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O novo primeiro-ministro australiano Scott Morrison (L) assina documentos enquanto participa de uma cerimônia de juramento em frente ao governador geral da Austrália, Peter Cosgrove, na sede do governo em Canberra, em 24 de agosto de 2018 | SAEED KHAN/AFP
O novo primeiro-ministro australiano Scott Morrison (L) assina documentos enquanto participa de uma cerimônia de juramento em frente ao governador geral da Austrália, Peter Cosgrove, na sede do governo em Canberra, em 24 de agosto de 2018| Foto: SAEED KHAN/AFP

A Austrália, a partir desta sexta-feira (24), tem um novo primeiro-ministro: o defensor das políticas anti-imigração Scott Morrison. A troca de governo representa uma guinada à direita que veio de dentro do próprio partido do agora ex-primeiro-ministro Malcom Turnbull, de 63 anos, que estava sob pressão pelo seu fraco desempenho nas pesquisas de opinião e pelo que ele chamou de “insurgência” dos membros conservadores do Parlamento. Tal “insurgência” começou quando os membros do Partido Liberal da Austrália, de centro-direita, não aprovaram a iniciativa do governo em definir metas para a redução das emissões de gases do efeito estufa no país que é o maior exportador de carvão do mundo. Ameaçaram a votar contra a proposta no Parlamento, provocando uma crise política interna que rapidamente se transformou em dois desafios de liderança.

O primeiro desafio ocorreu na terça-feira (21), quando membros do Partido Liberal da Austrália reuniram assinaturas suficientes para uma nova eleição de liderança. Turnbull foi desafiado pelo seu maior crítico dentro da coalizão governista, o direitista Peter Dutton, e acabou ganhando por 48 a 35 votos. Mas a situação dele não melhorou nos dias que seguiram, culminando em um novo desafio nesta sexta-feira. Turnbull falhou em sua tentativa de encarar mais um desafio de Dutton e não quis concorrer na eleição de uma nova liderança. Disputaram o cargo Morrison, que era secretário de Tesouro da Austrália até então, Dutton, ex-ministro do Interior, e Julie Bishop, ministra das Relações Exteriores. Em uma rodada final contra Dutton, Morrison acabou ganhando com 45 votos dos 85 membros do partido.

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Segundo a professora da Universidade de Camberra e jornalista política, Michelle Grattan, ao votar em Scott Morrison, os liberais escolheram a opção mais segura entre os três candidatos. “Dutton era visto como muito arriscado e rígido; Julie Bishop estava muito atrás”, escreveu ela em artigo para o The Conversation.

O ex-primeiro-ministro da Austrália, Malcolm Turnbull, discursa em uma entrevista coletiva em Canberra, em 24 de agosto de 2018SAEED KHAN/AFP

“Tem sido um momento desafiador para ser primeiro-ministro, mas estou muito orgulhoso de nosso histórico de conquistas”, disse Turnbull após deixar o cargo.

O ex-primeiro-ministro não contestou a decisão e disse que vai sairá da política, o que deixará uma cadeira vaga no Parlamento e forçará uma eventual eleição que poderia colocar em risco o atual governo. Em uma declaração para a imprensa, Morrison afirmou que não há planos para que isso ocorra em breve.

Quem é Scott Morrison?

Morrison foi empossado nesta sexta-feira pelo general Sir Peter Cosgrove, representante da rainha Elizabeth II na Austrália.

“Nosso trabalho... é garantir que não apenas tragamos de volta o nosso partido, que foi ferido nesta semana, mas que possamos garantir também a volta do parlamento”, afirmou Morrison no seu primeiro discurso como premiê.

Morrison, 50 anos, é um ex-lobista da indústria do turismo que está por trás da controversa política de refugiados da Austrália que confinou milhares de homens, mulheres e crianças a centros administrados pelo governo em Papua Nova Guiné e na nação insular do Pacífico durante anos.

Foi eleito membro do Parlamento australiano em 2007 e chefiou os ministérios do Tesouro, na administração de Turnbull, e da Imigração, quando Tony Abbott era primeiro-ministro. De acordo com a BBC, Morrison é um importante conservador religioso que se opôs ao projeto de casamento entre pessoas do mesmo sexo, aprovado no ano passado.

É provável que Morrison valorize o estreito relacionamento militar e diplomático da Austrália com os Estados Unidos, mantido por Turnbull apesar de uma conversa telefônica difícil em janeiro de 2017 com Trump, que reclamou que o acordo de refugiados que ele herdou do presidente Barack Obama era "negócio estúpido".  

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O novo primeiro-ministro, que é conhecido por seu apelido, ScoMo, disse que sua prioridade neste momento será lidar com uma seca que atingiu grandes partes dos estados de New South Wales e Queensland. Ele também prometeu reverter os aumentos nos preços da eletricidade, que são um ponto sensível em um país com enormes depósitos de carvão e gás, e prometeu proteger o sistema universal de saúde que é uma fonte de orgulho para os australianos. 

“Isso se resume em três coisas: manter nossa economia forte, manter os australianos a salvo e manter os australianos juntos”, disse ele a repórteres.

A política australiana está em crise?

Morrison é o quinto primeiro-ministro em cinco anos, um período de instabilidade política que a Austrália não vivenciava desde o início do século XX. Analistas disseram que a crescente polarização do debate político – que vem ocorrendo em democracias em todo o mundo – tornou o governo mais difícil para líderes centristas como Turnbull.

Em um artigo publicado nesta quinta-feira (23) no jornal Sydney Morning Herald, o ex-embaixador da Austrália em Israel, Dave Sharma, afirmou que a constante troca de primeiros-ministros nos últimos anos é o indício de uma falha estrutural no cerne da política australiana, alimentada pelo próprio sistema que prevê eleições a cada três anos, um período de tempo muito curto segundo ele.

Sharma também afirmou que primeiros-ministros não populares, como Turnbull, tem sido removidos do cargo pelo próprio partido quando as eleições se aproximam. Na Austrália, as eleições gerais vão ocorrer no próximo ano. “Uma eleição está sempre a caminho, o que significa que os membros do parlamento estão sempre focados na sua sobrevivência eleitoral – e menos no interesse nacional".

Nenhum primeiro-ministro australiano conseguiu cumprir o mandato completo desde que John Howard perdeu as eleições para Kevin Rudd em 2007. Desde então já passaram pelo cargo: Julia Gillard (2010-2013, Partido Trabalhista), Kevin Rudd (2013, Partido Trabalhista), Tony Abbot (2013-2015, Partido Liberal), Malcolm Turnbull (2015-2018, Partido Liberal) e, agora, Scott Morrison (Partido Liberal).

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