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Dispostos organizadamente no chão de um escritório vazio de Londres, em duas fileiras que apontam para o Pólo Norte, pacotes de suprimento energético em quantidade suficiente para sustentar uma pessoa durante 60 dias esperam por Rosie Stancer.

Cada um contém algo entre 5.000 e 6.000 calorias em várias formas, entre as quais um doce de chocolate e leite vindo das terras do príncipe Charles em Highgrove.

Esse arsenal energético deve ser suficiente para sustentar a britânica de 47 anos de idade e estatura diminuta em sua jornada através do gelo, da terra e da água para se tornar a primeira mulher a percorrer sozinha os dois pólos do planeta.

O espírito de aventura corre nas veias da família de Stancer. O avô da britânica, o conde Granville, deveria ter participado da malsucedida expedição do capitão Scott à Antártida entre 1910 e 1912. Mas, pouco antes de o grupo partir, ele recebeu um telegrama afirmando que seria alto demais para caber nas barracas e que exigiria uma quantidade grande demais de ração.

O avô do marido dela participou da expedição de Ernest Shackleton pela Antártida, entre 1914 e 1917.

O desafio a ser enfrentado por Stancer em termos físicos é quase inimaginável. Ao contrário da Antártida, uma massa de terra congelada, o Ártico é um mar congelado. Onde o gelo se quebra, apesar das temperaturas de 40 graus Celsius negativos, Stancer pretende nadar usando uma roupa amarela de proteção que parece pouco adequada à tarefa.

À noite, ela deve derreter neve e gelo para adicionar a seus alimentos desidratados. Há, ainda, a ameaça dos ursos polares, surpreendidos pela inesperada invasora de seu deserto hábitat.

JORNADAS INCRÍVEIS

A incrível jornada de Stancer começou em 1997, quando ela participou da primeira equipe formada unicamente por mulheres a percorrer o Pólo Sul. Em 2003-2004, ela caminhou sozinha os 1.296 quilômetros até o Pólo Sul, em apenas 44 dias.

Para a aventura de agora, Stancer treina há 18 meses, e grande parte dessa preparação consiste em arrastar pneus, imitando a situação que deve enfrentar ao puxar os trenós através do gelo e da neve.

``Não se trata mais de uma exploração geográfica porque sabemos o que existe a 90 graus norte'', afirmou à Reuters, pouco antes de voar até o Canadá, onde realizará uma última etapa de treinamento para então, no começo de março, dar início à expedição.

``Trata-se antes de explorar a si mesma, algo que fazemos ao cruzar as linhas fronteiriças fixadas normalmente por nós mesmos, linhas essas que pretendo deixar muito, muito para trás.''

``Nessa situação, fica-se muito perto da natureza, ou de Deus. As camadas de sujeira e materialismo que acumulamos ao redor de nós mesmos em nosso dia-a-dia caem pouco a pouco'', disse.

Psicologicamente, as demandas podem ser maiores do que o estresse físico. Segundo Stancer, o explorador atirado nessas situações já acorda exausto para encontrar sua barraca cheia de gelo do lado de dentro. E, devido às correntes que mudam o tempo todo, pode-se estar mais distante do destino almejado do que 24 horas antes.

``A motivação necessária para sair do saco de dormir e encarar o frio dentro da barraca, eu não posso imaginar. Eu simplesmente ligo o piloto automático e continuo em frente.''

E as compensações? Elas surgem todas as noites quando ela se prepara para misturar um pacote de comida com o gelo derretido.

``O som do fogão acendendo, ele acende e depois queima, isso para mim é tão bom quanto o som de uma rolha saindo de uma garrafa de champanhe.''

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