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Quando o berço de Buda, um remoto povoado ao sul do Nepal, comemorava o anúncio de que receberia investimentos milionários a partir da China, uma balde de água fria atingiu a região quando o Governo nepalês afirmou desconhecer qualquer projeto.

Lumbini é a "Belém" do budismo: um pequeno vilarejo - declarado Patrimônio da Humanidade em 1997 -, que deve sua fama principalmente ao nascimento lá do mais ilustre filho, o príncipe Siddhartha Gautama, que nasceu nesse povoado supostamente 2.700 anos atrás.

Com essa credencial, uma organização chinesa, a Fundação da Ásia-Pacífico para a Troca e Cooperação (APECF, na sigla em inglês), anunciou em agosto em Katmandu um projeto de investimento de nove anos para Lumbini avaliado em US$ 3 bilhões.

Os recursos serviriam supostamente para construir estradas e rodovias, um aeroporto internacional e outras infraestruturas relacionadas ao turismo nessa região ao sul do país, contígua com a fronteira indiana.

Mas o caso está gerando uma grande polêmica no Nepal, depois que um comitê parlamentar exigisse os detalhes ao Governo sobre o suposto plano de investimentos na terra de Buda, e as autoridades informassem não saber de nada.

"Não recebemos nenhuma proposta sobre o investimento. Só sabemos o que aparece na imprensa", declarou à Agência Efe Gyanin Rai, da organização não-governamental nepalesa Fundo de Desenvolvimento de Lumbini (LDT), que autoriza e nega por meio da lei as licenças para projetos na região.

Durante o anúncio do plano, a APECF não especificou a origem dos recursos, mas a imprensa especulou que estes procedem do Governo chinês e o projeto conta com apoio de maoístas nepaleses, o principal partido do Parlamento.

O líder do Partido Maoísta, Puspa Kamal Dahal, conhecido por Prachanda, é de fato um dos membros da direção da APECF e em agosto, após a apresentação do plano, foi à Malásia para participar de encontro da organização.

Mas, por enquanto, o líder maoísta evitou falar publicamente sobre o projeto e se limitou a precisar que qualquer projeto para Lumbini deve seguir as leis do Nepal.

A influência da China, país com o qual os maoístas têm relação estreita, foi aumentando no Nepal após as eleições de 2008, que consagraram o fim da monarquia no país e a chegada da república.

China foi o primeiro país que Prachanda visitou após a eleição, no encerramento dos Jogos Olímpicos de Pequim, embora tenha feito ainda como cidadão comum, meses antes de assumir o poder.

O arco político do Nepal, um pequeno país entre a China e a Índia, está dividido sobre a proximidade em direção a estes dois gigantes, que disputam para expandir sua influência na região.

E apesar da classe dirigente manifestar apoio no início de "uma só China" - que aceita sua soberania sobre o Taiwan -, no Nepal encontram abrigo 20 mil refugiados tibetanos que de vez em quando organizam protestos em favor da libertação do Tibete.

No longo prazo, o Governo nepalês planeja fortalecer as áreas do país que têm ligação com Buda, como o lugar onde se encontrou com seu pai e filho após alcançar a iluminação na Índia, a casa de sua mãe..., mas sobre Lumbini diz nada saber.

A APECF defende ter alcançado acordo com a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Onudi) embora o documento seja na realidade um memorando de entendimento assinado em Hong Kong entre embaixadas das duas partes.

Por isso a Onudi, por meio de sua sede central em Viena, tomou distância deste acordo e afirmou que ocorreram ações contra o chefe da delegação de Hong Kong.

"É muito interessante. Se esse acordo tivesse ocorrido, digamos com a Unesco, que se ocupa de assuntos culturais, teria tido algo mais de credibilidade", declarou Rai.

A ONU destinou na década de 70 um pacote econômico para o plano de desenvolvimento de Lumbini mediante o qual foram construídos mosteiros e outras instalações em um terreno de 777 hectares, próximo do local que pela tradição nasceu Buda.

Na região, além de dois hotéis de luxo e um hostel, existem atualmente mosteiros de 11 países diferentes - Camboja, Índia, Sri Lanka, Tailândia, Coreia do Sul, Áustria, Alemanha, França, Mianmar, Japão e Vietnã - mas não da China.

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