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A neurocirurgiã Kathryn Ko encontra inspiração para suas pinturas nas cirurgias que realiza | Dave Sanders para The New York Times
A neurocirurgiã Kathryn Ko encontra inspiração para suas pinturas nas cirurgias que realiza| Foto: Dave Sanders para The New York Times

Quando Kathryn Ko, 59, não está submetendo um cérebro a uma cirurgia, está pintando um.

"O cérebro é sem dúvida a coisa mais linda do mundo", disse Ko, neurocirurgiã no Centro Hospitalar Kings County, no Brooklyn.

"O poder, o significado. O cérebro é quem somos. E tenho a oportunidade de ver cérebros vivos."

Como cirurgiã e como pintora, Ko é especializada na anatomia do cérebro e do crânio. Sua arte, quer seja realista ou abstrata, é fruto direto de seus 30 anos de experiência com cirurgias de emergência em hospitais de Nova York.

Quando um trompetista de uma orquestra russa sofreu uma queda grave durante uma apresentação em Nova York, em 2010, Ko fez uma cirurgia de emergência que ajudou a preservar sua vida e sua carreira como músico. Mais tarde, ela pintou seu retrato, incluindo a cicatriz em sua cabeça.

"É como meus livros de registro de memórias profissionais, congelando o momento para mim", disse Ko, que é mestra em pintura de um centro de educação a distância e às vezes expõe seus trabalhos. "Procuro representar algo que praticamente ninguém chega a ver, exceto neurocirurgiões."

A disciplina envolvida na pintura e no estudo de cores e formas ajuda a apurar a precisão cirúrgica de Ko, desde suas habilidades espaciais até a capacidade de detectar diferenças de coloração que podem ajudar um cirurgião a reconhecer seções diferentes do cérebro ou a identificar anomalias.

Observar as graduações de cinza na leitura de uma tomografia do cérebro é visto como uma habilidade avançada para um estudante de medicina, ela comentou, "mas é uma coisa que se aprende no primeiro ano de artes".

"O pincel é como uma ferramenta adicional em minha maleta médica –é como um bisturi", ela disse, explicando que a formação de cirurgiã a ajuda a aperfeiçoar sua arte, especialmente no caso da pintura anatômica.

Muitos artistas ao longo da história estudaram corpos para aprender sobre a anatomia humana, mas o trabalho dos cirurgiões com corpos vivos os expõem a tecidos vivos, a circulação sanguínea e o movimento, comentou Ko.

"Nada se compara a olhar um cérebro humano vivo. Existe uma força de vida ali que é indescritível. Podemos ver as cores mudar e desaparecer em pequenos vales onde pulsam veias e artérias."

Isaac Michalowski, cujo filho se tornou paciente de Ko após sofrer uma lesão em 1995, disse que para a médica "o tratamento começa no hospital e termina na tela".

"Ela tem a capacidade de recorrer a seus dois hemisférios cerebrais", ele comentou. "Parece que ela faz essas pinturas de seus pacientes para manter uma ligação com eles. É assim que ela dá um trabalho por encerrado. O pincel dela é a extensão de seu bisturi."

Ali Sadr, chefe de neurocirurgia no Hospital Kings County, disse que a experiência de Ko como artista ajuda a colocá-la "em posição mais vantajosa como cirurgiã. De certa maneira, ela lança uma ponte entre a arte e a ciência."

Quanto a seus dois interesses, Ko disse que as horas que passa na mesa de cirurgia e diante de um cavalete não lhe deixam muito tempo para outra coisa.

"A vida é curta. Se há duas coisas pelas quais você tem paixão, por que não fazer as duas?", ela indagou. "Por que não usar seu cérebro ao máximo enquanto está aqui na terra?"

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