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 | Sandy Huffaker, para o jornal The New York Times
| Foto: Sandy Huffaker, para o jornal The New York Times

A primeira tentativa para desenvolver grama geneticamente projetada acabou em desastre para a empresa Scotts Miracle-Gro. A grama escapou das áreas de teste em Oregon em 2003, reduzindo drasticamente as chances de que o governo aprovasse o produto para uso comercial.

Mesmo assim, a Scotts está mais uma vez desenvolvendo a grama geneticamente modificada que precisaria de menos cortes, teria um verde mais profundo e seria resistente aos danos causados pelo popular herbicida Roundup. Mas dessa vez, a grama não precisará de aprovação nos Estados Unidos.

A Scotts e várias outras empresas estão desenvolvendo culturas geneticamente modificadas usando técnicas que ou estão fora da jurisdição do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos ou utilizam novos métodos — como "edição de genoma" — que não existia quando a regulamentação foi criada.

O Departamento afirmou, por exemplo, que não tem autoridade sobre a nova canola resistente a um herbicida, o milho que gera menos poluição oriunda de resíduos animais, ou sobre a grama adaptada para a produção de biocombustíveis. A tendência vem alarmando críticos de lavouras biotecnológicas, que dizem que a modificação genética pode ter efeitos indesejados, independentemente do processo.

"Estão usando uma brecha técnica para que uma cultura ou um organismo geneticamente modificado escape do regulamento", disse Michael Hansen do Consumers Union. Ele disse que a grama "pode ter todos os tipos de impacto ecológico e ninguém irá verificá-la".

As empresas americanas dizem que, se os métodos usados não forem rotulados de engenharia genética, as novas culturas poderiam ser comercializadas ou cultivadas na Europa e em outros países que não aceitam culturas geneticamente modificadas.

E reguladores de todo o mundo tentam determinar se estas técnicas são consideradas engenharia genética e como elas devem ser reguladas.

A liberdade de supervisão pode abrir oportunidades para pequenas empresas e criadores nas universidades, e para a modificação de culturas menos comuns.

Um estudo encomendado pela indústria disse que as grandes empresas gastam uma média de US$136 milhões no desenvolvimento de uma cultura geneticamente modificada, incluindo US$35 milhões em custos de regulamentação. Culturas geneticamente projetadas, popularmente chamadas de organismos geneticamente modificados ou OGMs, geralmente têm genes de outros organismos inseridos no seu DNA. As mais populares, como o milho resistente a insetos, usam genes de bactérias.

O Departamento de Agricultura é responsável por proteger as culturas americanas de parasitas, que normalmente são insetos ou patógenos. Essa responsabilidade se estende para determinadas culturas OGM, porque em muitas delas o gene estranho é inserido através do uso de uma bactéria, ou o DNA inserido contém gene ativo de um vírus de planta. Mas as empresas podem contornar isso ao evitar componentes de parasitas de plantas.

Algumas empresas estão utilizando novas técnicas de edição de genoma que podem mudar o DNA da planta existente ao invés de inserir genes externos. A Cibus, empresa privada de San Diego, está começando a vender canola resistente a herbicida desenvolvida desta forma. Alguns pesquisadores argumentam que a utilização de edição de genoma para desativar um gene de uma planta, ou para fazer uma pequena mudança em um gene existente, resulta em uma cultura igual à que poderia ser obtida através de mutações naturais e reprodutores convencionais, porém ocorre mais rapidamente.

A edição do gene, eles argumentam, é mais precisa do que a técnica existente de expor plantas à radiação ou substâncias químicas para induzir mutações na esperança de gerar uma mudança desejável. Essa técnica tem sido usada há décadas e não é regulamentada, mesmo que potencialmente possa causar alterações não intencionais nas culturas.

Porém, os críticos dessas culturas biotecnológicas dizem que as técnicas de edição de genoma podem fazer alterações no DNA das plantas diferente do que era pretendido. Além disso, a edição de genes é normalmente feita em células da planta ou em seu tecidos desenvolvidos em laboratório. O processo de transformar essas células ou tecidos geneticamente alterados em uma planta completa podem gerar mutações.

Jennifer Kuzma da Universidade Estadual da Carolina do Norte disse que é preciso haver um debate público sobre o que deveria ser regulamentado. "Não é que eu acho que isso seja arriscado", disse ela sobre as culturas que escapam do regulamento. "Mas o fato de que esse é o caminho que tomamos sem qualquer discussão é preocupante."

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