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Muçulmanos rezam em mesquita em Xinjiang, em imagem de 2020: investigação realizada por consórcio de órgãos de imprensa em documentos hackeados desmente tese do regime chinês de “reeducação” contra “extremismo”
Muçulmanos rezam em mesquita em Xinjiang, em imagem de 2020: investigação realizada por consórcio de órgãos de imprensa em documentos hackeados desmente tese do regime chinês de “reeducação” contra “extremismo”| Foto: EFE/EPA/WU HONG

Uma reportagem realizada por um consórcio de 14 organizações de mídia de 11 países e divulgada nesta terça-feira (24) comprova a política de encarceramento em massa de integrantes da minoria muçulmana uigur na região chinesa de Xinjiang e desmente a alegação de Pequim de que membros dessa população seriam apenas submetidos a “reeducação” com o objetivo de combater o “extremismo religioso” e o terrorismo.

Os Arquivos da Polícia de Xinjiang, como foi chamada a investigação, surgiram de um hackeamento em servidores de computadores da polícia local, dados que foram repassados para Adrian Zenz, pesquisador da Fundação Memorial das Vítimas do Comunismo, localizada nos Estados Unidos. As informações vão até o ano de 2018.

Durante meses, a autenticidade dos arquivos foi investigada pelos órgãos de imprensa e agora o resultado do trabalho comprova a violação de direitos dos uigures (classificada como genocídio pelo governo americano) como uma política de Estado na China.

Segundo a BBC, um dos componentes do consórcio, os arquivos hackeados contêm mais de 5 mil fotografias de uigures tiradas pela polícia entre janeiro e julho de 2018. Mais da metade das pessoas fotografadas teria sido detida pela ditadura chinesa.

A investigação também revelou um conjunto de 452 planilhas com nomes, endereços e números de identificação de mais 250 mil uigures, que detalham quais foram detidos, em que tipo de instalação e por quê.

Os documentos evidenciam a arbitrariedade das prisões: além de punições retroativas por acusações de anos ou mesmo décadas atrás, chama atenção como atos banais são considerados crimes pelas autoridades chinesas.

Um homem ficou encarcerado por dez anos por ter “estudado as escrituras islâmicas com sua avó”. Outro foi detido por realizar pregações e estudos das escrituras islâmicas na década de 1980 e por mais recentemente ter “cultivado barba sob a influência do extremismo religioso”.

De acordo com a BBC, também há registros de pessoas punidas com até dez anos de prisão por não usar seus celulares o suficiente ou porque “acabou o crédito do seu celular”, o que seriam sinais de que estariam tentando contornar a vigilância digital do governo.

Além disso, protocolos internos da polícia contidos nos arquivos desmentem o argumento chinês de que as estruturas para onde os uigures eram levados seriam campos de reeducação, já que descrevem a presença de policiais armados em todas as áreas dos acampamentos, o posicionamento de metralhadoras e fuzis nas torres de vigia e uma política de atirar para matar nos que tentassem fugir.

Os Arquivos da Polícia de Xinjiang são divulgados justamente na semana em que a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, visita a China – a região no Noroeste chinês será um dos locais visitados. Entidades representativas dos uigures relataram temores de que a ditadura chinesa manipule a visita para que seja utilizada como “ferramenta de propaganda”.

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