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Buenos Aires – No centro de Buenos Aires, um contador gigante mostra quantos dias faltam para os argentinos escolherem o novo presidente: apenas quatro. Ninguém parece percebê-lo. Nas ruas, os poucos retratos de candidatos se perdem no meio das propagandas e painéis das lojas. Bem diferente do Brasil, aqui não há gente nas esquinas empunhando bandeiras ou distribuindo panfletos. Até na Praça de Maio, centro da vida política da cidade, há pouca referência sobre a escolha do novo ocupante da Casa Rosada, ali ao lado.

Uma pesquisa do instituto Poliarquia revela que 73,5% da população se interessa pouco ou nada pela disputa atual. São duas explicações para o fenômeno, diz Nicolas Casulla, pesquisador do Departamento de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires. "A oposição se dividiu muito e perdeu a capacidade para competir com o oficialismo. A outra causa são as pesquisas de intenção de voto. A maior parte delas mostra um triunfo grande da Cristina (Fernandes de Kirchner, mulher do atual presidente e candidata da situação). Isso causou um desânimo no eleitorado", observa o professor.

"Derrota da democracia"

A apatia dos eleitores argentinos foi destaque da coluna de ontem do analista político Joaquín Morales Solá, um dos mais conhecidos do país, no diário La Nácion. Ele diz que essa indiferença com o voto é uma derrota para a democracia. "A indiferença das pessoas comuns pode terminar confundindo a democracia com qualquer outro sistema, conhecido ou desconhecido. A democracia é, afinal, impensável sem partidos políticos. É certo que a apatia atual da sociedade pode facilitar o trâmite da eleição para aqueles que mandam. Mas a solidão nunca é boa na política, e esse será o primeiro obstáculo do dia seguinte para o próximo governo", escreveu ele.

Segundo o analista político Rosendo Fraga, a atual campanha é a que mais gerou indiferença desde o estabelecimento do voto universal, secreto e obrigatório, em 1916.

Casal Kirchner

Como disse Solá, o desinteresse político beneficia quem está no poder. No caso, o casal Kirchner. Segundo a pesquisa da Poliarquia, 75% das pessoas que dizem votar nela também se dizem desinteressados com a política. Em relação à segunda colocada, Elisa Carrió, esse número é de 63%.

A arquiteta Carolina Mazzuca, 28 anos, dá sua explicação. "Nenhum deles compensa", afirma ela, que ainda não decidiu o voto. O taxista Hector Luis votará em Roberto Lavagna, o terceiro nas pesquisas. Lavagna foi Ministro da Economia do governo de Néstor Kirchner até 2005 e um dos responsáveis por tirar a Argentina do buraco, após a crise de 2001. "Quando ele saiu do governo, começaram as políticas populistas. Veio essa história de inflação. Ele é o responsável pela atual melhora da nossa economia, então merece meu voto", diz Luis.

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