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Pistoleiros à paisana mataram dez pessoas e feriram dezenas na quarta-feira na capital do Iêmen, ao abrirem fogo contra manifestantes que exigiam a saída imediata do presidente Ali Abdullah Saleh.

As mortes encerraram um dia de protestos que mobilizou dezenas de milhares de iemenitas, muitos deles contrários a uma proposta regional de acordo, apoiada pelo governo e pelo principal grupo de oposição, que daria a Saleh mais um mês para deixar a presidência, cargo ocupado por ele há 32 anos.

O acordo, intermediado pelo Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), também daria imunidade a ele e à sua família.

Os manifestantes atacados em Sanaa tentavam chegar a uma área fora do bairro onde estão acampados desde fevereiro, e exigiam que Saleh deixe o cargo imediatamente, segundo testemunhas.

"Recebemos corpos e os levamos para um hospital privado", disse Mohammad al Qubati, médico no hospital de campanha montado no lugar de reunião dos manifestantes. Um médico no local posteriormente disse que pelo menos dez pessoas morreram em decorrência dos ferimentos.

CONFRONTOS

Mais cedo, os manifestantes haviam bloqueado o acesso a um importante porto do mar Vermelho, e entraram em confronto com as forças de segurança no sul do Iêmen. Um manifestante e um soldado foram mortos nesses confrontos, de acordo com fontes hospitalares e locais.

"O povo quer a partida (de Saleh), não uma iniciativa", gritavam os manifestantes em frente ao porto de Hudaida, onde as operações marítimas continuaram sem alterações.

Separadamente, as forças de segurança balearam pelo menos quatro manifestantes na província Lahij (sul), disseram testemunhas e fontes médicas.

O acordo destinado a encerrar o impasse político no Iêmen deve ser assinado no domingo em Riad (Arábia Saudita), três meses depois de os iemenitas começarem a sair às ruas para exigir a demissão de Saleh, inspirados nas rebeliões que derrubaram os governantes do Egito e da Tunísia.

Após várias semanas de violência, o equilíbrio de poder se inclinou contra Saleh, tradicional aliado do Ocidente no combate à Al Qaeda, mas que ficou enfraquecido por causa da violência, de deserções militares e de reveses políticos.

Em Hudaida, um dos organizadores do protesto, Abdul Hafez Muajeb, disse que a Guarda Costeira havia recepcionado bem os manifestantes e erguido um cartaz prometendo não usar armas contra o povo.

"Vamos fechar o porto porque suas receitas são utilizadas para financiar os bandidos", disse o manifestante Muaz Abdullah, referindo-se aos agentes à paisana que muitas vezes usam adagas e cassetetes para dispersar os protestos.

A grande participação popular nos protestos indica que os manifestantes - na sua maioria jovens, incluindo estudantes, membros de tribos e ativistas - têm condições de atrapalhar o acordo mediado pelo CCG. Eles prometem permanecer nas ruas até que suas exigências sejam atendidas.

Também não está claro se os partidos de oposição, compostos por militantes islâmicos, nacionalistas árabes e esquerdistas com participação intermitente no governo nos últimos anos, seriam capazes de coibir os protestos, mesmo que pressionados a fazê-lo por um governo de transição.

Washington e Arábia Saudita querem que o impasse seja resolvido logo. Eles temem que um agravamento da violência no Iêmen, país mais pobre da Península Arábica, abra mais espaço para as operações da "filial" local da Al Qaeda.

O acordo do CCG prevê que Saleh nomearia um primeiro-ministro da oposição, que então formaria um governo de transição até eleições presidenciais num prazo de dois meses após o afastamento do presidente. Mas o prazo de um mês para que Saleh se demita gerou temores de que haveria tempo para uma possível sabotagem do plano.

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