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 | Bill O'Leary/The Washington Post
| Foto: Bill O'Leary/The Washington Post

Do lado de fora do Salão Oval há uma pequena sala retangular com duas escrivaninhas ordinárias de madeira, uma ao lado da outra. Em uma senta o secretário pessoal do presidente Barack Obama. Na outra, Brian Mosteller, o homem que se incomoda com as pequenas coisas para que o presidente não tenha de fazê-lo.

Poucos já ouviram falar de Mosteller, mas se você olhar com atenção fotografias tiradas dentro da Casa Branca pode frequentemente vê-lo de relance nas extremidades do enquadramento, onipresente. A partir de sua cadeira, ele é a única pessoa na Casa Branca com uma vista direta do presidente em sua mesa. Ninguém entra no Salão Oval sem passar por ele.

O título oficial de Mosteller é diretor de operações do Salão Oval, apesar de que um nome mais apropriado seria “previsor-chefe”. Quando Obama está em Washington, cada movimento que o presidente faz, cada pessoa que ele encontra e cada reunião de que participa são cuidadosamente orquestradas por Mosteller.

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Ele sabe em que posição na mesa Obama gosta de ter seu copo d’água servido em reuniões e ao lado de quem ele quer se sentar. Ele sabe de que altura Obama prefere uma tribuna. Ele pesquisa qual o drinque favorito de um chefe de Estado para que o presidente possa oferecê-lo. Ele apronta as anotações de Obama e as coloca abertas na primeira página em qualquer momento em que o presidente vá se pronunciar. Ele avisa Obama se uma meia escorregou pela canela ou se sua camisa está amassada antes de uma entrevista.

O presidente retornou ao estado de Illinois na semana passada para comemorar os nove anos desde que anunciou sua arriscada candidatura para a Casa Branca, um momento histórico cujas proporções poucos poderiam então ter captado. Restam apenas algumas poucas pessoas que estiveram com Obama desde aqueles primeiros momentos.

Diferentemente de alguns membros da equipe próximos ao presidente que desfrutaram de seus momentos sob os holofotes, Mosteller, que conheceu Obama em Chicago depois do famoso discurso em Springfield, Illinois, que deu início à sua campanha, permaneceu intencionalmente nos bastidores. Até hoje ele tinha dado apenas uma entrevista, em 2009.

Colegas que o admiram se referem a ele como o herói oculto do governo Obama – o homem por trás do homem, sem o qual Obama possivelmente não teria tamanha reputação universal de ser descolado – mas Mosteller prefere a discrição.

Se não por outro motivo, ele precisa manter-se concentrado. Toda a Ala Oeste depende dele e ninguém mais do que o presidente.

Mosteller “conhece o presidente muito bem, ele presta atenção em tudo”, diz Valerie Jarrett, assessora-sênior de longa data do presidente. “O presidente sabe o quanto Brian se importa com ele e que não é um ‘eu me importo com você à distância’, mas ‘eu vou garantir que os detalhes práticos centrais da sua vida, dos grandes aos pequenos, sejam atendidos”. “O presidente confia completamente nele.”

O encanto pelos bastidores

De uma humildade que o conquista, Mosteller, que tem 40 anos, nunca teve muito interesse na política enquanto um esporte sangrento. Em vez disso, quando criança, ele assistia encantado o presidente Ronald Reagan caminhar pelo tapete vermelho em direção ao pódio no Salão Leste para se dirigir à nação. “Quem está dando as deixas para o discurso do presidente?”, ele se lembra de imaginar. Que trabalho acontecia por trás das cenas para se preparar um evento tão importante?

“Era algo que transcendia a minha cidade natal de Akron, em Ohio, ou a minha pequena vizinhança”, ele recorda a respeito de sua fascinação com o protocolo. A possibilidade de desempenhar um papel por trás das cenas como aquele “era maior do que eu e tinha a capacidade de influenciar algo maior do que eu”.

Na faculdade, Mosteller se candidatou a um estágio de verão na Casa Branca, durante o governo Clinton. Ele conseguiu uma vaga para trabalhar com a equipe avançada e acabou permanecendo pelos dois anos finais da presidência.

Ele completou seus últimos créditos curriculares à distância, uma vez que integrava as equipes do presidente e da primeira dama em viagens domésticas e internacionais. Ele adorava estar exposto ao mundo, mas não queria uma carreira na política. Recusou um emprego para trabalhar na campanha presidencial de Al Gore e se mudou para o oeste do país para ajudar a preparar Salt Lake City para os jogos olímpicos de 2002.

Depois de vários anos viajando ao redor do mundo fazendo planejamento logístico para os jogos olímpicos, Mosteller se estabeleceu em Chicago em 2007. Comprou uma casa. Estava pronto para fincar raízes.

