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Em cima, uma mulher agita seu cabelo. Em baixo, o computador recria o movimento | Reprodução - G1
Em cima, uma mulher agita seu cabelo. Em baixo, o computador recria o movimento| Foto: Reprodução - G1

Curitiba – na tentativa de recuperar o tempo perdido na América Latina, George W. Bush busca um milagre à JK: seis anos em seis dias. A viagem de quase uma semana pela região, iniciada na quinta-feira, procura pôr em execução uma promessa antiga de Bush – feita em 2000, durante a campanha presidencial–, de aproximar os Estados Unidos dos vizinhos do sul. Em 2001, após os ataques de 11 de setembro, o plano foi abandonado e a política externa ianque se fixou no Oriente Médio e na guerra contra o terrorismo. Agora, seis anos depois, a América parece querer se reconectar com sua porção latina.

Interesses não faltam. Economicamente, Bush prometeu ao povo norte-americano "independência energética". O tema da energia limpa pautou o encontro no Brasil. Enquanto não surge outra tecnologia de combustível atraente, o etanol (especialmente o brasileiro, de cana de açúcar, mais produtivo) desponta como grande opção ao petróleo. Para os americanos, o uso do álcool como combustível mataria dois coelhos numa só cajadada: o de meio ambiente, ainda mais agora, com o hype do aquecimento global, e o de independência dos governos autoritários – qualidade essa quase sempre inerente aos países produtores de petróleo.

Estivesse apenas interessado num acordo comercial com o Brasil, porém, Bush não precisaria dessa viagem. Antes de agendar seu tour pela América Latina, o presidente Lula já havia confirmado presença em Camp David, a residência de campo de Bush, para o fim deste mês – essa será a primeira vez que um presidente latino americano ficará hospedado em Camp David desde 1991. Há, portanto, obviamente, um interesse político em sua passagem por aqui.

"Quando um presidente da América do Sul vai para os EUA, há pouca ou nenhuma repercussão lá. Quando o presidente dos EUA vem pra cá, saem notícias em todos os jornais americanos. Dando repercussão interna, Bush mostra ao público uma nova preocupação com a América Latina. Ele estava sendo criticado por ter esquecido da região, que teve um aumento da pobreza e uma guinada dos governos para a esquerda", afirma o professor da Universidade Federal de Mato Grosso e PhD em História da América Latina pela Tulane University, nos EUA, Alfredo da Mota Menezes.

Para especialistas, a segunda parte da viagem, depois do Brasil, é uma tentativa de anular a influência de Hugo Chávez – e seus petrodólares – na região. Enquanto Bush visita Montevidéu, flertando com um acordo de livre comércio com o Uruguai, Chávez esbraveja seu discurso antiimperialista não muito longe dali, em Buenos Aires, ao lado de Néstor Kirchner. O presidente argentino foi um dos beneficiados pela generosidade de Chávez na região. A Venezuela comprou mais de US$ 3 bilhões em títulos da dívida argentina desde 2005. Estima-se que outros US$ 3 bilhões já tenham sido gastos por Chávez em programas de cooperação em outros países da América Latina, como Bolívia e Cuba. Nos EUA, segundo o orçamento de 2008 do Departamento de Estado, o total destinado para os países da América Latina seria de US$ 1,5 bilhão.

Para o doutor em integração econômica pela USP e professor do Centro Universitário Positivo, Hugo Eduardo Meza Pinto, esse é o momento de os países da região aproveitarem a chance de fazer negócios com um país rico e deixarem de lado as negociações ideológicas, em bloco. "A economia chilena, por exemplo, vê um crescimento notável, a partir da perspectiva que o mercado internacional requer compradores que tenham renda e a necessidade de acordos bilaterais com o resto do mundo. Esses acordos regionais entre economias deficitárias não trazem perspectiva, não adianta compartilhar pobreza", diz.

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