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Quem poderia prever? Parece que Barack Obama é muito mais adepto à implementação das políticas externas de George W. Bush que o próprio Bush, mas é muito menos adepto à implementação de suas próprias. Os motivos, no entanto, são óbvios.

À sua própria maneira, o presidente Obama levou o país à estratégia correta da "guerra ao terror" de Bush. Ela combina coordenação de inteligência global, assassínio preciso de terroristas conhecidos e intervenções limitadas – como na Líbia – que influencia forças populares em território e aliados, além de uso judicioso do poder dos EUA, de modo a manter baixos os custos e riscos. Na Líbia, Obama salvou vidas e deu aos líbios uma chance para construírem uma sociedade decente. O que farão com essa oportunidade agora depende deles. Eu ainda estou um pouco receoso, mas Obama lidou muito bem com seu papel.

Não há dúvidas de que George Bush e Dick Cheney pensavam que tanto o Iraque quanto o Afeganistão seriam operações igualmente precisas, focadas e limitadas. Em vez disso, elas se revelaram ser como uma péssima hipoteca de crédito de risco – uma pequena entrada com um enorme balão dali a cinco anos. Eles acharam que poderiam "entregar" a casa antes do prazo do balão. Mas, em parte por conta de sua incompetência e falta de planejamento, demorou muito mais tempo para entregar a casa para novos donos, e o preço que a América pagou foi enorme. O Iraque ainda pode ter um resultado decente – é o que espero, e seria importante – mas mesmo que se transforme na Suíça, nós pagamos caro demais por isso.

Então, sejamos claros: até agora, como comandante chefe na guerra ao terrorismo, Obama e sua equipe de segurança nacional têm tido muito mais inteligência, força e custo-eficácia na manutenção da segurança do país do que os "adultos" que eles substituíram. Não chega nem perto, e é por isso que os anciões do Partido Republicano têm tanta dificuldade de admiti-lo.

Mas, enquanto Obama tem sido hábil em implementar a política antiterrorismo de Bush, ele tem tido menos sucesso com sua própria política externa. Sua diplomacia árabe-israelense tem sido uma bagunça. Suas esperanças de engajar o Irã naufragaram nas rochas do Irã. Ele pouco se esforçou para compor uma liga multilateral para dar apoio à Primavera Árabe, em lugares como o Egito, para lidar com os desafios pós-revolução. Sua decisão mal pensada de apostar mais no Afeganistão pode se revelar fatal. Ele está numa guerra verbal contra o Paquistão. Sua política climática global é um constrangimento invisível. E os chineses e russos, frios e calculistas, embora de vez em quando lhe deem trela, vão atrás de seus próprios interesses com quase nenhuma consideração quanto às preferências de Obama. Por que isso?

E aqui eu venho defender Obama, não condená-lo.

É verdade, ele foi ingênuo sobre o quanto seu poder de popularidade, ou de sua secretária de Estado, poderia fazer com que os outros se deslumbrassem conosco. Mas as frustrações de Obama no condizente a conseguir uma grande conquista de política externa não-militar têm base num problema estrutural muito mais amplo – um que também explica por que jamais produzimos um secretário de Estado capaz de mudar a história desde os titãs da guerra fria, Henry Kissinger, George Schultz e James Baker.

Motivo: o mundo se tornou mais bagunçado, e a América perdeu influência. Quando Kissinger negociava no Oriente Médio nos anos de 1970, ele só teve de persuadir três pessoas para conseguir um acordo: um ditador sírio todo-poderoso, Hafez al-Assad; um faraó egípcio, Anwar Sadat; e um primeiro-ministro israelense com uma maioria esmagadora, Golda Meir.

Para fazer história, Obama e secretária de estado Hillary Clinton, em contraste, precisam conseguir um acordo com um regime sírio decadente, um regime egípcio decaído, uma fraca e irascível liga israelense e um movimento palestino quebrado em duas partes.

Fazer história através de diplomacia "depende de acordos com outros governos", diz Michael Mandelbaum, o especialista em política externa da Universidade Johns Hopkins (e co-autor comigo do livro That Used to Be Us). "Mas agora, para se conseguir tais acordos, precisamos, na verdade, construir os governos com os quais queremos negociar – e não podemos fazer isso."

Tradução: Adriano Scandolara.

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