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Madeira ilegal apreendida no Pará. Desmatamento é um dos maiores vilões do aquecimento global | Paulo Santos/Reuters
Madeira ilegal apreendida no Pará. Desmatamento é um dos maiores vilões do aquecimento global| Foto: Paulo Santos/Reuters
  • Veja os países pelos quais a Floresta Amazônica se estende

Amanhã, os olhos do mundo se voltam para o Brasil. É quando ocorre o leilão da usina hidrelétrica de Belo Monte, a ser cons­­truí­­da em Altamira, no Pará. O me­­gaprojeto, que terá capacidade instalada de 11 mil MW e custo mínimo de R$ 19 bilhões, atraiu as atenções de ambientalistas em todo o mundo ao revelar a disputa entre o governo e os índios da­­quela parte da Amazônia. Com a construção de um barragem no Rio Xingu, as reservas indígenas Arara e Paquiçamba estarão condenadas a submergir.

A vinda do diretor de cinema James Cameron ao Brasil, durante o fim de semana passado, ajudou a acender os holofotes e despertar preocupações em relação àquelas reservas. Durante a visita, patrocinada pela ONG americana Amazon Watch, o realizador do blockbuster Avatar relacionou a situação dos índios amazônicos com a trama de seu filme, que narra a batalha de um povo extraterrestre que vive em comunhão com a natureza e é atacado por terráqueos à procura de fontes energéticas.

"Vou usar minha voz e meus filmes para tentar alertar sobre essa obra destruidora de populações indígenas e ribeirinhas", prometeu Cameron aos jornalistas que o acompanhavam.

Após o lançamento de Avatar, uma das principais críticas feitas ao filme foi a elaboração de um roteiro maniqueísta e ingênuo. Apesar disso, a aplicação da me­­­táfora à questão de Belo Monte surtiu efeito na imprensa internacional. O despacho das agências de notícias ampliou a voz de Cameron, e a desgraça dos indígenas azuis do planeta Pandora foi usada para exemplificar a polêmica em torno da construção da usina nos principais jornais do mundo, como o New York Times, o El País (Espanha) e o The Guardian (Inglaterra).

Em Brasília, circulam boatos de que houve algumas manobras para evitar que o leilão não ocorresse no prazo regulamentar de 30 dias a partir da data de publicação do edital, que seria hoje. Caso isso acontecesse, o governo poderia passar pelo constrangimento de realizar o leilão justamente no Dia do Índio.

Pressões de fora

Para Rainer Quitzow, pesquisador do Centro de Pesquisa em Po­­lítica Ambiental da Universidade de Berlim, as pressões externas serão eficientes à medida em que demonstrem a responsabilidade brasileira no cenário internacional. "Como potência regional e aspirante a um papel maior no cenário global, o Brasil tem um papel importante para a conservação ambiental, e neste contexto a proteção da Amazônia é crucial. Caso crie uma política de preservação, o Brasil aumenta sua credibilidade internacional e fortalece sua influência na geopolítica global", afirma ele à Gazeta do Povo.

A preservação da Amazônia sempre foi uma principais preocupações ambientais do mundo, tanto por organizações ecológicas quanto por governos estrangeiros. De tempos em tempos, sur­­ge algum fato novo que mobiliza a opinião pública para a causa. Com o aquecimento global, a floresta sul-americana agregou o título de "escudo verde" a ser usado na batalha contra os gases do efeito estufa. Embora ainda careça de comprovação científica, a Amazônia é entendida como um filtro natural para o dióxido de carbono presente na atmosfera.

O desmatamento da floresta, por outro lado, é um sério contribuidor para a piora do quadro climático. Comprovadamente, 75% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil ocorrem durante o processo de desmatamento e queimada da Mata Amazônica. "Enquanto a mu­­dança climática permanece no centro do debate mundial nos últimos anos, a ameaça à biodiversidade é uma ameaça menos visível. Po­­rém a perda da diversidade natural é um risco à sustentabilidade do modelo econômico", lembra Quitzow.

Além da construção da hidrelétrica, outras ações já sofreram pressão externa por, supostamente, causar prejuízos à Ama­­zônia e, consequentemente, ao ecossistema mundial. As plantações de soja, cana-de-açúcar e a criação de gado são apontadas pelas ONGs ambientais, como o Greenpeace, o WWF e a Amazon Watch como culturas potencialmente destruidoras da floresta.

Para Alessandro Panasolo, presidente da Comissão de Di­­reito Ambiental da OAB-PR, o ativismo global pela preservação da Amazônia é uma resposta à falta de infraestrutura do país em cuidar do seu gigante verde. "O Brasil tem um política de comando e controle da região amazônica, com pouca abertura para in­­tervenção externa. Porém o controle não é feito de maneira eficiente, por falta de estrutura. No cenário continental, a integração dos países amazônicos ainda não se desenvolveu, e é um debate que acaba se tornando secundária em frente aos outros desafios destes países", analisa.

Entretanto Panasolo reconhece avanços na política ambiental brasileira. "O país está se saindo bem com sua política nacional de mudanças climáticas e de combate ao desmatamento. Ainda existe a imagem do Brasil como um desmatador, mas há avanços a serem considerados".

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