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Em mensagem eletrônica a doadores e simpatizantes há três semanas, John Podesta, chefe da campanha de Hillary Clinton, avisou: para chegar à Casa Branca em 2016, os interessados terão que montar uma operação de pelo menos US$ 2 bilhões. A prova de obstáculos começa em janeiro, com o início das primárias estaduais que definem nas urnas os indicados dos partidos Democrata e Republicano. Para assegurar a candidatura, os postulantes à Presidência dos EUA vão gastar entre US$ 40 milhões e US$ 120 milhões. Por isso, nesta etapa da corrida presidencial, mais do que atrair eleitores, a principal missão é conquistar um patrocinador para chamar de seu, apelidado de sugar daddy.

Os valores incluem doações diretas, que não passam de US$ 5 mil, e, sobretudo, aporte na rede de comitês de ação política (PACs), para os quais as contribuições são ilimitadas. Os pré-candidatos estão há meses, muitos há mais de um ano, cortejando os mais engajados milionários e bilionários, conhecidos pela disposição de influenciar a escolha do comandante-em-chefe com cheques de até oito dígitos. A disputa é acirrada.

Só no campo republicano, já são seis postulantes e outros dois nomes estão próximos de serem anunciados. Cada um passa o pires nos mesmos doadores.

É quase uma primária antes das primárias. Ao entrar na competição, é como o atleta que corre uma maratona, não pode perder fôlego. Como as campanhas ficaram caríssimas, ter um sugar daddy é a diferença entre ser um candidato sério ou apenas um nome na cédula, explica o cientista político Clyde Wilcox, da Universidade de Georgetown.

Foi com esta fórmula que os republicanos Newt Gingrich e Rick Santorum se mantiveram por meses na corrida contra Mitt Romney em 2012. Seus padrinhos foram, respectivamente, o magnata dos cassinos Sheldon Adelson, que investiu US$ 15 milhões, e o titã do mercado financeiro Foster Friess, que desembolsou mais de US$ 2 milhões.

Favorito dos Republicanos

Não espanta, portanto, que Adelson, maior doador individual da campanha de 2012 com US$ 100 milhões ao todo, seja um dos mais disputados patrocinadores, tendo sido visitado por todos os postulantes republicanos. Ele ainda não declarou apoio, mas sua inclinação é pelo senador Marco Rubio, que retribui a predileção. A cada 15 dias, liga para Adelson para atualizá-lo sobre posições políticas e o andamento da campanha.

Eleito pela Flórida, filho de um bartender e de uma arrumadeira cubanos, aos 44 anos Rubio oferece uma nova cara aos republicanos e desponta como um dos pré-candidatos de maior apelo. Já garantiu a fidelidade do ricaço do setor automotivo Norman Braman, disposto a desembolsar até US$ 25 milhões, e estaria perto de conquistar o apoio de Annette Simmons, viúva de um investidor do Texas que injetou US$ 26 milhões no ciclo de 2012.

O senador Ted Cruz, do Texas, também conseguiu padrinhos de peso. Seu patrocinador principal é o investidor Robert Mercer, que anunciou US$ 15 milhões para o favorito do Tea Party. O dono da franquia de futebol americano Houston Texas, Robert McNair, e o investidor bilionário John W. Childs, que gastaram mais de US$ 3 milhões cada em 2012, estão no seu time. O senador Rand Paul, de Kentucky, herdará do pai, o líder libertário Ron Paul, o aporte do fundador do PayPal, Peter Thiel, que investiu US$ 2,5 milhões há quatro anos.

Liderando as pesquisas na primária inaugural, em Iowa, o governador do Wisconsin, Scott Walker, é outro que trabalha freneticamente. Ele está próximo de assegurar a mais desejada dupla de sugar daddies da política americana: os irmãos David e Charles Koch, da indústria petroquímica. Os irmãos prometeram articular a arrecadação de US$ 900 milhões para os republicanos em 2016 - o dobro de 2012.

Na lista dos maiores e mais ativos doadores americanos, Wall Street tem destaque. Historicamente bipartidária, financiadora dos Clinton, deu uma guinada à direita desde 2010. Foi o custo da regulação mais rígida capitaneada pelo presidente Barack Obama. Em 2012, doou quase US$ 100 milhões aos presidenciáveis, 70% dos quais para os republicanos. Jeb Bush, Walker e Rubio dividem as preferências dos banqueiros, mas Hillary Clinton ainda tem fieis escudeiros.

Já Hollywood é progressista e terreno de Hillary, que conta com nomes como Steven Spielberg e Jeffrey Katzenberg, que doam mais de US$ 1 milhão. Para se ter uma ideia do poder da indústria do entretenimento, um jantar de arrecadação para Obama na casa de George Clooney, em 2012, levantou US$ 15 milhões.

Hillary, porém, não precisa de sugar daddy. Tampouco o ex-governador da Flórida Jeb Bush. As duas famílias têm uma rede de doadores fieis, diversificada e estruturada por anos de atividade política. Hillary e Bush planejam primárias de pelo menos US$ 100 milhões. E apostam nos bundlers - doadores com influência para convencer outros ricaços.

Hillary tem vantagem adicional, pois concorre quase sozinha. A Democracy Alliance, que reúne os ricaços democratas, está praticamente fechada com ela. Um dos principais nomes do grupo é o megainvestidor George Soros, que, em 12 anos, investiu quase US$ 45 milhões em campanhas eleitorais.

Todo mundo queria uma rede de super doadores como a deles. Porque não fica devendo muito a alguém e tem um grupo trabalhando por você. O suggar daddy faz diferença, mas não substitui a política. Afinal, não temos um presidente Gingrich ou Santorum. Porque tudo que eles conseguiram fazer bem foi arranjar um bilionário para chamar de seu, afirma Wilcox.

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