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Barbara House apoia a saída do Reino Unido da União Europeia e exibe cartaz pró-Brexit na janela de sua casa, em Headington | ADRIAN DENNIS/AFP
Barbara House apoia a saída do Reino Unido da União Europeia e exibe cartaz pró-Brexit na janela de sua casa, em Headington| Foto: ADRIAN DENNIS/AFP

Os britânicos começaram a votar nesta quinta-feira (23) no referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia (UE), votação que pode mudar o país e o continente, além de abalar os mercados financeiros.

As últimas pesquisas apontam uma leve vantagem dos partidários da saída do bloco, com um número importante de indecisos que superava 10%.

Após dois meses de uma campanha dura e tensa, que teve como momento mais dramático o assassinato da deputada trabalhista e pró-UE Jo Cox, 46,5 milhões de eleitores devem responder a seguinte pergunta: “O Reino Unido deve permanecer como membro da União Europeia ou abandonar a União Europeia?”.

Os locais de votação abriram as portas às 7h (3h de Brasília) e o referendo prosseguirá até 22h (18h de Brasília).

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, que convocou o referendo e joga seu futuro político na consulta, votou no centro de Londres.

A capital britânica amanheceu sob chuva e com problemas nos transportes públicos, enquanto em outras cidades, como a escocesa Glasgow, o dia estava ensolarado. A meteorologia pode ter um papel importante no nível de participação, um dado que, segundo todos os indícios, deve influenciar o resultado.

“A campanha do referendo foi penosa, confusa, os dados não são claros. Todos mentiram, na minha opinião”, afirmou à AFP em Londres uma eleitora que se identificou apenas como May.

Os debates acalorados revelaram uma profunda brecha na população britânica, entre os que se beneficiam da livre circulação de mercadorias e capitais e os que consideram que o Reino Unido deve recuperar sua soberania, principalmente por causa da imigração.

Os partidários da permanência afirmam que depois de 40 anos dentro do mercado único europeu, sair seria muito caro e traumático. Os defensores do abandono ao projeto europeu, opção conhecida como Brexit, consideram que esta é uma oportunidade única, que também poderia estabelecer precedentes.

“Seria um desastre para a economia a saída. Quero que exista o máximo de cooperação internacional, trabalho para uma empresa com representações em toda Europa”, declarou à AFP Peter Davies, de 55 anos, em Londres.

“Vou votar pela saída”, afirmou Joan, que se recusou a revelar o sobrenome.

“O principal problema é a imigração sem controle. Seremos os primeiros a sair, mas acredito que outros países europeus nos seguirão”, completou.

Abalos sísmicos

“Há grandes possibilidades de que a participação seja comparável a das eleições gerais, que foi 66%. Não será uma participação como a do referendo escocês (85%), mas será razoavelmente alta. Isto significa uma vantagem para os partidários da permanência”, disse à AFP Paul Whiteley, professor de Política na Universidade de Essex.

A saída britânica da UE provocaria abalos sísmicos, que os analistas não se arriscam a prever.

Os mercados europeus, que apoiam a permanência na UE, abriram em leve alta nesta quinta-feira. A libra também operava em alta em relação ao dólar.

O Brexit estimularia as demandas dos independentistas escoceses e dos republicanos da Irlanda do Norte. Também deixaria em território desconhecido milhões de imigrantes europeus no Reino Unido e de britânicos na UE.

Para os que defendem a saída, no entanto, a ruptura com Bruxelas permitiria ao Reino Unido avançar, voltar a seu âmbito natural, o mundo anglo-saxão, frear a imigração e, usando o mantra da campanha, “recuperar o controle do país”.

Resultados na sexta-feira

O lado vencedor do referendo deve ser conhecido na madrugada de sexta-feira (24), dificilmente antes das 4h (0h de Brasília).

Cada um dos 382 centros de votação espalhados pelo país deve anunciar os resultados à medida que concluir a apuração. Os últimos devem ser revelados às 7h (3h de Brasília), mas a expectativa é que, um pouco antes, os votos de uma das opções já tenham superado 50%.

A primeira grande onda de resultados deve ser divulgada por volta das 2h de sexta-feira em Londres (22h de quinta-feira em Brasília).

O resultado nacional total e definitivo será anunciado na prefeitura de Manchester.

Uma saída que não teria precedente

Nunca um grande país abandonou a UE desde o nascimento do projeto europeu nos anos 1950, quando as nações ainda conviviam com os escombros da Segunda Guerra Mundial e metade do continente era governado por ditaduras. Atualmente, a UE engloba a 28 países democráticos.

O Reino Unido entrou para o bloco em 1973 e dois anos depois organizou um referendo para calar os eurocéticos, com vitória da permanência. A votação desta quinta-feira dificilmente encerrará o debate.

“Estamos em território desconhecido”, afirmou Chris Bickerton, professor da Universidade de Cambridge e autor de “The European Union: A Citizen’s Guide”. “A saída seria um golpe muito duro para UE. Há muito tempo a moral não estava tão baixa em Bruxelas”, completou.

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