – assim como Hanan, ela conheceu israelenses apenas como soldado, aos 16 anos, quando foi colocada na cadeia perto de Tel Aviv por quatro meses depois de acusada de jogar pedras em soldados.

"Lembro que senti que, como soldado, eu tinha que estar lá", diz Esti. "Lembro que eles eram pessoas legais, mas eu sempre me pegava me perguntando se eu realmente deveria estar ali".

"Lembro também de ter visto os soldados e a maneira que eles tratavam a população local e eu nem sempre ficava feliz com isso".

A apenas 50 km de Raanana, num campo lotado, onde ela reclama de não ter espaço para brincar, Hanan se lembra dos encontros com israelenses de maneira amarga: "Só vejo os israelenses quando eles vêm para prender alguém nos postos de inspeção", diz ela com um sorriso resignado. "Eles acham que prendendo alguém podem... nos intimidar, mas nosso patriotismo apenas aumenta e meu ódio por eles também".

Movimentações pela paz nos anos 90, quando os líderes palestinos aceitaram a existência de Israel em troca de promessas de um estado, mas tanto homens quanto mulheres afirmam que qualquer esperança que tenha sido criado foi frustrada.

"Isso parece não ter fim", diz Esti, falando da perda de confiança entre israelenses depois da guerra infrutífera contra as guerrilhas do Hezbollah no Líbano, que ocorreu no ano passado e durou um mês.

Hanan também está incerta: "Eu espero que meus filhos tenham uma vida melhor mas o que está acontecendo atualmente indica que não".

Para Esti, são as pessoas que devem buscar a paz e ela lamenta o declínio até dos contatos entre palestinos e israelenses: "Deve haver paz entre as pessoas, não apenas no papel e isso quer dizer que as pessoas deveriam se encontrar com as pessoas do outro lado para conhecê-las de verdade... Estou falando de conhecer os palestinos, conhecer o inimigo de certa maneira, o que faz com que eles sejam encaradas como pessoas". Hanan é cética quanto às intenções dos israelenses: "Eles não querem paz", teme ela. Mas ela pessoalmente está disposta a falar: "Por que eu não iria querer conhecê-los se isso fosse fazer bem ao meu país?"

"Eu acredito que todos nós podemos viver em paz e liberdade... nada é melhor do que viver em seu próprio país, na sua própria terra".

Como outras emoções compartilhadas pela fronteira, é um sentimento que Esti também tem: "Este é... o único país que temos. Deveríamos tentar resolver nossos problemas, infelizmente, a maioria deles começou quando nasci".

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