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Curitiba – Os brasileiros descendentes de italianos decidiram voltar às suas raízes. Cerca de 7 mil netos, bisnetos e tataranetos dos imigrantes que deixaram a Itália a partir de 1860 já assinaram o termo de opção pela cidadania italiana por direito de sangue neste ano em oito eventos realizados no Sul do Brasil. Ontem à tarde, mais 4,5 mil pessoas cumpriram o ritual, em Curitiba. Diante da autoridade consular – como exige a Itália –, eles deram o primeiro passo para recuperar a nacionalidade de seus "nonni".

O que atrai tantas pessoas são os mesmos motivos alegados pela primeira-dama do Brasil, Marisa Letícia Lula da Silva, que confirmou ter obtido cidadania italiana este mês para facilitar o processo para os filhos. "Quem tem cidadania de um país europeu garante aos descendentes a condição de cidadão do mundo", justifica Gelmires Danna, bisneto de italianos que assinou o termo com seus três irmãos. Apesar de estar confiante, ele diz não haver garantia de que a cidadania italiana será concedida.

Às dúzias

Uma lei aprovada em 2000 permitiu a manifestação do interesse coletivo. A Itália autorizou que os descendentes façam agora o que seus ascendentes não fizeram no início do século passado, quando os habitantes da região do Império Austríaco que foi devolvida à itália foram chamados para dizer qual a nacionalidade de sua preferência. A maior parte dos italianos que estavam no Brasil nem ficou sabendo da convocação, afirma Ivanor Minatti, presidente do Círcolo Trentino de Curitiba, entidade que organizou o evento de ontem.

Minatti alimenta o sonho dos descendentes. "Se a documentação estiver em ordem, todos receberão a cidadania italiana." Porém, ele teme que o trâmite leve mais de dois anos, por falta de funcionários consulares.

Os trentinos garantem que não pretendem invadir a Itália. O alto número de solicitações seria uma demonstração do apego à cultura dos pais e avós e também uma prova da tendência à interação global. Uma reunião de assinatura do termo de opção realizada em julho em Blumenau (SC) chegou a reunir 6 mil interessados na dupla cidadania.

Para o bispo Dom Angelo Sândalo Bernardino, que esteve em Blumenau, a maioria busca a ampliação cultural, o que é vantajoso "mesmo para quem nunca irá à Itália". Cidadãos do mundo são mais sensíveis ao sofrimento geral, independentemente de onde vivam, defende.

Livres do visto

Mesmo assim, ninguém nega que o principal benefício é a maior facilidade de circulação pela Europa. Sem cidadania nem visto, os brasileiros só podem permanecer na região por três meses.

Sandra Laureanti, que conseguiu a dupla cidadania facilmente por ter pai italiano, lembra que também há obrigações a serem cumpridas. Em época eleitoral, os neo-italianos recebem em casa as cédulas para votação. "Antes eu nem prestava atenção nos candidatos. Agora, sinto-me na obrigação de me informar."

Seu filho Rafael, hoje com 13 anos, pode ser chamado a servir o Exército da Itália quando chegar aos 18, principalmente se estiver por lá. Além disso, o consulado precisa ser avisado sempre que alguém da família nasce ou morre, acrescenta. Para Sandra, quem mais desfruta das vantagens da dupla cidadania são os estudantes. "Quem só pretende passear, não vai sentir diferença."

Informações sobre cidadania italiana: www.embitalia.org.br e www.concuri.org.br.

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