Então ele recebeu um telefonema informando-o que o senador novato pelo seu estado iria anunciar sua candidatura à presidência. Obama planejava fazer dois eventos de lançamento da sua campanha. Primeiro, ele faria um pronunciamento em Springfield, Illinois, onde Abraham Linlcoln tinha anunciado sua candidatura há 149 anos. Então ele iria à Chicago.

Será que Mosteller poderia ajudar a planejar o segundo evento? Ele aceitou um emprego temporário, mas deixou claro que tinha pouco interesse em deixar Chicago.

Então ele conheceu Obama. Não foram as habilidades oratórias do jovem político que atraíram Mosteller, ainda que ele estivesse impressionado com elas, assim como a maior parte dos Estados Unidos na época. Foi algo intangível, que hoje Mosteller tem dificuldade de descrever. Havia uma bondade, uma autenticidade, ele diz, que o fez querer deixar tudo para se juntar à modesta campanha.

À época da convenção democrata de 2008, Mosteller já tinha assumido o emprego que sempre teve desde então: ser os olhos e os ouvidos de Obama. Ver todo evento pela perspectiva de Obama. Ser o defensor mais feroz do presidente.

Na noite da eleição de 2008, Mosteller esperou na área das docas de carregamento do hotel Grand Hyatt pelo presidente eleito. Ele conduziu a família Obama ao quarto de hotel em que o núcleo da sua equipe de campanha tinha acabado de assistir pela televisão à sua vitória decisiva. E ele os conduziu para a saída do prédio para que fossem ao Grant Park, onde o homem recém-eleito iria saudar os mais de 200 mil fãs que comemoravam.

Obama estava quieto e reflexivo naquela noite. Mosteller sabia que devia dar-lhe algum espaço. Ele sabia quando pedir para o fotógrafo da revista Time parar de disparar seu flash. Ele ajudou a decidir em que momento era apropriado colocá-lo no telefone com o senador republicano pelo Arizona John McCain.

Mas ele não ainda não sabia exatamente tudo a respeito do homem.

No elevador, Mosteller informou Obama a respeito de como se desenrolaria o discurso da vitória – um evento que ele ajudou a organizar.

“E então estouram os fogos de artifício”, Mosteller contou.

“Sem fogos de artifício”, disse Obama. Seria muita ostentação.

Mosteller não hesitou ainda que, naquele momento, uma barca estivesse em um lago aguardando para estourá-los. Ele telefonou para a equipe e os mandou para casa.

“Concordei com ele”, diz Mosteller. “Estou lá para fazer acontecer o que quer que seja que ele queira. (...) Havia essas enormes pressões sobre este homem e sua família. Eu retiro as pequenas pressões, com as quais eu posso lidar, para que ele possa se concentrar nas maiores.”

Uma reportagem em uma revista uma vez comparou Mosteller ao personagem Gary, o assistente pessoal desajeitado e inseguro da presidente no seriado da HBO “Veep”. Mas o imperturbável e exigente Mosteller não é nada parecido com a caricatura, dizem seus colegas.

Reggie Love, assistente pessoal de Obama até 2011, lembra que o presidente uma vez lhe perguntou como pronunciar uma palavra. Quando Love respondeu, Obama pareceu não se convencer. “Bem, vamos perguntar ao Brian”, Love lembra ter ouvido o presidente dizer.

“Quando você vê quanto tempo e planejamento e trabalho Brian dedica para garantir que tudo corra sem percalços você não tem escolha a não ser confiar em alguém assim”, pondera Love.

“Com que frequência um chefe fala sobre amor?”

Mosteller, um homem atraente, alto e magro, com volumosos cabelos castanhos e olhos claros, chega toda manhã à sua sempre organizada mesa pelo menos uma hora antes do que o presidente, destrancando a porta para o Jardim das Rosas, pela qual entra Obama. Ele se assegura de que está cheia a tigela d’água do melhor amigo do presidente, Bo, o “primeiro cão”, que vem brincar.

Enquanto esperam a chegada do presidente, Mosteller e o secretário pessoal de Obama, Ferial Govashiri, frequentemente põe música para tocar e cantam juntos. (Sim, ele tem um lado mais descontraído – de todas as celebridades que passaram pela Casa Branca, a que deixou Mosteller, um grande fã dos Muppets, mais animado para conhecê-la foi Miss Piggy. Talvez tenha ficado até um pouco deslumbrado.)

Depois que Obama encerra o dia de trabalho, Mosteller permanece lá para desligar as luzes e trancar as portes, como se o Salão Oval fosse uma pequena loja de rua.

No período entre a chegada e a partida do presidente, Mosteller não se distrai um segundo.

