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Sírios carregam caixões de pessoas mortas em confrontos no país: neste domingo, foram 39 | Handout/AFP Photo
Sírios carregam caixões de pessoas mortas em confrontos no país: neste domingo, foram 39| Foto: Handout/AFP Photo

O presidente sírio, Bashar Assad, declarou ontem, em seu primeiro discurso desde janeiro, que está determinado a continuar lutando contra as revoltas que ameaçam seu regime há quase 15 meses e denunciou a existência de uma "guerra" contra seu país, que seria, segundo ele, promovida por países estrangeiros. Assad acusou de "bárbaros" os autores do massacre de Hula, que deixou 108 mortos no dia 25 de maio, sendo 49 deles crianças, e que comoveu a opinião pública internacional.

O discurso de mais de uma hora de Assad foi realizado em um momento no qual têm se multiplicado os pedidos internacionais por um fim à sangrenta violência na Síria, onde o regime continua reprimindo a revolta popular e os combates entre soldados e rebeldes têm se intensificado.

O plano de saída da crise do mediador da ONU e da Liga Árabe, Kofi Annan, prevê o cessar-fogo, mas ficou apenas no papel e a Síria continua à beira de uma guerra civil. "A Síria é alvo de um plano de destruição", disse Assad durante seu discurso, realizado ante o novo Parlamento e transmitido pela televisão, no qual se apresentou como uma barreira contra o "terrorismo que se eleva".

O presidente sírio, que não reconhece os movimentos de protesto e os vê como "terrorismo", disse que seu regime "tentou utilizar de todos os meios políticos", mas seus esforços foram em vão porque o país enfrenta "uma verdadeira guerra estimulada por países estrangeiros e os meios para enfrentá-la são diferentes".

De acordo com Assad, os responsáveis pelo terrorismo não estão interessados no diálogo ou em reformas, pois possuem uma missão e não vão parar até que a cumpram, ou até que sejam detidos. Assad descartou ainda qualquer diálogo com os opositores vinculados ao exterior, em referência ao Conselho Nacional Sírio (CNS), o principal componente da oposição, baseado no exterior.

No início de seu discurso, o ditador homenageou "todos os mártires, civis ou militares" e afirmou que o sangue destes não foi derramado em vão. Tanto a rebelião quanto o regime sírio rejeitam a responsabilidade pela matança, mas um alto responsável da ONU disse que pesavam "fortes suspeitas" sobre as milícias favoráveis ao regime. Uma investigação internacional independente está em curso.

Assad, cuja família está no poder há quatro décadas, tem feito poucas aparições públicas desde o início da revolta popular de 15 de março de 2011, mas sempre que as fez, alegou a existência de um complô de grupos terroristas estrangeiros para semear­ o caos no país. Mais de 13,4 mil pessoas foram mortas nos últimos 15 meses, a maioria civis vítimas da repressão, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH). Neste domingo, 39 pessoas morreram em episódios de violência no país.

Manobras

Frente à escalada, o chefe da diplomacia saudita, Saud al-Fayçal, cujo país é um forte crítico do regime sírio, acusou Assad de "manobrar" para "ganhar tempo" e afirmou em Jedá que seu país "apoia a criação de uma zona tampão na Síria". O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, acusou Assad de ter uma conduta autocrática. A organização Human Rights Watch pediu que os grupos que vendem armamentos para Damasco sejam isolados, como é o caso da empresa pública russa Rosoboronexport, porque "fornecer armas à Síria enquanto são cometidos crimes contra a Humanidade pode ser interpretado como uma assistência na prática desses crimes". A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, pediu ontem que a Rússia apoie uma transição política na Síria, declarando que a saída do presidente Bashar Assad não é uma condição prévia, mas que deve ser "um resultado" desta transição.

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