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Varsóvia – O novo arcebispo de Varsóvia, monsenhor Stanislaw Wielgus, renunciou ontem sob a pressão do Vaticano, depois de ter mergulhado a Igreja da Polônia numa crise sem precedentes ao admitir ter colaborado com a antiga polícia secreta comunista.

Um comunicado da nunciatura apostólica em Varsóvia anunciando a renúncia do prelado e sua aceitação pelo Papa Bento XVI foi publicado ao mesmo tempo em Varsóvia e no Vaticano.

Este comunicado destaca que Bento XVI entregou a administração da arquidiocese ao cardeal Jozef Glemp, que ocupava o cargo antes da nomeação de Wielgus, "até que novas decisões sejam tomadas".

Todos os comentaristas poloneses interpretaram este comunicado como uma pressão do Vaticano para obter a renúncia do prelado, dois dias depois de ele ter assumido o cargo.

O anúncio da renúncia, feito pelo próprio monsenhor aos fiéis, foi recebido com gritos de protesto na catedral e com os aplausos dos que defendiam a atitude. Os aplausos, em minoria, vieram, entre outros, do presidente da República, Lech Kaczynski, enquanto os protestos corresponderam à maioria dos fiéis que haviam comparecido à catedral da capital polonesa para assistir à cerimônia de posse do prelado.

São muitos os observadores que apontam Lech Kaczynski – defensor da exclusão de ex-informantes e ex-agentes comunistas da vida pública polonesa – como um dos promotores da renúncia de Wielgus e de sua aceitação pelo Vaticano.

Nas primeiras horas da madrugada de ontem foram realizadas consultas entre representantes da Presidência da República e do Vaticano, com o objetivo de impedir a posse de Wielgus, que contava com o apoio de praticamente toda a hierarquia e da corrente mais conservadora da Igreja e de seus meios de comunicação.

O apoio se manteve mesmo depois que a Comissão de História da Igreja, que analisou os documentos secretos da Polícia comunista, afirmou em seu relatório que não havia dúvida de que o arcebispo havia sido informante e espião.

O sacerdote redentorista Tadeusz Rydzyk, diretor dos meios de comunicação da Igreja, declarou abertamente que a polêmica em torno de Wielgus se devia ao fato de que os inimigos da Igreja queriam ter em Varsóvia um bispo liberal. Nesse clima de pressões e insinuações, foram poucas as autoridades eclesiásticas que, como o arcebispo de Gdansk, Tadeusz Goclowski, se atreveram a anunciar que não participariam da posse de Wielgus e que, se estivessem em seu lugar, renunciariam ao cargo de Metropolitano.

O cardeal veterano Jozef Glemp apresentou Wielgus em sua homilia como uma vítima do comunismo que os jornalistas, os historiadores e os empregados dos arquivos da Polícia comunista querem agora arruinar.

As palavras de Glemp sobre Wielgus arrancaram dos fiéis, mais de uma vez, longos aplausos, mostrando que, para grande parte dos crentes poloneses, o Papa não errou ao nomeá-lo Metropolitano, mas sim ao aceitar sua renúncia.Colaboração

Nomeado pelo Papa no dia 6 de dezembro, Wielgus, 67 anos, havia assumido na sexta-feira. Ele devia suceder Glemp, que ia se aposentar. No entanto, uma comissão especial do episcopado polonês concluiu no mesmo dia que monsenhor Wielgus tinha realmente colaborado com a polícia comunista. Em uma mensagem aos fiéis publicada na noite de sexta-feira, o prelado reconheceu seu "erro" e disse que acataria a decisão do Papa.

Segundo documentos publicados, Wielgus foi recrutado pela polícia secreta em 1967, quando ainda era estudante de filosofia da Universidade católica de Lublin (leste). Sua colaboração durou mais de 20 anos.

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