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O procurador Germán Juárez Atoche, integrante da Operação Lava Jato no Peru, criticou o asilo diplomático no Brasil que o governo Lula concedeu à ex-primeira-dama peruana Nadine Heredia, logo após ela e o marido, o ex-presidente Ollanta Humala (2011-2016), terem sido condenados a 15 anos de prisão pela Justiça do país andino.
“Que coincidência ser o Brasil! Quem é o presidente? Lula da Silva, aí está a conexão. Isso confirma mais uma vez a relação que existia entre o Partido dos Trabalhadores, liderado por Lula da Silva, e o senhor Ollanta Humala. É por isso que há apoio, por afinidade ideológica”, disse Atoche, em entrevista à rádio RPP.
Heredia chegou nesta quarta-feira (16) ao Brasil após ter recebido asilo diplomático.
Heredia havia se refugiado e solicitado asilo na Embaixada do Brasil em Lima na terça-feira (15), horas após ela e Humala terem sido condenados pela Justiça do país por lavagem de dinheiro qualificada devido ao financiamento ilegal, por parte do ex-ditador venezuelano Hugo Chávez e da construtora brasileira Odebrecht, para campanhas eleitorais de Humala em 2006 e 2011.
Ao contrário da esposa, Humala foi preso e transferido para o presídio de Barbadillo logo após o anúncio da sentença, à qual cabe recurso.
Na entrevista, Atoche refutou as críticas da defesa do ex-presidente sobre a prisão imediata dele.
“Essa posição não é correta, pois o Código de Processo Penal estabelece que a suspensão [imediata da prisão após sentença] é facultativa”, argumentou o procurador.
“Digo isso por experiência própria no caso Títulos Soberanos [processo sobre tráfico de influência no Ministério da Economia e Finanças do Peru], em que algumas pessoas foram condenadas a oito e seis anos de prisão. A pessoa condenada a oito anos foi detida imediatamente após o anúncio da sentença; o critério foi pela gravidade da pena. Imagine se o senhor Humala tivesse ido para casa, teria ido com a esposa para a embaixada brasileira”, ironizou.
O El Comercio, um dos principais jornais do Peru, criticou Lula num editorial com o título “Asilo e impunidade”.
“É paradoxal e questionável que Lula da Silva, que também foi preso por casos ligados à Lava Jato, tenha decidido se tornar protetor de uma condenada por receber dinheiro ilícito da mesma empresa brasileira: a Odebrecht”, afirmou o jornal.
Numa das ações da Lava Jato nas quais foi condenado, Lula foi acusado de ter sido beneficiado por uma reforma num sítio em Atibaia (SP) paga pela Odebrecht e pela OAS, mas as condenações do presidente na operação foram anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A corte também suspendeu ações contra Lula por supostas doações da Odebrecht para a compra de um terreno para a sede do Instituto Lula e de um apartamento em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo).