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Quase três anos depois de ser criada, a missão da ONU no Haiti – que teve seu mandato renovado nesta quinta-feira – ainda luta para levar estabilidade ao país assolado pela violência de gangues armadas.

Em entrevista à BBC Brasil, o comandante das tropas da ONU no país, o general brasileiro Alberto dos Santos Cruz, afirmou ser impossível prever por quanto tempo será necessária a presença dos militares, que, pela falta de segurança no país, acabam desempenhando serviços sociais que caberiam às agências civis internacionais e ao próprio governo haitiano.

"É muito difícil fazer uma previsão. Depende das reações que a gente vai encontrar (das gangues armadas nas áreas ainda não controladas)", disse Santos, falando por telefone, de Porto Príncipe.

Desde que Santos assumiu o cargo, em janeiro, as tropas da Minustah têm intensificado suas ações em Cité Soleil, bairro de 250 mil habitantes considerada reduto das gangues armadas mais atuantes da capital haitiana.

Embora a área seja considerada difícil para ações militares dada a grande densidade demográfica e a dificuldade de distinguir civis de integrantes de gangues, o comandante considera que o número de civis mortos nas operações não foi "significativo".

Segundo a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), em pouco mais de um mês, seis pessoas morreram em decorrência de intervenções militares.

"A gente treina o soldado para não atirar em pessoas que não estejam ameaçando ele com arma", disse Santos.

Atendimento médico

Para a MSF, no entanto, desde dezembro, a intensificação da ofensiva contra as gangues de Cité Soleil tem deixado a população vítima do fogo cruzado entre capacetes azuis e as gangues.

Em entrevista à BBC Brasil, o diretor da entidade em Cité Soleil, Fabio Pompetti, também disse que longas operações como a que foi conduzida na semana passada para desarticular uma das gangues mais violentas de Porto Príncipe acabam dificultando o atendimento das vítimas.

Segundo Pompetti, pelo menos uma das três pessoas mortas naquela operação poderia ter sobrevivido se tivesse sido atendida antes.

Questionado sobre o caso, o general Santos disse ser necessário investigar o que aconteceu, mas ressaltou que "todos os criminosos que nos atacam são civis".

O comandante também lembrou que seus militares interromperam a operação para que os médicos do MSF pudesse entrar em Cité Soleil. "Eles sabem muito bem que nós não colocamos impedimento nenhum para as organizações humanitárias."

Mandato

Estendida por oito meses nesta quinta-feira, a Minustah (Missão de Estabilização da ONU no Haiti, na sigla em francês) chegou ao país em julho de 2004, logo após a revolta que derrubou o então presidente Jean-Bertrand Aristide.

Desde então, o mandato da missão tem sido sucessivamente estendido, apesar de pressões de parte da oposição haitiana pela retirada dos militares.

A Minustah também enfrenta resistência dentro da ONU. A China, como membro permanente do Conselho de Segurança, defendia um mandato mais curto, de apenas seis meses, supostamente em protesto ao apoio do governo haitiano a Taiwan - ilha que considera uma província rebelde.

A opção por oito meses seria um meio termo entre o desejo chinês e da própria secretaria-geral da ONU, que em dezembro recomendou uma extensão de um ano.

Para o diretor-executivo da organização não-governamental Viva Rio, Rubem César Fernandes, os militares da ONU no Haiti acabam desempenhando serviços sociais porque o "lado civil (da Minustah) é muito mais lento em acompanhar" o trabalho militar.

A convite da ONU, a Viva Rio está conduzindo um projeto social no bairro de Bel-Air que pretende – com a restauração do acesso a bens como água e saneamento e atividades culturais – revitalizar a região, a exemplo do que foi feito com a Lapa, no Rio.

O general Santos, no entanto, diz que a parte civil da ONU tem de coordenar um grande número de agências diferentes e independentes.

Com 1,2 mil homens, o Brasil é o país com o maior número de tropas na Minustah, que conta com 8,8 mil policiais e militares de cerca de 20 países.

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