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No fim de uma travessa estreita e sinuosa se ergue uma pequena colina que, até recentemente, era praticamente coberta de arbustos. Agora, com o terreno limpo e nivelado, a construção começou – e, depois de concluída, resultará em um complexo de aço e vidro de vários andares espalhado por 8.360 metros quadrados. Alguém vai morar ali.

Em um artigo entitulado "Here Comes L.A.'s Biggest Residence" ("Vem aí a maior casa de Los Angeles"), o Los Angeles Business Journal conta que a residência, com um preço de venda estimado "em aproximadamente US$150 milhões", terá uma quadra de tênis em cantiléver e cinco piscinas.

"Estamos falando de 200 viagens de caminhões por dia. Agora multiplica isso pelos outros projetos gigantescos que há por aí. O que vai acontecer quando tiver um terremoto? Tudo isso é insano", se enfurece Fred Rosen, vizinho e antigo dono da empresa de venda de ingressos Ticketmaster que também é membro da associação de moradores local.

Esse "tudo isso" não se refere só à casa com cinco piscinas, mas o número cada vez maior de mansões com cara de resort Hyatt que estão sendo erguidas nas áreas mais caras de Los Angeles. Construídas, na maioria, para especulação e com nomes tão imponentes quanto suas dimensões, esses monstrengos estão transformando bairros arborizados e tranquilos em enclaves poeirentos cercados por paredes de retenção, atopetados de caminhões barulhentos e misturadoras de cimento. Na área onde mora Rosen um novo recorde foi batido com a mansão mediterrânea de sete mil metros quadrados erguida para um catariano. E Mohamed Hadid, incorporador famoso e prolífico, é conhecido como responsável por dois palácios de 4.460 metros quadrados cada: Le Palais, em Beverly Hills, que tem um lago cheio de cisnes e um ofurô que acomoda vinte pessoas, e Le Belvédère, em Bel Air, que inclui um hammam (banho turco) e um salão de festas para 250 convidados.

O primeiro foi vendido à filha do presidente do Uzbequistão, Islam Karimov; o segundo, a um indonésio. Jeffrey Hyland, que tem uma construtora em Beverly Hills, diz que o mercado desses palacetes é para "gente da alta". "São oligarcas, milionários do petróleo, asiáticos, gente que cria aplicativo para o iPhone", explica.

Como o caso de Abdulaziz bin Abdullah bin Abdulaziz al-Saud, por exemplo. O saudita comprou a casa no estilo colonial espanhol do produtor de cinema Jon Peters, em Benedict Canyon, demoliu tudo e pediu aprovação para um projeto de 7.900 metros quadrados. Os vizinhos, como Michael Ovitz, fundador da Creative Artists Agency, imediatamente se movimentaram para tentar impedi-lo. (Ovitz, cuja mansão contemporânea/museu de arte projetada por Michael Maltzan tem 2.600 metros quadrados, conseguiu convencer o príncipe a reduzir um pouco a planta ao comentar que duas das estruturas que ele planejava construir davam para seu quintal.) O resultado é que o número de lotes "construíveis" de Los Angeles vem diminuindo e os preços dos terrenos dispararam, com casas desproporcionais como essas pipocando em todo lugar, consequência das brechas nas leis municipais que procuram manter as estruturas proporcionais aos terrenos onde são construídas.

"Não sabíamos nem as dimensões do projeto aprovado oficialmente", diz Paul Koretz, vereador que introduziu medidas para limitar isenções e exigir avaliações ambientais.

Por enquanto, talvez seja melhor os moradores cansados de tanta bagunça e sujeira se lembrarem de que poderia ser pior: como em Trousdale Estates, onde dois policiais foram mortos pro caminhões desgovernados em dois acidentes muito parecidos no ano passado. Na mesma área, uma carreta atingiu dois carros estacionados e capotou, despejando oito toneladas de asfalto quente no jardim de Eric Kranzler, um empresário de talentos cuja casa recentemente ganhou até reportagem na revista Architectural Digest.

Incidentes como esses assombram Rosen, que diz receber todo dia vários e-mails dos vizinhos reclamando dos caminhões – mas apesar de tudo, tenta manter o bom humor em relação ao maior projeto residencial da cidade. "Eu digo para o pessoal que fiquei chateado porque não consegui a concessão da loja de souvenirs".

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