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O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, deixou Washington nesta segunda-feira (5) para fazer uma viagem pela Europa. A primeira escala, ainda antes de ele ir à Alemanha para a reunião do G8, será na República Tcheca. O objetivo é deixar clara sua determinação de instalar um componente do sistema de Defesa Nacional contra Mísseis no Leste Europeu -projeto polêmico que já provocou duras reações opostas, como a da Rússia.

O chefe da Casa Branca, que chega a Praga ainda nesta noite, retomou o sonho do velho projeto "Guerra nas Estrelas" do ex-presidente e também republicano Ronald Reagan e apostou em um sistema que derrubará mísseis que tiverem como alvo qualquer território americano.

O mecanismo conta com interceptores e radares no litoral Oeste dos EUA, voltado a qualquer tentativa hostil da Coréia do Norte. Porém, para neutralizar foguetes iranianos, Washington precisa de outra barreira na Europa, de acordo com o governo americano.

Neste ponto é onde entram a República Tcheca, país no qual os EUA pretendem instalar um radar, e a Polônia, onde Washington cavará fossos subterrâneos para colocar dez interceptores, e que não por acaso será outra das escalas de Bush em sua viagem de oito dias pela Europa.

A visita de Bush é uma forma de indicar que os EUA apóiam os dois países frente à pressão de uma Rússia que ainda acredita que o Leste Europeu permanece sob sua esfera, disseram especialistas entrevistados pela agência de notícias EFE. O presidente russo, Vladimir Putin, é um dos maiores opositores ao escudo militar de Bush.

Na República Tcheca, o governo do país reiterará a Bush seu apoio à idéia, apesar de enfrentar a rejeição de 61% dos tchecos, frente a apenas 30% que apóiam o projeto, segundo uma pesquisa recente da empresa Factum Invenio.

O movimento "Não às Bases" previa fazer um protesto hoje em frente ao Ministério de Exteriores, após as autoridades terem proibido os manifestantes de se aproximar do Castelo de Praga, onde Bush ficará a maior parte de terça-feira. Além disso, um grupo comunista fará uma manifestação com cartazes na frente da embaixada americana.

Na terça-feira, haverá outro protesto nas imediações da região militar de Jince, cerca de 70 quilômetros ao sudoeste de Praga, onde até 2012 o radar deve estar funcionando, caso os planos dos EUA sejam mantidos.

Espera-se a participação de habitantes das cidades vizinhas da região, que também votaram contra o projeto em referendos recentes, que, no entanto, não são vinculativos.

Mesmo assim, não estão previstos grandes protestos, pois o anti-americanismo não é um movimento tão forte na Europa quanto em outras regiões do mundo.

Pós Guerra Fria

Após quatro décadas no lado soviético da Guerra Fria, muitos tchecos vêem em Washington uma forma de escapar da sombra russa e integrar-se à esfera dos governos ocidentais.

Bush encontrará uma oposição maior a seus planos -tanto militares como sobre o aquecimento global- na Alemanha, para onde viajará amanhã à noite para participar da cúpula do G8, grupo dos sete países mais ricos do mundo e a Rússia.

No sábado, milhares de pessoas fizeram um protesto na localidade alemã de Rostock, quando cerca de 1.000 ficaram feridas em confrontos com a polícia.

Bush ficará longe dos protestos, protegido em um hotel de luxo em Heiligendamm, mas pode ser que não sinta um ambiente muito receptivo dentro do perímetro de segurança ao redor deste balneário báltico, onde ocorrerão as reuniões do G8.

Na quinta-feira, o chefe da Casa Branca encontrará o presidente russo, Vladimir Putin, que é contrário ao plano militar americano.

Putin, nascido na antiga Leningrado, deu hoje em Moscou declarações dignas do tempo em que era agente da KGB (agência secreta soviética), ao sugerir que apontará os mísseis russos em direção à Europa caso os EUA não desistam do plano.

"Em caso da instalação de um escudo antimíssel na Europa, hoje o advertimos, haverá resposta. Precisamos garantir nossa segurança", disse Putin. A Casa Branca insiste em que o escudo tem como objetivo anular a ameaça do Irã e de países semelhantes.

Até agora, o argumento para a construção do escudo não foi recebido com grande entusiasmo por outros países europeus. Isso porque o sistema protegeria uma parte do continente, mas deixaria de fora Espanha e Portugal, por exemplo.

A chanceler alemã, Angela Merkel, disse que o sistema deveria se integrar na estrutura da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em vez de funcionar com base em acordos bilaterais de Washington com Praga e Varsóvia.

Estas divergências, junto com os desacordos sobre o que fazer para deter a mudança climática, indicam que Bush precisará se esforçar na viagem que começa hoje, que será uma das mais difíceis de seu mandato.

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