Reunião
A França reuniu líderes africanos ontem para debater uma estratégia comum contra o Boko Haram. O presidente François Hollande propôs um plano de ação coordenada.
Futuro
Na última semana o governo nigeriano sinalizou sobre a possibilidade de negociar com o Boko Haram. A ideia foi repudiada pelos EUA.
Risco
O professor Sidney Leite, da ESPM, explica que não é recomendável como política de estado negociar com terroristas. "Pode resolver uma questão conjuntural, mas se cria estruturalmente um problema, vão cobrar um preço cada vez mais alto".
Decisão
A professora Analúcia Pereira diz que a União Africana tem desenvolvido métodos próprios para resolução de conflitos e que as decisões devem ser tomadas no âmbito do Conselho de Segurança dessa organização.
Regras
Analúcia ressalta que qualquer ajuda internacional que a Nigéria aceitar não se tratará de um simples auxílio e trará consequências. Para receber ajuda, o país precisa se abrir, passar informações e acaba por dar poder aos que entram. "Mecanismo de cooperação requer regras", adverte a professora.
Laços
Para Sidney Leite, apesar de essa ser uma situação de crise, o governo nigeriano pode tirar proveito da situação e se fortalecer, ao estreitar os laços com a comunidade internacional e neutralizar a atuação do grupo terrorista.
Resposta
Pesquisadora rebate crítica de que a Nigéria demorou para reagir
A Anistia Internacional acusa o Exército da Nigéria de ter recebido informações sobre o sequestro antes que ele ocorresse, mas não teria reunido as forças necessárias para enfrentá-lo.
Analúcia Danilevicz Pereira, pesquisadora do Centro Brasileiro de Estudos Africanos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), considera que o governo nigeriano se preocupa com a questão, até porque o combate ao Boko Haram diz respeito à integridade do território.
A região norte, onde o grupo atua, é rica em recursos naturais e os fundamentalistas defendem a criação de um estado islâmico, com legislação baseada na sharia. Segundo o relatório do Instituto da Paz, o grupo combate os políticos que atuam naquela região e os considera corruptos e "falsos muçulmanos".
A pesquisadora da UFRGS diz que não se pode dizer que o governo nigeriano demorou a dar uma resposta, pois se trata de uma situação muito delicada. "Não se pode esperar que uma ação dessa dimensão tenha solução rápida", diz. Ela faz uma comparação com a Colômbia, onde as Farc atuam há 50 anos e o governo tem agido com muita cautela para negociar reféns.
Ataques contra locais públicos, com explosões que deixam dezenas e às vezes centenas de mortos e feridos, sempre pelas mãos do grupo radical islâmico Boko Haram, se tornaram uma espécie de rotina trágica na Nigéria.
INFOGRÁFICO: Veja o PIB da Nigéria
Segundo o relatório "O Que É o Boko Haram?", produzido pelo United States Institute of Peace (Instituto de Paz dos Estados Unidos), desde agosto de 2011, a milícia comete atentados quase que semanalmente. Alguns desses atos receberam certa atenção da mídia internacional, mas foi o sequestro de mais de 200 meninas que fez o grupo virar notícia de peso e entrar no radar das potências mundiais.
Malala
A ação também remete a outro caso emblemático, da adolescente paquistanesa Malala. O Taleban tentou matá-la por defender que mulheres tenham o direito de estudar, mas ela sobreviveu ao ataque e teve seu nome cogitado para o Nobel da Paz.
A grande quantidade de meninas sequestradas agora na Nigéria e ameaças de que elas seriam vendidas, pois "há mercado para isso", nas palavras do líder do grupo, Abubakar Shekau, também mexeram com a opinião pública.
Método
"Se o objetivo era chamar atenção, sem dúvidas os terroristas conseguiram", avalia o professor de Relações Internacionais da Faculdade de Belas Artes e da ESPM Sidney Leite. Ele observa que toda a ação foi metodicamente pensada, desde o rapto das meninas, até a divulgação de vídeos, primeiro, dizendo que elas seriam vendidas e, depois, propondo fazer trocas por prisioneiros.
Campanha legitimaria intervenção
A Nigéria tem se destacado como liderança regional na África, é a maior economia do continente e apresenta um posicionamento estratégico. Para a professora Analúcia Pereira, da UFRGS, há interesse em que o país se fragilize. "Ele está em uma posição geopolítica estratégica para interagir com outros polos de poder e ameaça os interesses das potências", diz.
O cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenador do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais (NEPRI/UFPR), Alexsandro Eugênio Pereira, observa que o Boko Haram "se encaixa no estereótipo do tipo de terrorismo combatido pelas políticas norte-americanas do pós-11 de Setembro" e que, além da comoção que o caso gera, os EUA vêm procurando reforçar a mobilização.
Dinheiro
A professora Analúcia considera que toda a campanha que está ocorrendo pode servir também para legitimar alguma intervenção internacional que possa ocorrer no país. Ela chama atenção para o fato de que o Boko Haram precisa ter financiadores e que eles provavelmente estão fora da Nigéria.
Opinião
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