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Resgate

Decisões foram acertadas

Apesar das críticas à falta de segurança em Copiapó, a maioria dos especialistas em minas considera que as decisões tomadas para preparar o resgate foram corretas, a começar pela adoção de três trabalhos de perfuração concomitantes.

"Como todo trabalho em mina, eles estavam sujeitos a paralisações por falha no equipamento e outras questões", disse à reportagem o professor de Engenharia de Minas da UFMG Roberto Galery.

Isso ficou claro quando houve falha no chamado "plano A", que foi suspenso.

O geólogo e vice-presidente do Comitê Brasileiro de Túneis Hugo Rocha aponta que o acerto já começou com o trabalho feito com os mineiros, de avaliação da saúde, motivação e preparo para a subida. "Em projetos como esse, a fase mais importante é o planejamento. Com ele pronto, é possível ir até o fim sem interrupções", disse à Gazeta do Povo.

Em seguida, vieram a construção dos torpedos para envio de comunicação e comida aos mineiros e a construção da infra-estrutura necessária para o resgate, além da perfuração em si.

O geólogo da UFPR Renato Lima também reconhece que a equipe de socorro soube mobilizar muito bem os recursos necessários para o resgate. "Não bastava fazer a perfuração. Foi necessário armar todo o serviço de comunicação, alimentação e garantia da saúde", considera.

Passado o clima de euforia de­­corrente do resgate bem-sucedido dos 33 mineiros em Copiapó, após 69 dias de preparo para a retirada, crescem as críticas às condições de trabalho na mina San José. A ponderação atinge até o próprio resgate, que al­­guns consideram que poderia ter sido mais veloz.

O geólogo da UFPR Renato Li­­ma contesta a versão quase unânime de que a retirada representou um primor técnico. Ele defende que uma empresa mineradora precisa prever de antemão as possibilidades de acidente e já ter preparadas alternativas de resgate. "Não dá para esperar o acidente ocorrer e só então fazer todo o plano", disse à Gazeta do Povo.

Que as condições de segurança eram insuficientes, poucos contestam. Entre os principais proble­­mas apontados está a falta de uma saída de emergência, que é obrigatória em outros países, incluindo o Brasil. "Provavel­­mente, houve uma falha dos órgãos de governo do Chile em fazer a fiscalização dos protocolos e da metodologia de segurança da mina", disse o consultor em engenharia mineira Décio Casadei à revista Veja.

Os próprios mineiros não se deixaram seduzir pelo alívio do resgate e pelo afeto do casal presidencial chileno, que os esperava à saída do túnel, e colocaram a boca no trombone. O segundo mineiro a sair, Mario Sepúlveda, foi o primeiro a criticar as condições de trabalho: "Este país tem de entender que é necessário haver mu­­danças", disse.

Dos seis socorristas que desceram para preparar o trajeto dos mineiros de volta à superfície, três se declararam estarrecidos com as condições enfrentadas pelos trabalhadores nas entranhas da mina. Eles relataram um "calor insuportável", além do desconforto causado pela umidade próxima de 100% e da falta de elementos mínimos de segurança. "Traba­­lhar a essa temperatura durante 12 horas... Acho que nenhum ser humano poderia voltar a fazê-lo", afirmou Manuel González, último a deixar a mina, na madrugada de quinta-feira.

Em reconhecimento às condições de risco a que são expostos os trabalhadaores, o presidente Sebastián Piñera afirmou que o país modificará padrões para garantir mais segurança.

"Não podemos garantir que não haverá mais acidentes. Mas podemos garantir que nunca mais se trabalhará em condições tão desumanas como na mina San José", afirmou.

O ministro do Interior chileno, Rodrigo Hinzpeter, reforçou a promessa: "Nos comprometemos que nunca mais um acidente se produza por falta de fiscalização do Estado", afirmou.

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