• Carregando...
Bombeiros e policiais resgatam passageiros de trem que se chocou contra plataforma em uma das estações ferroviárias mais movimentadas de Buenos Aires | Julio Sanders/Reuters
Bombeiros e policiais resgatam passageiros de trem que se chocou contra plataforma em uma das estações ferroviárias mais movimentadas de Buenos Aires| Foto: Julio Sanders/Reuters

Insegurança nos trilhos

A Argentina registra grandes acidentes de trens em sua história, mas nos últimos dois anos as tragédias aumentaram.

1930 – os freios falharam e o trem, que ia de Temperley a Buenos Aires, tombou. Houve 56 mortos e apenas quatro sobreviventes.

1962 – na capital argentina, um micro-ônibus escolar foi atingido por um trem, 31 crianças e 2 adultos morreram.

1970 – dois trens se chocaram em Tigre, 200 mortos e 500 feridos.

1978 – um trem colidiu com um caminhão na província de Santa Fé, 55 mortos e 56 feridos.

Fevereiro/2011 – em San Miguel, um trem não freou e atingiu outro que estava parado, 4 mortos e 16 feridos.

Setembro/2011 – um trem bateu em um ônibus, 11 mortos e 228 feridos.

Outubro/2011 – em San Luis um micro-ônibus escolar se chocou com um trem, 6 crianças e 2 adultos morreram.

Dezembro/2011 – na cidade de Temperley, uma locomotiva não freou a tempo e bateu, 17 feridos, incluindo um bebê de 2 meses.

2 de janeiro/2012 – trem que ia de Retiro a Tucumán, com 1.400 passageiros a bordo, descarrilou. Não houve feridos.

3 de janeiro/2012 – uma mulher morreu esmagada entre a plataforma e o vagão. Ela corria atrás de um ladrão que roubou seu celular.

13 de janeiro/2012 – em San Martín, um homem morreu ao cair do trem.

22 de fevereiro/2012 – ao chegar a uma estação, em Buenos Aires, trem não freou e atingiu a plataforma, 49 mortos e 600 feridos.

Números

• 1.500 pessoas viajavam no trem no momento do choque contra a plataforma na Estação Once, segundo estimativa do secretário de Transporte do governo argentino, Juan Pablo Schiavi.

• 461 pessoas feridas no acidente no centro de Buenos Aires estavam internadas ontem, segundo as autoridades. As vítimas com ferimentos leves foram liberadas após exames médicos.

  • Passageiros feridos aguardam em macas para serem transportados a hospital de Buenos Aires

Um trem lotado em plena hora do rush não conseguiu frear nu­­ma das estações mais frequentadas de Buenos Aires ontem e se chocou contra a plataforma, no que já é considerado o terceiro acidente ferroviário mais grave da história do país – o pior em 34 anos. O choque deixou ao menos 49 mortos e 600 feridos.

O trem da empresa Ferrocarril Sarmiento — que vinha de Mo­­reno, na Grande Buenos Aires — transportava cerca de duas mil pessoas quando bateu na Estação Once, no centro da capital argentina, às 8h32min.

Enquanto uma grande operação era acionada para resgatar as vítimas — dezenas de pessoas fi­­caram presas nas ferragens, e 60 foram internadas em estado grave — a oposição, passageiros e trabalhadores do setor não pouparam críticas ao governo de Cristina Kirchner pelo estado do transporte ferroviário no país, no qual foram registrados quatro acidentes fatais com trens somente no último ano.

As autoridades argentinas afirmaram que ainda estão investigando a causa do acidente, mas fontes da polícia já apontam a hipótese de falha nos freios. A versão é compartilhada por alguns passageiros, que contam que o maquinista vinha enfrentando problemas durante todo o trajeto.

"Ele vinha em altíssima velocidade. Já vinha sem freios desde Haedo. Ia com as portas abertas", contou um passageiro ao canal Todo Noticias.

Outros passageiros, no entanto, garantem que a viagem transcorria normalmente. Uma testemunha que aguardava na Estação de Moreno — de onde partiu o trem — diz, no entanto, ter ouvido o maquinista afirmar que o trem não tinha condições de partir devido a uma falha mecânica. Alguns minutos depois, no entanto, o maquinista teria mudado de ideia, afirmando que o problema havia sido resolvido.

"Esse trem não devia ter saído, eles sabiam. Mesmo assim, saíram, e olha o que aconteceu", disse Gustavo Guevara, ainda em choque, ao Clarín.

O secretário de Transportes, Juan Pablo Schiavi, tentou se esquivar da responsabilidade, lembrando que acidentes como esse acontecem no mundo inteiro, mesmo em países como Ale­­manha e EUA.

A declaração de Schiavi foi re­­batida por diversos políticos da oposição, para quem o sistema ferroviário argentino vem sendo sucateado desde o governo de Carlos Menem (1989-1999). Em dezembro passado, uma locomotiva se chocou contra um trem repleto de passageiros parado numa estação da periferia no sul da capital, deixando 17 feridos. Três meses antes, nove pessoas morreram e 212 ficaram feridas no choque de dois trens e um ônibus numa passagem de nível do bairro metropolitano de Flores.

"Faz anos que a presidente escuta, lê e vê essas denúncias, e não faz nada!", disparou o deputado Fernando Pino Solanas, pedindo a demissão dos responsáveis.

Caso alimenta polêmica sobre fim de subsídio do governo

Folhapress

O acidente de ontem ocorre em meio a uma discussão relacionada à política de subsídios do go­­verno.

Na Argentina, o governo arca com parte dos custos das viagens de trens e ônibus. O novo governo de Cristina Kirchner já cancelou boa parte dos subsídios à eletricidade e à água, mas resiste a terminar com os de transportes, temendo o custo político.

A oposição diz que os subsídios às empresas as libera de fazer as melhorias necessárias nos veículos, o que estaria por trás do alto número de acidentes ocorridos recentemente. Nos últimos 12 meses, houve pelo menos quatro choques fatais entre trens na cidade.

Visivelmente irritado, o secretário (ministro) de Transportes, Juan Pablo Schiavi, deu declarações ontem avisando previamente que não responderia a perguntas dos jornalistas. "Não quero entrar num jogo", declarou.

A oposição e sindicalistas co­­braram do governo mais explicações.

"A responsabilidade é de uma empresa que está marcada pela falta de manutenção e pela im­­provisação em todo o serviço. Por outro lado, há também a falta de controle de todos os órgãos oficiais", disse o líder sindical Ed­­gardo Reinoso, lembrando que o trem acidentado tinha entre 40 e 50 anos de uso.

O secretário de imprensa de sindicato de maquinistas, Hora­­cio Caminos, afirmou que os trens da linha afetada pelo acidente "apresentam deficiências reiteradas". Segundo ele, há vagões da década de 60. "Há muito tempo que denunciamos o nível de de­­sinvestimento e os trabalhadores, todos os dias, têm de colocar os trens em condições para sair", afirmou.

O sindicato dos maquinistas denunciou que existem problemas nos sistemas de freios dos trens de Buenos Aires. "Falta in­­vestimento em manutenção no serviço ferroviário. Há meses que estamos denunciando falhas nos freios", disse um dos delegados do sindicato. "São freios importados há 40 anos e nenhuma empresa ferroviária fez investimentos pa­­ra renovar esses freios."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]