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“A sensação que tenho é de muita tristeza, porque L’Aquila me acolheu quando vim para a Itália. É como se lugares por onde passei não existissem mais" | Arquivo pessoal
“A sensação que tenho é de muita tristeza, porque L’Aquila me acolheu quando vim para a Itália. É como se lugares por onde passei não existissem mais"| Foto: Arquivo pessoal

A pesquisadora curitibana formada pela Universidade Federal do Paraná Ana Amélia Bergamini Machado, que colabora com pesquisa de Astrofísica em L’Aquila, relata o momento do tremor no epicentro do terremoto que abalou a Itália na madrugada de segunda-feira. Apesar de a região apresentar atividade sísmica com frequência e ter tremido várias vezes neste ano, Ana conta que a população não sabe como agir quando ocorre um. Veja a entrevista concedida à Gazeta do Povo ontem, por telefone:

Como foi o momento do tremor?

Senti tremer tudo, a cama tremeu, o lustre se movia muito, as portas do guarda-roupa se abriam e fechavam, foi como num filme de terror. Na parte de baixo da casa, todas as gavetas da cozinha se abriram e caíram alimentos no chão. O espelho do banheiro caiu e quebrou. Tenho amigos que não conseguiam ficar em pé.

Você estava dormindo no momento do terremoto?

Sim. Saltei da cama e fiquei parada, esperando a terra parar de tremer. Nesses momentos eu fico calma. Consegui me vestir, peguei meus documentos, celular e até carregador. Desci as escadas e então houve um segundo tremor, bem rápido. Fechei a porta, encontrei vizinhos na rua e eles me levaram para longe.

Sua casa é segura?

Por sorte a casa é antissísmica. Moro a uns 500 metros da Basílica Santa Maria de Collemaggio, cujo teto caiu. É uma pena porque é um ponto turístico importante, onde o Papa Celestino V foi enterrado. E é nessas horas que a gente pensa sobre o destino. Eu quase morei em um prédio que fica atrás de um hotel que desabou.

Houve tremores anteriores. Você pensou em fugir?

Está tendo pequenos terremotos há algum tempo, então a população está acostumada. Voltei do Brasil em fevereiro, e desde então, a cada dois ou três dias há um tremor de intensidade baixa. Na noite de domingo mesmo houve dois. Fui dormir pensando que era mais um daqueles, ou um pouco mais forte. O problema é que as pessoas não sabem como fazer (quando há um terremoto forte), não são informadas sobre isso.

Você está em um hotel em Teramo por medo de novos tremores?

O pior problema é não ter água e gás em casa, está inabitável.

O que você fará agora?

Estou tomando decisões dia após dia, porque ainda estão ocorrendo pequenos tremores. Hoje vou para Veneza ficar com outros pesquisadores. Depois, quero voltar e ajudar todo mundo que puder, porque são pessoas que conheço, posso receber amigos em minha casa. A sensação que tenho é de muita tristeza, porque L’Aquila me acolheu quando vim para a Itália. É como se lugares por onde passei não existissem mais.

Você é colega do sismógrafo que diz ter previsto o terremoto (Giampaolo Giuliani). Você acha que as autoridades deveriam tê-lo escutado?

É importante lembrar que ele é um técnico, cujo método não tem embasamento científico, não há nada comprovado. Eu só poderia responder se analisasse os dados. Aparentemente, é possível prever que ocorrerão terremotos, mas não onde eles serão.

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