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Protestante em Istambul, na Turquia, queima um retrato do presidente sírio Bashar Assad | Bulent Kilic/AFP
Protestante em Istambul, na Turquia, queima um retrato do presidente sírio Bashar Assad| Foto: Bulent Kilic/AFP
  • Presidente sírio Bashar Assad durante uma demons­­tração realizada depois das orações da últi­­ma sexta-feira

Pressão externa sobre o presidente sírio aumenta, assim como a tensão, dada a influência do país no mundo árabeIrinêo Baptista Netto"A Síria é um país especial", diz Andrew Traumann, professor de Relações Internacionais do Centro Universitário Curiti­­ba (UniCuritiba). É uma maneira cirúrgica de definir a nação comandada por Bashar Assad desde 2000. Antes dele, Hafez Assad, o pai, teve o poder por 30 anos.

Além de ser "um dos regimes mais fechados do mundo", nas palavras de Traumann, o país mantém uma relação es­­treita com o Irã e com o Ha­mas. "Tudo que acontecer na Síria vai ter repercussão enorme – por isso vemos a cautela dos Estados Unidos", diz.

De fato, o governo norte-americano anda miúdo quando tem de se aproximar da Sí­­ria. Ele não tem petróleo como outras nações árabes, mas a influência que exerce na re­­gião pode valer tanto quanto.

A Síria é inimiga de Israel e, tecnicamente, os dois países ainda estão em uma guerra iniciada em 1977, mas cujo fim não foi formalizado. Para tentar um acordo, os israelenses teriam de ceder a região das Montanhas de Golan para os sírios e eles não se mostram dispostos a isso.

Assad mantém um acordo de mútua defesa com o Irã de Mahmoud Ahmadinejad e, no caso de uma intervenção externa – suponha que os EUA invadam o país –, os iranianos certamente vão ajudar os sírios a se defenderem. Agora, a ONU abriu inquérito para investigar a repressão aos manifestos, enquanto os EUA impõem novas sanções contra o regime.

Nessa equação, existe ao menos uma certeza: "Os EUA vão fazer tudo para Israel não sair prejudicado", diz Trau­­mann. Poucos têm disposição de criticar a política sionista do Estado israelense e a Síria faz parte dessa minoria.

"Como se coloca em contraposição ao que se pode chamar de projeto americano-israelense para a região e tenta construir um cenário diferente, [o país sírio] tem pago um preço importante, em termos de isolamento, de imagem, e também economicamente. Assim, o regime sírio foi forçado a ser mais hábil e ágil na sua adaptação, além de ter desenvolvido uma política externa muito competente", diz Salem Nasser, professor da Fundação Getúlio Vargas.

Nasser explica que os movimentos "lentos" do regime de Assad e a estabilidade do país são apresentados como argumentos para contrapor o "evidente caráter autoritário do regime a aos excessos de seu aparato de segurança".

O professor da FGV descreve Assad como um homem "inegavelmente inteligente", capaz de perceber a necessidade de mu­­danças no país. "Talvez não te­­nha conseguido vencer em tempo ou eficazmente a resistência da máquina do regime e a violência da repressão talvez se explique em parte por isso", diz. "Com­­binados o forte movimento que sacode o mundo árabe, o possível déficit de controle sobre as forças de segurança e as pressões externas, é possível que o re­­gime, e também o seu líder, te­­nham decidido que não havia alternativa senão voltar aos antigos métodos, de violenta repressão."

Pelo papel que desempenha na região e pelo que afirmam aqueles que defendem o regime de Assad, a Síria vive uma situação diferente do Egito e da Tunísia, países árabes que derrubaram ditadores com revoltas populares, abrindo caminho para a democracia.

"A Síria não vive uma revolta popular", diz o professor Ja­­mil Iskandar, da Universidade Federal de São Paulo e integrante do Instituto Brasileiro de Estudos Islâmicos. "Nas imagens que vêm da Síria, não é nítida a manifestação do povo. Infelizmente, a mídia internacional não está transmitindo a realidade."

Em entrevista por telefone, o médico Jalal Assad, do hospital Al Watani, na região síria de Homs, também diz que a maioria da população está a favor do presidente e que "massacre", a palavra usada pelo Observa­­tó­­rio de Direitos Humanos para definir a situação no país, "não se encaixa no quadro atual da Síria".

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