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| Foto: Caren Firouz/Reuters

O mundo se debruça neste início de ano igualmente sobre problemas novos e antigos. As tensões criadas após o 11 de Setem­bro dividem espaço com problemas trazidos do século 20, como o conflito israelo-palestino e a pressão por reformas no regime cubano.

Porém, 2010 se abre sob um horizonte mais claro do que aquele surgido dez anos atrás, durante a euforia pela virada do milênio, quando qualquer perspectiva sobre o novo século esbarrava na dúvida. Nos Estados Unidos, Bill Clinton encerrava um governo de transição entre o fim da União Soviética e a expansão do capitalismo liberal. Bush era apenas o candidato republicano em ascenção. Dez anos depois, velhos conflitos envolvendo invasões, ameças de guerra e governos autoritários permanecem sem solução e já fazem parte do noticiário do novo ano.

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Irã nuclear

Os avanços do programa nuclear iraniano contradizem cada vez mais o discurso do presidente Mahmoud Ahmadinejad (foto 1), que garante estar enriquecendo urânio apenas para gerar energia. Em fevereiro de 2009, a Agência Internacional de Energia Atômica encontrou no país, pela primeira vez, níveis de enriquecimento de urânio superiores aos usados nas usinas. O material encontrado era suficiente para a fabricação de uma bomba atômica. Como não há nenhum instrumento internacional para proibir o avanço do programa iraniano – e uma intervenção militar é política e economicamente inviável – 2010 deverá presenciar uma escalada nos esforços diplomáticos em relação ao Irã. "A construção de uma bomba atômica é importante para o Irã, que não vê outras formas de garantir sua soberania diante de um contexto de crescente instabilidade em relação à presença dos Estados Unidos na região", afirma o professor de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília Juliano Cortinhas.

O triunfo do Cone Sul

A América do Sul se vê ascendendo perante as nações desenvolvidas, mudança creditada ao esforço integrador entre os países. "Nos demos conta há pouco de que a integração é um processo necessário para que alcancemos uma melhor posição no cenário global. Após anos de dominação colonial, seguidos de dependência do capital internacional, estamos finalmente conquistando alguma autonomia cultural", analisa o historiador Daniel Chaves. Mas esse processo também é responsável pelo acirramento de tensões, como ocorreu em 2009 entre Colômbia e Venezuela (na foto 2, o presidente Hugo Chávez). Para Cortinhas, "os problemas que mais afetam a integração são divergências econômico-comerciais, que estão presentes em qualquer processo de união. A formação de blocos é um processo, não um acontecimento. As análises sobre essa questão tem de considerar perspectivas de longo prazo".

O abismo das guerras

A empreitada americana no Iraque foi um erro assumido. Os EUA iniciaram no ano passado a retirada gradual das tropas do país, para se concentrar no Afeganistão. Para Juliano Cortinhas, a situação no Iraque (foto 3) é estável o suficiente para que os soldados americanos possam ir embora e deixar o controle do país ao governo local. "A pressão da opinião pública sobre Obama não deve aumentar. O Iraque perderá importância nas discussões da atual gestão, apesar de continuar sendo um cenário de operações por tempo indeterminado", analisa Cortinhas. Para Daniel Chaves, historiador da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o eleitorado pressiona pelo fim da intervenção no Iraque. "A sociedade americana pede a retirada das tropas embasada na opinião dos países aliados, que consideram a invasão um erro estratégico", relaciona.

Em nome de Deus

O conflito Israel-Palestina se estende por 63 anos, desde a criação do Estado de Israel após a 2ª Guerra, mas tem origens histórico-religiosas muito mais profundas. Nos últimos anos, os pequenos avanços nas negociações foram rapidamente inutilizados por ataques militares e isolacionismo. O ano de 2009 começou com uma guerra entre Israel e o partido palestino Hamas, que detem o poder na Faixa de Gaza (foto 4). Após 22 dias de confronto e 1.400 mortos (na maioria, palestinos), os esforços de pacificação estão congelados. "Não há mudanças à vista, infelizmente. A região é foco de conflitos há milhares de anos e a perspectiva é de manutenção das rivalidades e instabilidades", sentencia Cortinhas. Em 2010, ambos os lados estão prestes a andar para trás. Israel segue expandindo seus assentamentos do outro lado da fronteira. Na Palestina, as eleições que ocorreriam neste mês foram adiadas indefinidamente após a desistência de Mahmoud Abbas em concorrer à reeleição.

O ocaso dos comandantes

Desde 2006, quando Fidel Castro se afastou do poder em Cuba para tratamento médico, a liderança do Partido Comunista cubano vem sendo minada por desejos reprimidos de reforma política e abertura comercial. No ano passado, o governo Obama começou um flerte com a ilha. O democrata derrubou as restrições a viajens de cubano-americanos ao país de origem e permitiu a exportação de produtos estratégicos (computadores, celulares) a Cuba. O historiador Daniel Chaves aposta na abertura cubana. "Mesmo com todo o apoio otimista e quase simbólico da esquerda latino-americana, Cuba necessita de uma transição o quanto antes. Quem vai a Cuba e convive com o povo sabe que há a expectativa por uma maior participação em um mundo cada vez mais globalizado", observa. Juliano Cortinhas põe ressalvas no compromisso americano para a região: "O governo Obama ainda não apresenta maturidade política suficiente para encerrar o embargo comercial, imposto desde a crise dos mísseis em 1962".

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