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Em uma clara tentativa de evitar a aprovação de novas sanções do Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas ao Irã, Brasil e Turquia enviaram nesta quarta-feira uma carta aos outros 13 membros desse organismo. Quase simultaneamente, porém, o chanceler Celso Amorim advertiu o Irã a "não dar bola" para as ameaças de sanções e a cumprir os compromissos que assumiu no acordo conjunto na área nuclear fechado com o Brasil e a Turquia.

"Eu não acho positivo ficar fazendo ameaças", disse Amorim à imprensa, logo depois de dar uma palestra no Instituto Rio Branco. "Acho também que o Irã, se for inteligente, não vai dar bola para isso e vai continuar fazendo o que tem de fazer." O acordo prevê que, até 24 de maio próximo, o Irã deva notificar a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) sobre os compromissos que assumiu diante do Brasil e da Turquia na última segunda-feira. Em um mês, o Irã deverá depositar na Turquia 1 200 quilos de urânio levemente enriquecido - material que será "trocado", no prazo de um ano, por 120 quilos de combustível nuclear para seu reator de pesquisa, em Teerã.

Na avaliação de Amorim, um eventual recuo do Irã em relação ao acordo firmado no dia 17, em Teerã, terá de ser "corrigido". Mas a adoção de sanções, além de sofrimento e de privações à população iraniana, resultariam em "adiamento da solução pacífica por dois ou três anos". Na carta, enviada hoje aos demais membros do Conselho de Segurança, Brasil e Turquia defendem que o acordo de Teerã, ao abrir a possibilidade de levar adiante um processo de negociação com o Irã, permitirá a criação de um ambiente "positivo, construtivo, de não-confrontação".

"Brasil e Turquia estão convencidos que é hora de dar uma chance às negociações e de evitar medidas em detrimento de uma solução pacífica para essa questão", afirma a carta, em indicação de que ambos os países se absterão ou votarão contra as novas retaliações ao Irã.

Sabotagem

Claramente interessado em dar um tom mais diplomático e menos explosivo ao atropelo dos Estados Unidos ao acordo de Teerã, Amorim declarou com veemência que o ativismo do Brasil em favor do acordo não gerou um "passivo" nas relações entre Brasília e Washington. Como argumento, afirmou que o próprio presidente americano, Barack Obama, havia sugerido a seu colega Luiz Inácio Lula da Silva que se interessasse na questão do Irã.

As versões de autoridades americanas, entretanto, têm sido opostas - inclusive sobre o estado das relações bilaterais, que teriam se deteriorado. Questionado se o objetivo da carta aos membros do Conselho de Segurança seria provocar uma sabotagem da aprovação das novas sanções, o chanceler passou da indignação à ironia e, por fim, queixou-se de ter recebido o rascunho da resolução apenas ontem, terça-feira.

"Sabotagem? Imagina se nós temos capacidade de sabotar o processo! Nós não temos (direito) de veto! Somos um país pouco mais que observador", afirmou, referindo-se à posição do Brasil de membro não permanente do Conselho. "Não estou interessado em fazer com que eles (os EUA) não consigam o total de votos necessários (nove, dentre 15). Não estamos aqui em nenhuma batalha ideológica", completou.

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