• Carregando...

Há mais de 20 dias, a jogadora de vôlei Ticiana Rocha espera receber em casa as duas malas que levou para Madri junto com um contrato para jogar por um clube espanhol. Assim como as bagagens, os planos de disputar um campeonato no exterior não passaram do aeroporto, onde a brasileira teve que esperar durante mais de 24 horas por uma entrevista em que autoridades negaram sua entrada no país. Uma das alegações foi que Ticiana ainda não tinha visto de trabalho, embora tivesse planos de fazer uma temporada de experiência antes de voltar ao Brasil para receber a documentação definitiva. Ainda assim, seus relatos sobre o tratamento agressivo dispensado pelos agentes da imigração aumentam a longa lista de denúncias cada vez mais freqüentes sobre o preconceito contra os brasileiros que tentam trabalhar ou simplesmente viajar para fora.

- Não quero mais sair do Brasil. Aqui, pelo menos, eu não sou humilhada da forma que fui lá na Espanha - desabafa a jogadora.

Ticiana, de 27 anos, recebeu um convite do clube Algar-Surmenor, dirigido por um técnico brasileiro, para jogar uma temporada na Espanha com todas as despesas pagas. Mas ao chegar a Madri, ela conta que foi levada para uma área do aeroporto onde teve que entregar seus objetos pessoais para se juntar a cerca de 600 turistas e emigrantes que, divididos em quartos com camas, esperavam por até quatro dias para tentar entrar no país. Enquanto aguardavam pela entrevista com autoridades, segundo Ticiana, eles eram obrigados a conviver com policiais que gritavam a todo tempo e chegavam a acompanhar de perto as ligações telefônicas que tinha direito a fazer.

Descrição

Procurado, o Ministério das Relações Exteriores reconheceu que há um aumento deste tipo de queixas e disse estar "atento a este fenômeno". Segundo a assessoria, o Itamaraty "não só reage a qualquer queixa recebida e cobra das autoridades locais, como também, em razão das últimas operações da União Européia (UE) para apertar a fiscalização na chegada, também tem procurado agir preventivamente".

Em março deste ano, apenas uma operação da agência de fronteiras européia contra imigrantes sul-americanos ilegais barrou 464 brasileiros . As demandas por auxílio levaram o Brasil a abrir pelos três novos consulados-gerais nos últimos dois anos, inclusive em Madri - a Espanha é um dos países onde a comunidade brasileira mais cresce.

Os emigrantes brasileiros passaram de cerca de 2 milhões, em 2000, para aproximadamente 4 milhões atualmente. Mas os problemas relatados por brasileiros parecem não ser recentes e nem estarem vinculados apenas às ações da EU para combater a imigração ilegal. Em 1997, a brasileira Elisa de Castro, então com 18 anos, quase foi impedida de entrar em Madri por estar com pouco dinheiro, embora levasse um cartão de crédito internacional. Junto com ela, outras seis pessoas também foram interrogadas por quatro policiais, todos latino-americanos e a maioria mulher.

- Fiquei com muito medo. Não falava direito espanhol, afinal fui para lá fazer um curso. Pedi para os policiais falarem mais devagar, mas eles ignoraram - contou ela.

O Posto de Acolhimento que recebe no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, brasileiras deportadas ou não admitidas no exterior confirmou que a maior parte das queixas se refere à Espanha. Segundo Dalila Figueiredo, coordenadora do projeto - que é financiado por uma ONG holandesa e funciona com chancela do Ministério da Justiça -, mulheres são vítimas freqüentes de preconceito no país, que recebe anualmente milhares de brasileiras aliciadas por rede de prostituição. Duas dessas quadrilhas foram desmanteladas no mês passado.

A embaixada da Espanha no Brasil foi procurada, mas não retornou os contatos.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]