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O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo (esq), e o príncipe da coroa saudita, Mohammed bin Salman, em Jeddah, Arábia Saudita, 18 de setembro de 2019
O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo (esq), e o príncipe da coroa saudita, Mohammed bin Salman, em Jeddah, Arábia Saudita, 18 de setembro de 2019| Foto: BANDAR AL-JALOUD / Saudi Royal Palace / AFP

As tensões entre os Estados Unidos e o Irã aumentaram nesta quarta-feira (18), quando o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, descreveu os ataques contra a indústria petrolífera saudita como um "ato de guerra" e o presidente Donald Trump ordenou um aumento substancial das sanções contra o governo em Teerã.

O Irã alertou os Estados Unidos que retaliaria qualquer ataque contra o país, informaram agências de notícias iranianas na quarta-feira. Um ataque ao território iraniano teria uma resposta "rápida e esmagadora", disse a Agência de Notícias Fars.

A Arábia Saudita apresentou, nesta quarta-feira, destroços de mísseis que teriam atacado a unidade de processamento de petróleo Abqaiq e afirmou que os ataques foram "inquestionavelmente patrocinados pelo Irã" e não se originaram no Iêmen, baseando a informação em parte no alcance das armas supostamente recuperadas.

Apesar das evidências que alegadamente apontam para a responsabilidade do Irã ou de seus representantes no Iêmen pelo ataque, a maioria dos líderes mundiais aguarda por uma investigação comandada pela ONU sobre o que aconteceu, minando implicitamente a autenticidade da resposta inicial dos EUA.

Os signatários do acordo nuclear com o Irã que Trump abandonou unilateralmente no ano passado, antes de impor novas sanções contra o país persa, permanecem em cima do muro por enquanto. Os governos da França e da Alemanha, que foram importantes na criação de um mecanismo destinado a facilitar o comércio com o Irã em meio às sanções americanas, condenaram os ataques sem apontar para um responsável.

O acordo de 2015 sobre o programa nuclear do Irã foi assinado com o grupo de potências mundiais conhecido por P5+1: EUA, Reino Unido, França, China, Rússia e Alemanha.

Rússia

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, respondeu ao ataque de sábado com escárnio. Em um evento na segunda-feira na Turquia, ao lado de dois rivais regionais da Arábia Saudita, Putin sugeriu que o reino compre o sistema russo de defesa S-300 ou o S-400, como o Irã e a Turquia fizeram. "Eles protegerão de forma confiável toda a infraestrutura da Arábia Saudita", afirmou Putin. O presidente iraniano Hassan Rouhani, também presente no evento, riu com as declarações.

Putin continuou: "E eles [os sauditas] precisam tomar uma decisão sábia, como o Irã fez ao comprar o nosso S-300, e como [o presidente da Turquia] Erdogan fez ao decidir comprar o S-400, mais avançado, da Rússia".

Rouhani, em tom de brincadeira, perguntou a Putin qual sistema ele recomenda, o S-300 ou o S-400. "Eles podem escolher", respondeu o russo. Muitos analistas consideraram os comentários uma provocação direcionada às políticas de Trump na região e à reputação de Washington como um aliado não-confiável.

O sistema S-400 ainda não foi testado em situações reais, mas é consideravelmente mais barato que o sistema Patriot, dos EUA, e possui alguns recursos técnicos que são, pelo menos no papel, uma melhoria em relação ao sistema dos EUA, incluindo um alcance mais longo e a capacidade de operar em qualquer direção.

Embora a Arábia Saudita tenha cogitado a ideia de comprar o sistema S-400, o reino provavelmente estava ciente de que isso teria um efeito desastroso em seu relacionamento com o governo Trump.

Na quarta-feira, Putin discutiu os ataques aos campos de petróleo com o príncipe Mohammed bin Salman, informou o Kremlin. Os dois líderes expressaram o seu compromisso com a cooperação bilateral para estabilizar os preços do petróleo, e o russo defendeu uma investigação ampla e imparcial sobre os ataques.

Reino Unido

Os Estados Unidos e o Reino Unido concordaram com uma "resposta unificada" aos ataques, afirmou um comunicado do governo britânico. O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, e o presidente Trump "condenaram os ataques e discutiram a necessidade de uma resposta diplomática unificada de parceiros internacionais" em conversa por telefone, disse o comunicado.

Johnson também discutiu o assunto por telefone com a chanceler alemã Angela Merkel. Os dois concordaram com a "necessidade de trabalhar em conjunto, ao lado de parceiros internacionais, para chegar a um acordo sobre uma resposta coletiva", informou o governo britânico. Johnson e Merkel reforçaram a "importância de evitar maior escalada de tensões na região".

Alemanha

Angela Merkel defendeu o retorno ao acordo nuclear com o Irã como a única maneira de diminuir as tensões no Oriente Médio. "Nós acreditamos que o acordo que impede o Irã de obter capacidades militares nucleares é o elemento fundamental para o qual nós devemos retornar", disse a chanceler, em coletiva de imprensa com o rei Abdullah, da Jordânia, em Berlim.

"Mas há também uma longa lista de outras pressões vindas do Irã, como o programa de mísseis balísticos e o seu envolvimento com a Síria", disse Merkel, segundo a Aljazeera. "Nos últimos dias, as tensões na região aumentaram e a Alemanha sempre será a favor da redução das tensões, e as soluções de longo prazo apenas são possíveis por meio de um processo político".

A Alemanha tem um embargo às vendas de armas para a Arábia Saudita desde outubro passado, quando o jornalista dissidente saudita Jamal Khashoggi foi assassinado. A proibição foi contestada, mesmo no partido da chanceler Angela Merkel, após os ataques contra os campos de petróleo sauditas. No entanto, Merkel declarou na terça-feira (17) que não via "condições, no momento, para uma mudança de posição" do governo alemão, indicando que prorrogaria a proibição além do seu prazo inicial em 30 de setembro, segundo a imprensa alemã.

Nesta quarta-feira, um porta-voz do governo anunciou a extensão do embargo até março de 2020.

França

O presidente francês Emmanuel Macron conversou sobre o ataque por telefone com bin Salman na terça-feira e afirmou que o mundo não deve mostrar fraqueza diante desses ataques. Um comunicado do seu gabinete informou nesta quarta-feira que a França, em resposta a um pedido da Arábia Saudita, enviará especialistas para ajudar nas investigações sobre a origem e as modalidades do ataque. Macron condenou fortemente o ataque, disse o palácio presidencial, e garantiu a bin Salman que a França estava comprometida com a estabilidade no Oriente Médio.

Na terça-feira, o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, disse que o seu país até o momento não tinha evidências que comprovassem o país de origem dos drones que atacaram os campos de petróleo. Em coletiva de imprensa no Cairo, Egito, ele disse que é preciso haver "uma estratégia de redução das tensões" e apoiou a proposta saudita de envolver a ONU nas investigações.

China

A China condenou o ataque nas instalações petrolíferas sauditas na terça-feira, de forma mais dura do que havia feito no dia anterior, mas ainda sem apontar o dedo para possíveis culpados. Em Pequim, uma porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que o país "condena este ataque contra as instalações de petróleo da Arábia Saudita e se opõe a qualquer ataque a civis ou instalações civis".

A China tem relações estreitas de economia e de energia tanto com a Arábia Saudita quanto com o Irã, e há tempos tem cuidado ao tratar dos laços com ambos os países. A Arábia Saudita é o maior fornecedor de petróleo para o país asiático, segundo a Reuters.

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