Recentemente, Obama se juntou a uma mesa redonda de pesquisa sobre câncer na Casa Branca. O planejado é que fizesse um pronunciamento e permanecesse por cerca de 45 minutos. Mosteller estava revisando o cronograma e percebeu que não havia uma deixa apropriada para a saída do presidente, que não podia simplesmente se levantar no meio de uma discussão sobre um tema tão emocionalmente pesado. Então Mosteller organizou as coisas de forma que houvesse um intervalo natural em que Obama pudesse se retirar.

Ele precisa manter o dia de Obama andando sem percalços.

Reta final

A esta altura, já no final da presidência de Obama, Mosteller diz que há um conforto de se trabalhar ao lado de alguém por anos. Ele conhece as idiossincrasias de seu chefe; ele capta o seu humor.

“O presidente se reconforta por ter alguém como Brian à disposição”, diz Josh Earnest, o secretário de imprensa da Casa Branca. “O presidente é o tipo de pessoa que não vê mal em perturbar um pouco alguém com brincadeiras. Brian está confortável e tem estatura o suficiente para devolver na mesma moeda – ao menos um pouquinho.”

Como ocorre com quaisquer colegas de trabalho com salas vizinhas, Mosteller é a pessoa pela mesa de quem Obama passa para jogar conversa fora e relaxar um pouco ao longo do dia. Eles podem brincar um com o outro a respeito de alguém que falou demais durante uma visita ou da reação dos moradores de Washington à neve. E Mosteller tem mais liberdade do que quase todo mundo para entrar no Salão Oval sem ser anunciado.

Uma manhã no meio de uma reunião em junho de 2015, Mosteller irrompeu pela porta para dar pessoalmente a notícia de que a Suprema Corte havia mantido uma provisão crucial da lei de reforma do sistema de saúde.

Obama atirou o braço esquerdo para cima em um momento capturado para a posteridade pelo fotógrafo da Casa Branca.

Mas há outra lembrança de Mosteller que talvez seja mais marcante – a manhã do dia seguinte, quando a Suprema Corte legalizou o casamento gay. Mosteller, que desde então se tornou noivo, tinha sido franco com o presidente a respeito de sua orientação sexual desde os primeiros dias da campanha.

A magnitude do momento “foi indescritível”, diz Mosteller.

Mosteller também estava na sala em 2012 quando Obama confirmou seu apoio ao casamento gay durante uma entrevista com o jornalista Robin Roberts, da rede de televisão americana ABC. Quando Obama encerrou a entrevista perguntou a Mosteller como tinha se saído.

Lágrimas brotavam dos olhos de Mosteller e ele imaginava se sua proximidade com o presidente tinha influenciado a visão de Obama de alguma pequena maneira.

“Quando eu era jovem nem imaginava que teria um parceiro para a vida e agora estava com o presidente dos Estados Unidos e, juntos, falávamos sobre esse tipo de relação e isso não era apenas público, mas muito normal”, lembra Mosteller. “Com que frequência um chefe fala sobre amor? Com que frequência, então, um chefe contribui para que nosso país abençoe seu amor?”

Uma lição sobre resiliência

Refletindo agora a respeito das duas campanhas de Obama, de sua presidência e de todas as pessoas que passaram pelo Salão Oval, Mosteller diz que uma das coisas que aprendeu é quão resilientes as pessoas são. Ele tem testemunhado o presidente Obama atravessar os diversos momentos de tensão de sua presidência, conforme atravessa os do seu próprio trabalho, auxiliando-o. Ele tem assistido conforme o povo americano tem suportado dificuldades econômicas e de outros tipos.

Essa lição a respeito da resiliência o acompanhará por muito tempo depois que sua experiência na Casa Branca acabar.

“Uma pessoa consegue lidar com tudo”, diz ele. “Essa pessoa pode ser o presidente dos Estados Unidos, um motorista de ônibus, uma mãe de quatro filhos desempregada, um jovem voluntário, uma criança com deficiência ou mim mesmo. Na maior parte, o que nos atrapalha está dentro de nós. No restante – é aí que a comunidade e, em alguns casos, o governo pode entrar em cena para auxiliar.”

De posse dessa perspectiva mais ampla, poucas coisas podem perturbá-lo agora, diz Mosteller. Seu trabalho no alto escalão mostrou-lhe que as pessoas podem superar os desafios da vida e se tornarem melhores ao final.

“De certa maneira, esse sentimento faz o mundo parecer menor porque não há lugar, pessoa, projeto ou aventura que seja desafiadora demais”, diz ele.

Nove anos atrás, ele seguiu esse instinto. O que vem a seguir é desconhecido, e ele está tranquilo, até mesmo entusiasmado, a respeito disso.

Mas por enquanto ainda restam dez meses. E Obama precisa dele.

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