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A mudança mais visível em Cuba desde que Fidel Castro se afastou do poder devido a uma cirurgia intestinal é que há menos discursos. Mas uma discreta mudança do regime pessoal para o institucional está em curso, liderada pelo presidente interino, Raúl Castro, segundo analistas.

Os cubanos, acostumados a terem poucas informações extra-oficiais sobre o governo, levam a vida normalmente desde a "proclama à nação" de 31 de julho, pela qual Fidel transferiu interinamente o poder a seu irmão Raúl, ministro da Defesa.

- Nada mudou desde a doença de Fidel. A única diferença é que não há mais discursos na televisão - disse o pedreiro Julio César, de 36 anos.

Fidel não é visto nem ouvido desde que completou 80 anos, no dia 13 de agosto. Naquela data, foram divulgadas imagens dele conversando com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. O veterano revolucionário estava na cama e tinha aspecto abatido.

- Dizem que o irmão (Raúl) poderia mudar as coisas, mas até agora tudo o que vejo são mais policiais nas ruas - acrescentou Julio.

No entanto, diplomatas estrangeiros dizem que há mais coisas acontecendo. A sucessão, em curso, foi planejada há vários meses, segundo eles, quando foi recriado o extinto secretariado do Partido Comunista, com o objetivo de fortalecê-lo.

- A institucionalização do uso do poder começou a substituir o regime pessoal - disse um diplomata europeu. - Há uma nova dinâmica e novos jogadores para observar.

Dirigentes importantes, como o vice-presidente Carlos Lage e o ministro da Saúde, José Ramón Balaguer, assumiram posições mais visíveis.

Lage, que deve representar Cuba em setembro na Assembléia Geral da ONU, liderou nesta semana uma campanha contra a dengue na ilha, uma tarefa normalmente assumida pelo próprio Fidel.

Balaguer, um aguerrido comunista encarregado por Fidel de um dos seus projetos favoritos, a exportação da medicina cubana para o terceiro mundo, comandou na semana passada uma formatura de médicos.

Raúl, de 75 anos, não tem o carisma do irmão, mas comanda a instituição mais eficiente do país, as Forças Armadas. Ele é considerado um organizador pragmático, e deve governar em equipe, segundo diplomatas e especialistas.

Ao contrário de Fidel, que virtualmente ignorava as instituições, Raúl deve se apoiar mais no Partido Comunista, com seus 800 mil membros, de acordo com os analistas.

- A sucessão foi tranqüila até agora - disse o dissidente Manuel Cuesta Morúa, que defende uma democracia pluripartidária. - A única ameaça é um surto de tensão social, e não há sinal disso.

Desde a internação de Fidel, Raúl só se manifestou publicamente uma vez, em entrevista ao "Granma", órgão oficial do PC cubano. Na ocasião, ele disse estar disposto a normalizar as relações com os EUA se Washington suspender o embargo à ilha.

Na terça-feira, o "Granma" noticiou que Raúl se reuniu com o ministro sírio da Informação, Muhsin Bilal, na primeira indicação de que está assumindo as funções de chefe de Estado, em meio aos preparativos para a Cúpula dos Não-Alinhados, que ocorre dentro de duas semanas em Havana.

- Acho que em geral Raúl está no comando, mas delegando muito mais responsabilidade do que Fidel - disse Brian Latell, ex-analistas da CIA e autor de "Após Fidel". - Duvido que Fidel algum dia volte a ficar tão no comando quanto esteve durante 47 anos. Ele pode reunir forças para aparecer na conferência dos Não-Alinhados, mas sua saúde parece estar gravemente abalada.

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