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Obama respondeu questionamentos em coletiva, que contou com a presença de mais de 100 jornalistas na Casa Branca | Jason Reed / Reuters
Obama respondeu questionamentos em coletiva, que contou com a presença de mais de 100 jornalistas na Casa Branca| Foto: Jason Reed / Reuters

O presidente dos EUA, Barack Obama, afirmou nesta segunda-feira (9) que o "governo federal é a única entidade capaz de oferecer recursos para reativar a economia do país, que enfrenta sua maior crise desde a Grande Depressão". A declaração foi dada na primeira entrevista coletiva de Obama como presidente.

Ao iniciar a entrevista para mais de 100 jornalistas na Casa Branca, o presidente dos EUA fez um novo apelo para aprovação do plano econômico estimado em US$ 827 bilhões que deve ser votado nesta terça (10) pelo Senado. Para Obama, o Congresso deve "superar suas divergências" e aprovar "nesta semana" o pacote para que os EUA "voltem a trabalhar".

"Apenas o governo que pode quebrar o ciclo vicioso no qual a perda de empregos leva as pessoas a gastarem menos dinheiro, e, consequentemente, a mais demissões. E quebrar esse ciclo é exatamente o que o plano que está tramitando no Congresso foi desenhado para fazer", declarou.

Obama disse não ter certeza se o governo precisará de mais do que os US$ 350 bilhões de dólares restantes do pacote de resgate para restaurar o sistema financeiro dos EUA. Ele destacou que o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, fará um anúncio nesta terça (10) para explicar de que forma o governo pretende gastar esse montante.

"Tim Geithner informará sobre planos claros e específicos para começarmos a desbloquear o crédito", disse Obama, defendendo mais transparência e limites aos bônus pagos pelos bancos a seus executivos.

Ele afirmou que sua primeira tarefa é garantir que esses recursos serão gastos sabiamente e com transparência.

"Não sabemos ainda se iremos precisar de mais dinheiro ou de quanto dinheiro a mais iremos precisar, até que vejamos quão bem-sucedidos estamos na tarefa de restabelecer um nível de confiança nos mercados", disse o democrata.

O presidente lembrou que a primeira parcela do Programa de Alívio de Ativos Problemáticos (TARP, na sigla em inglês), no valor de US$ 350 bilhões, não deu bons resultados devido à falta de clareza sobre como o dinheiro foi aplicado e à falta de supervisão.

Investimentos

Segundo o presidente americano, 2009 será um ano difícil, mas, se o plano funcionar, as empresas poderão voltar a investir no ano que vem. "Um dos fundamentos (do plano) é garantir que o crédito vai fluir para as pessoas que precisam, para os consumidores e para as empresas", disse.

Obama argumentou ainda que o governo trabalhará para atrair o capital privado de volta para o sistema bancário, e ajudará os bancos a limparem seus balanços para tornarem-se mais atrativos.

"Teremos de trabalhar com os bancos de forma efetiva para limpar os balanços para que alguma confiança seja restaurada nos mercados", disse.

Ele advertiu que se o governo não agir, a economia norte-americana corre o risco de mergulhar em uma "espiral negativa", que pode prolongar a atual recessão.

O presidente alertou que é preciso colocar dinheiro no bolso dos contribuintes e restaurar o crédito. "Depois, vamos ter de começar a repensar hábitos", declarou.

"Essa não é uma recessão comum. Estamos atravessando a pior crise econômica desde a Grande Depressão", disse Obama durante entrevista coletiva. Ele citou a "década perdida" do Japão, nos anos 1990, como exemplo do que pode acontecer quando a economia não consegue ressuscitar.

"Perdemos até agora 3,6 milhões de empregos. Mas o que talvez seja mais perturbador é que quase a metade dessas perdas aconteceram nos últimos três meses, o que significa que os problemas estão acelerando em vez de melhorarem", sintetizou o presidente.

Braços cruzados

Obama disse que quando decidiu unir republicanos e democratas na discussão do plano de recuperação econômica, o mais importante não era o número de votos que conseguiria conquistar, mas sim o número de empregos que vão ser criados a partir da aprovação do pacote. Segundo ele, o objetivo foi promover a abertura e o diálogo no Congresso e mostrar aos parlamentares que é preciso entender a gravidade do está acontecendo com a economia.

Ele disse que não substimou o bipartidarismo, mas concorda que há maus hábitos em Washington e que leva tempo para mudar esses maus hábitos.

"Não posso me dar ao luxo de ver o Congresso fazendo jogos políticos, mas trabalhar para que o plano seja aprovado, para dar emprego e casas aos americanos. Garantir que eles possam continuar estudando".

Em termos de debate no Congresso, Obama disse que há uma série de pessoas em que acredita em sua honestidade, mas que não estão dispostas a fazer algo para resolver a situação. Ao mesmo tempo, há aqueles que estão preocupados em buscar uma solução rápida para o problema.

"O povo americano não pode ficar esperando que fiquemos de braços cruzados e discutindo detalhes. Se forem sinceros, será um prazer conversarmos sobre cortes de impostos, aqui e ali, num momento mais oportuno", salientou.

Diplomacia

O democrata também admitiu a possibilidade de uma abertura diplomática com o Irã nos próximos meses.

"Minha expectativa é de que nos próximos meses estaremos olhando para aberturas que podem ser criadas onde poderemos sentar à mesa frente a frente, aberturas diplomáticas que permitirão mover nossa política numa nova direção", disse Obama durante entrevista coletiva.

Para ele, são "contraproducentes" as atividades que o Irã desenvolveu durante muitos anos. Entre elas, citou o apoio do grupo radical islâmico Hamas, "a linguagem belicosa contra Israel" e a busca de um programa nuclear.

Essas atividades, disse Obama, "vão contra os interesses" dos EUA e "da paz mundial".

Para obtenção de sucesso em resolver os conflitos no Afeganistão, Obama ressaltou que os EUA precisarão de uma melhor coordenação com seus aliados.

"Precisaremos de mais coordenação efetiva entre nossos esforços militares, nossos esforços diplomáticos e nossos esforços de desenvolvimento, com coordenação mais efetiva com nossos aliados para termos sucesso", destacou.

Ele acrescentou ainda que não existe cronograma para obter esse sucesso.

O presidente dos EUA salientou em entrevista não ter mais dúvidas de que terroristas operam em áreas tribais do Paquistão e afirmou que os EUA querem garantir que Islamabad seja um forte aliado no combate a essa ameaça.

Obama disse que o novo governo do Paquistão se preocupa em assumir o controle dessa situação. Ele acrescentou que "temos que garantir que o Paquistão seja um decidido aliado nosso no combate a essa ameaça terrorista".

Tortura

O presidente eleito dos EUA falou ainda sobre as acusações de tortura a prisioneiros dos EUA. Ele garantiu que seu governo investigará casos "claros" de tortura de detidos.

"Ninguém está acima da lei e se há casos claros de irregularidades, essas pessoas devem ser investigadas, como qualquer outra", disse Obama, que reiterou o compromisso de seu governo de não usar esse tipo de método de coerção.

Obama afirmou que analisará a proposta do presidente da Comissão Judicial do Senado, Patrick Leahy, de criar uma comissão da verdade para investigar o comportamento do governo George W. Bush sobre o assunto.

Apesar disso, o presidente lembrou que está mais interessado "em olhar para frente, que para trás".

Uma alta funcionária do Pentágono reconheceu que um detido de Guantánamo foi submetido à tortura, algo proibido pelo direito americano e internacional.

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