• Carregando...

      Dois conflitos envolvendo o mar chileno e o acesso ao Oceano Pacífico ressurgem das páginas da história para entravar ainda mais a integração sul-americana. O primeiro embate é uma questão de honra do governo boliviano, inscrita na Constituição do país: recuperar a saída para o mar, perdida na Guerra do Pacífico (leia abaixo). Enquanto não desiste da via diplomática, Evo Morales tenta negociar sua praia numa agenda bilateral de 13 pontos.

      O segundo embate é um pleito peruano levado em janeiro de 2008 à Corte Internacional de Justiça de Haia: ampliar o mar territorial na fronteira com o Chile. Desde a década de 70 do século passado, o Peru pede negociações bilaterais para definir os limites marítimos, alegando que eles nunca foram objeto de um Tratado específico. Para o Chile, o "Convenio sobre Zona Especial Fronteriza Marítima", firmado em 1954 entre delegados de Chile, Peru e Equador tem a mesma natureza de um Tratado Internacional, e nega-se a discutir.

      Na prática, os cerca de 70 mil km2 a mais de mar, equivalente a um terço da área do Paraná, aumentariam não apenas a oferta de atum e merluza na mesa dos peruanos, mas também a produção de farinha de pescado, exportada para vários países.

      É fácil de entender que os dois conflitos representem uma "pedra no sapato" na região, como define o professor de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Antônio Carlos Peixoto. "É muito difícil imaginar a normalização completa das relações dos três países enquanto houver essas discussões", diz.

      Ambas questões ampliam a polarização latina. Não por acaso, Hugo Chávez entrou na briga clamando seu desejo de "tomar um banho em mar boliviano".

      Mas o pleito da Bolívia é considerado por analistas como impossível – motivo pelo qual o país tomou a via das declarações públicas e não da Justiça Internacional. "É como se a Bolívia quisesse o Acre de volta, depois de vendê-lo ao Brasil", diz o professor chileno Fernando de la Cuadra, doutorando na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

      Apesar disso, o Chile ofereceu em 2007 a opção de um corredor em seu território para uso boliviano, com acesso ao porto de Arica. A proposta foi barrada pelo Peru, que ainda se considera soberano sobre a região, perdida na Guerra do Pacífico para o Chile.

      Por complicadas que sejam, as questões são consideradas fundamentais para a normalização das relações sul-americanas. "Elas atrapalham a integração regional e têm de ser resolvidas já", diz o professor do Centro Universitário UniEuro Carlos Santander, que é peruano. "É o pior imbróglio que existe na América Latina", opina Peixoto.

      * * * * * * * *

      Interatividade

      O Chile deveria rediscutir suas fronteiras marítimas em prol da integraçãoregional?

      Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br ou comente abaixo.

      0 COMENTÁRIO(S)
      Deixe sua opinião
      Use este espaço apenas para a comunicação de erros

      Máximo de 700 caracteres [0]