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Governo de Cristina Kirchner  não apontam a forma como os dados foram levantados | David Fernández/EFE
Governo de Cristina Kirchner não apontam a forma como os dados foram levantados| Foto: David Fernández/EFE

Em um país conhecido mundialmente por alterar as estatísticas para apresentar dados mais simpáticos ao governo, a pobreza é tema tabu.

Nesta segunda (8), a presidente Cristina Kirchner disse na FAO (braço das Nações Unidas para o combate à fome) que o país tem menos de 5% de pobres em sua população.

A cifra produzida pelo hoje controverso Indec, instituto de estatísticas estatal, indica que a Argentina teria menos pobres do que países europeus, como a Dinamarca, a Finlândia e a Noruega.

Para Cristina, o dado ilustraria uma política bem-sucedida de redução da pobreza no país. Mas os números são criticados dentro da própria Argentina.

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5% ou 25%?

Especialistas afirmam que o verdadeiro número de pobreza do país estaria ao redor de 25% da população. O Indec parou de calcular a linha de indigência do país em 2012 e, desde então, publica informações sem esclarecer como calcula o percentual de pobres.

Recentemente, o ministro Axel Kicillof (Economia) justificou a falta de estatísticas de pobreza na Argentina dizendo que é muito complexo calcular esse percentual, pois se trata de uma classificação “estigmatizante”.

Nos cálculos de Daniel Arroyo, ex-integrante do governo de Néstor Kirchner e secretário de desenvolvimento social da província de Buenos Aires, porém, a pobreza rondaria 27% da população argentina.

São pessoas que, segundo diz, tem renda baixa, moram em casas onde faltam serviços públicos, trabalham em empregos informais e têm acesso limitado à saúde e educação.

“Cerca de 10 milhões de argentinos têm algumas dessas dificuldades”, afirmou, em palestra recente na Universidade de Buenos Aires.

Segundo Arroyo, no longo prazo (observando dados desde 2001), houve uma melhora substancial na redução da pobreza no país -em 2001, o problema afligia 57% da população. “Mas nos últimos quatro anos, ou seja, desde 2011, a situação se complicou e o principal motivo foi a escalada da inflação”, disse.

Inflação

No ano passado, a inflação foi de 38%, segundo consultorias privadas -- o Indec tem pouca credibilidade neste campo.

Se os trabalhadores formais têm sindicatos e conseguem reaver parte do poder aquisitivo corroído pela perda de valor da moeda, os informais sofrem mais.

Nos cálculos de Arroyo, um em cada três argentinos trabalham sem registro e, portanto, sem acesso a direitos trabalhistas ou correção salarial.

O especialista afirma que o governo aumentou de maneira expressiva o investimento neste campo. Hoje, cerca de 20% da população argentina (8 milhões de pessoas) recebem algum tipo de benefício social. Os auxílios alimentares alcançam 6 milhões de pessoas.

Ainda assim, diz ele, a inflação prejudica novamente, pois corrói a capacidade de comprar de alimentos, afetando a qualidade da dieta dos beneficiários. Segundo disse, o vale-alimentação está ao redor de 120 pesos (R$ 30). Para se ter uma ideia, um tablete de manteiga ou um litro de leite custa por volta de dez pesos.

Outras entidades também estimam um índice de pobreza mais elevado. O Observatório da Dívida Social, da Universidade Católica, aponta 25% de pobreza e a central sindical opositora (para onde foram alguns ex-funcionários do Indec), 27,8%.

Conselho

Cristina não se abate diante das críticas. Em discurso na Itália, aconselhou os europeus a não adotarem políticas de ajuste que impliquem restrição do consumo. “Quero dizer-lhes que em nosso país essas receitas já foram aplicadas e com péssimo resultado”, afirmou.

“Como podem ver é uma combinação de políticas muito fortes, muito ativas, que nos permitiram hoje ter um índice de pobreza inferior a 5% e de indigência de 1,27%. Se não me engano nos convertemos em um dos países mais igualitários”, afirmou.

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